A um mês da chegada do inverno, a vacinação está estagnada e a população começa a perder a imunidade adquirida. Ministra da Saúde garantiu que não haverá novos confinamentos.
G1 – O anúncio de uma nova onda da pandemia na Argentina é consequência do último relatório sobre a situação sanitária no país, divulgado neste domingo (15). O panorama descrito pelo Ministério da Saúde argentino apontou que os contágios duplicaram em apenas uma semana, triplicaram em duas semanas e quadruplicaram em um mês.
Nos sete dias prévios, houve 33.989 casos, 92,6% a mais do que os 17.646 de uma semana antes. Foram 182% a mais do que há duas semanas. Nas últimas quatro semanas, os contágios aumentaram 305,2%, passando de 8.387 aos atuais 33.989.
“Hoje estamos começando na Argentina a quarta onda de Covid-19 que nos chega numa situação totalmente diferente das anteriores”, indicou a ministra da Saúde, Carla Vizzotti, na abertura do Conselho Federal de Saúde que reuniu os ministros da Saúde das 24 províncias argentinas na cidade patagônica de Villa La Angostura.
A ministra sublinhou um “panorama em relação à vacinação que permite atravessar uma nova fase da pandemia”.
“Não há possibilidade de novos confinamentos”, garantiu Vizzotti, descartando a possibilidade de novos confinamentos como os praticados em 2020, quando a Argentina teve, durante 233 dias, a quarentena mais prolongada e estrita do mundo.
“Os casos vão aumentar. Por isso, precisamos avançar com a vacinação para que não se traduzam em hospitalizações nem mortes”, orientou a ministra Vizzotti.
Perda da imunidade adquirida
Devido à queda de casos durante o verão, a Argentina deixou de divulgar relatórios diários, adotando a modalidade semanal a partir de 17 de abril. No entanto, desde então, a curva de contágios aumentou à medida que a temperatura caiu, pouco mais de um mês antes do inverno.
A queda da temperatura aconteceu em paralelo a três fatores que os especialistas apontam como os principais para explicar a nova onda: a altamente contagiosa variante ômicron, o relaxamento nos cuidados de prevenção e a diminuição da imunidade adquirida, seja através dos contágios ou das vacinas.
“Durante o verão, a variante ômicron contagiou boa parte da população, trazendo uma imunidade temporária. Ao mesmo tempo, a vacinação avançou, reforçando a imunidade através de imunizantes. Agora, meses depois, essas duas proteções começam a perder eficácia. Daí a importância da terceira dose”, explica à RFI Roberto Debbag, presidente da Sociedade Latino-americana de Infectologia Pediátrica.
A campanha de vacinação, embora tenha atingido 88% da população com uma dose e 80% com o esquema completo, está há meses estagnada, sobretudo na dose de reforço com 47,6%.
“O principal motivo para o aumento dos casos é o lento ritmo de vacinação com a dose de reforço. Sabemos que apenas duas doses não é suficiente para a variante ômicron”, observa Eduardo López, infectologista do Hospital de Crianças de Buenos Aires e diretor de infectologia pediátrica da Faculdade de Medicina de Buenos Aires
Nova onda de casos leves
Apesar do aumento de contágios, o índice de ocupação de leitos nas UTI mantém-se estável em 41,2% e o número de mortes até diminuiu na última semana de 76 a 47, uma queda de 40%.
“Isso indica que estamos começando uma nova onda, mas numa nova onda de casos leves”, diferenciou o ministro da Saúde do país, Fernán Quirós.
“Não será como nas ondas anteriores em que os casos subiam, depois aumentavam as internações e dias depois os pacientes faleciam. Desta vez, será uma enorme maioria de casos leves graças à vacinação e à imunidade adquirida”, prevê Quirós.
O atual protocolo do ministério da Saúde argentino estabelece que os testes sejam feitos apenas em idosos e em grupos de risco. Por isso, os especialistas calculam que o aumento de 92,6% dos casos durante a última semana, apesar de elevado, seja subestimado.
Na capital argentina, onde rege outro protocolo de testes, aberto a todos os segmentos, o aumento de casos foi de 128% nos sete últimos dias.
Desde o começo da pandemia, a Argentina teve 9,135 milhões de contágios dos quais faleceram 128.776 num total de 47 milhões de habitantes. Em 87% dos novos casos, a variante ômicron, através da sublinhagem BA.2, é a dominante.