Por G1
A vereadora de Porto Alegre Daiana Santos (PCdoB) voltou a receber ameaça de morte por e-mail nesta segunda-feira (17). Em vídeo publicado nesta quinta (20) em suas redes sociais, a parlamentar afirmou que a mensagem tem conteúdo racista e lesbofóbico, com tom mais agressivo do que os ataques anteriores.
“Tem sido mais constante e com conteúdo cada vez mais intimidador. O tom é mais violento do que nas outras vezes. Por que o ódio a esses cinco corpos negros que ocupam um lugar na Câmara (se refere aos membros da bancada negra)? São negros, mulheres e membros da comunidade LGBTQIAP+, isso tem que ficar muito objetivo. Nós somos minorias e estamos representados aqui de forma legítima”, afirma a vereadora.
A presidência da Câmara Municipal afirma trabalhar em medidas para garantir a segurança dos parlamentares
A vereadora relata ainda que precisou mudar sua rotina por conta dos ataques, que já foram denunciados à Polícia Civil.
“Não estou mais dormindo na minha casa, tive que alterar minha rotina, mudar uma série de coisas no meu dia-a-dia, até por segurança da minha família. Tenho certeza que esses ataques se devem à minha atuação”, diz.
Ataques são investigados pela polícia
Desde o início dessa legislatura, em que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre viu crescer de cinco para 11 o número de mulheres e de um para cinco o número de vereadores negros, os ataques a esses grupos se intensificaram: em dezembro, quatro vereadores da bancada negra – inclusive Daiana – registraram boletim de ocorrência após ameaças de morte. O vereador Matheus Gomes (PSOL), também da bancada negra, afirma ter recebido pelo menos sete ataques desde o início do mandato.
No domingo (16), o Fantástico mostrou que grupos neonazistas cresceram 270% no Brasil em 3 anos, com forte presença no RS. Estudiosos temem que presença online transborde para ataques físicos. Um estudo mostra que existem pelo menos 530 núcleos extremistas, um universo que pode chegar a 10 mil pessoas, que costumam disseminar ódio a mulheres, negros, judeus, membros da comunidade LGBTQIAP+, nordestinos e imigrantes.
O conteúdo do e-mail recebido pela vereadora já está sob posse da delegada Andrea Mattos, da Delegacia de Combate à Intolerância. De acordo com a vereadora, o e-mail é assinado por um codinome usado regularmente por grupos da internet que cometem ataques a minorias. Segundo a delegada, o caso já está sendo investigado, com o objetivo de identificar o responsável pelos ataques.
“Não estamos medindo esforços, e diversas medidas já foram tomadas. Algumas dependem de cooperação internacional”, diz Andrea Mattos.
Câmara de Vereadores promete mudanças
Ainda que a Câmara de Vereadores esteja de recesso até 1º de fevereiro, o novo presidente da Casa, Idenir Cecchim (MDB) garantiu que já deu início a um processo de mobilização que deve gerar mudanças nos processos de segurança da Câmara. Além disso, Cecchim afirma que marcou uma reunião com Nadine Anflor, chefe da Polícia Civil do RS, para discutir o combate aos ataques.
“A Câmara demonstra total apoio institucional aos vereadores e contra os ataques e vai trabalhar para denunciá-los. Precisamos levar a sério todas as ameaças. Marquei uma reunião com a Polícia Civil para discutir esse assunto na semana que vem”, garante Cecchim, que tomou posse no início do ano.
O vereador afirma que haverá maior controle na identificação das pessoas que entram no plenário, diz que já solicitou a instalação de uma proteção de vidro entre os parlamentares e a galeria, onde ficam os vereadores, e deslocou um agente de segurança, que ficava no corredor do gabinete da presidência, para o corredor onde ficam os gabinetes da bancada negra.
Para a vereadora, o apoio institucional é um ponto de partida importante para o combate estrutural aos ataques:
“Não nos sentimos seguros para transitar no espaço interno da Câmara de Vereadores, imagina em ações na rua. Isso é também uma responsabilidade da Casa, pois são ataques a parlamentares. O prefeito Sebastião Melo, por exemplo, não se mobilizou nem se manifestou sobre nenhuma das nossas denúncias, e acho que isso tem uma representatividade grande”, diz Daiana.