Aliados comemoram, mas avaliam que ato não atinge eleitorado que presidente precisa conquistar
Mesmo “feliz e orgulhoso”, Bolsonaro não tem tanto a comemorar assim quanto ao indulto concedido ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ). Segundo integrantes da campanha eleitoral do presidente, os ganhos no embate contra o STF são pequenos.
Os integrantes avaliam o indulto como a primeira grande vitória de Bolsonaro no embate contra a corte, porém o movimento somente agradou a sua base eleitoral, que já era fiel e que criticam ferozmente o Supremo, tendo o ministro Alexandre de Moraes como principal alvo.
As pesquisas eleitorais mais recentes mostram que Bolsonaro teve apenas um leve ganho de eleitores, mas ainda encontra-se atrás de Lula: 43% contra e 26% a favor.
A campanha do presidente tenta angariar votos lucrando politicamente do Auxílio Brasil, porém, apesar do aumento em relação ao Bolsa Família, esse eleitorado ainda se mostra fiel ao petista.
Um levantamento feito nas redes sociais por aliados de Bolsonaro mostra que houve divisão do eleitorado em torno do decreto. Segundo relatos, a medida foi amplamente comemorada por bolsonaristas mais fiéis, mas fora desse grupo houve divisão na análise da medida.
Ao defender a medida do presidente, aliados comparam a dosimetria da pena com a de casos de homicídio ou corrupção. Esta tem sido a principal narrativa do bolsonarismo para lucrar politicamente com a medida, uma vez que até mesmo aliados do presidente admitem que Silveira não é um exemplo de mártir.
Com o movimento de Bolsonaro, os ministros da corte ficaram encurralados.
O que está em discussão, entre os ministros, é não fazer mais cabo de guerra em torno da prisão do deputado e aceitar o decreto, mas insistindo na inelegibilidade, efeito secundário da pena. A cassação do mandato caberia à Câmara dos Deputados.
Um ministro do STF fala em necessidade de entendimento com o Parlamento e com o Executivo. Segundo pessoas próximas a Alexandre de Moraes, o ministro está contrariado não apenas com o indulto concedido pelo presidente, mas com as reações posteriores de Bolsonaro.
A leitura de parte do Supremo é a de que os dez votos pela condenação de Silveira agiram mais em defesa da instituição, mas, reservadamente, muitos admitem que a pena de quase 9 anos teria sido excessiva.
Há mesmo ministros que dizem acreditar que, se não tivesse sido tão dura a condenação, talvez Bolsonaro não tivesse tido condições políticas de agir como agiu.
Nesta quinta-feira (28), Bolsonaro voltou a comemorar o indulto individual dado ao aliado.
“Isso que eu fiz não é apenas para aquele deputado, é para todos vocês. A nossa liberdade não pode continuar sendo ameaçada. Me senti orgulhoso e feliz comigo mesmo com a decisão tomada”, disse em discurso em Paragominas (PA), onde esteve para evento de entrega de títulos de terra em programa de regularização fundiária.
O Palácio do Planalto realizou um ato, na tarde de quarta-feira (28), “em defesa da liberdade de expressão”. Mas, na prática, houve uma cerimônia para atacar a corte, questionar a legitimidade do sistema eleitoral e exaltar Bolsonaro e Silveira.
O deputado foi tietado pelos presentes, ao circular com o indulto de Bolsonaro emoldurado. O evento foi chamado pelas bancadas da bala e evangélica, duas das maiores do Congresso.