Centro-Oeste e Sudeste devem reviver invernos rigorosos das décadas de 1960 a 1980, projetam especialistas
Folha de São Paulo – O frio intenso chegará antes do inverno à metade dos estados brasileiros, já nos próximos dias. A previsão da segunda quinzena de maio para estados do Centro-Oeste e do Sudeste é de temperaturas abaixo dos 10°C.
Estados como Mato Grosso e Goiás devem ter geada, o que traz risco de danos às safras de milho e café, por exemplo. Também deve gear em estados do Sul e do Sudeste.
A massa de ar polar que atingirá o país já neste sábado (14) trará temperaturas próximas ou abaixo de zero em diversas cidades do país, algo atípico para parte do Brasil em um mês de maio.
As ondas de frio de março e abril, bem como essa prevista para a próxima semana, são um indicativo de que as futuras ondas devem também ser fortes, destaca Franco Nadal Villela, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Vilella explica que as temperaturas se assemelham àquelas dos invernos rigorosos entre os anos 1960 e 1980.
No estado de São Paulo, as menores mínimas devem aparecer a partir da próxima quarta (18), podendo chegar a ficar abaixo de zero em cidades como Rancharia, no sudoeste paulista, e Campos do Jordão, na Serra da Mantiqueira. Já na capital paulista, as mínimas ficam entre 7°C e 9°C, segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo). Choverá na capital já na noite de sábado, e a precipitação seguirá madrugada de domingo (15) adentro.
Adilson Nazario, técnico em meteorologia do CGE, afirma que a cidade de São Paulo “com certeza terá seu recorde de temperatura mínima do ano”. Até o momento, a temperatura mais baixa registrada na cidade em 2022 foi de 12,4°C, no dia 5 de maio, quando a máxima que não passou de 18,5°C.
Uma situação similar deve se repetir na próxima semana para os paulistanos, diz Nazario. As máximas não devem ultrapassar os 19°C nas datas mais frias.
Em Minas Gerais deve gear nas regiões sul, oeste e central. Há chance de geada inclusive na capital, Belo Horizonte, onde as mínimas devem ficar entre 6°C e 9°C.
Os estados que devem trazer as menores mínimas são Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
No Centro-Oeste, o frio chegará com força na terça (17), trazendo madrugadas geladas. De acordo com o serviço de meteorologia Metsul, Mato Grosso do Sul deve sentir com mais intensidade a temperatura gélida.
Para a capital, Campo Grande, estão previstas mínimas de 7°C a 8°C entre a quarta (18) e sábado (21). Para o interior do estado, espera-se mínima de 5°C acompanhada de geada.
Em Brasília, a mínima ficará entre 8°C e 10°C a partir do dia 19 de maio.
De acordo com Villela, a persistência do fenômeno La Niña, que causa o resfriamento das águas do oceano Pacífico, facilita a entrada de massas de ar frio no continente e faz com que as frentes frias que chegam ao país avancem mais em direção ao Norte. “O frio deve chegar às altitudes amazônicas, provocando friagem”, diz.
Além disso, a intensidade do frio se deve, em parte, às baixas temperaturas registradas no leste da península antártica, que ficaram muito abaixo do comum para o mês de maio. O frio intenso nessa região chega ao continente americano por meio de ondas de ar polar que atravessam o sul atlântico.
No Sul do Brasil, apesar de baixas, as temperaturas estão dentro do esperado para o inverno que chega mais cedo neste ano. “Os estados do Sul terão geada em diversas cidades e mínimas muito baixas, com marcas negativas, mas que, no geral, não devem fugir ao que várias vezes já ocorreu no final de maio e durante o inverno na região”, diz a Metsul, em nota.
Apesar da intensidade, o frio também não será inédito, ressaltam os especialistas. De acordo com a Metsul, no fim de maio de 1979, por exemplo, um ciclone próximo ao Rio Grande do Sul empurrou uma massa de ar frio pela América do Sul, fazendo, inclusive, nevar durante o jogo entre Esportivo e Grêmio, em Bento Gonçalves —cidade gaúcha a cerca de 120 km de distância de Porto Alegre.
O meteorologista do Inmet explica ainda que, embora o inverno demonstre estar adiantado neste ano, isso não quer dizer que não possa haver ondas de calor durante a estação e, ainda, que o adiantamento de uma estação não provoca necessariamente a chegada antecipada das demais.
“Não existe essa correlação”, conclui.