Escondida atrás do balcão de atendimento, Rogers ligou para polícia americana no telefone 911; policial atendeu e tratou a chamada com desdém
A gerente assistente de escritório da loja Tops Friendly Markets, em Buffalo, no estado de Nova York, já sobreviveu a um outro tiroteio em massa.
CNN – Quase 12 anos atrás, Latisha Rogers e seu irmão, Danyell Mackin, estavam no restaurante City Grill, em Buffalo, quando um homem abriu fogo, matando Mackin e outras três pessoas. Quatro pessoas ficaram feridas, incluindo uma que morreu anos depois devido aos ferimentos.
ntão, no sábado (14), um atirador cuja violência, segundo as autoridades, foi alimentada por ódio racista, entrou na loja de Rogers e começou a atirar.
“Era constante, apenas atirando. Ele não iria parar. Continuava constantemente”, contou ela na quinta-feira (19) a Don Lemon, da CNN.
Escondida atrás do balcão de atendimento, Rogers ligou para polícia americana no telefone 911. Mas a atendente tratou a chamada com desdém, que as autoridades locais agora pretendem demiti-la em uma audiência no dia 30 de maio, disse um funcionário do alto escalão do condado.
Esse acontecimento agravou o trauma de Rogers.
“Estou de volta a outro massacre e passando por isso novamente, tentando encontrar um processo de cura”, disse Rogers.
Dez pessoas na loja Tops, incluindo um segurança armado, foram mortas e três ficaram feridas; 11 dos 13 atingidos eram negros. O jovem branco, de 18 anos, acusado pelo tiroteio se declarou inocente de uma acusação de assassinato em primeiro grau. Ele foi mantido detido e sem fiança pelo menos até sua próxima audiência no tribunal, em 9 de junho.
‘Por que você está sussurrando?’
Rogers estava no balcão de atendimento do supermercado com dois colegas de trabalho, ao telefone com um cliente, quando ouviu “grandes estrondos” em rápida sucessão, disse ela à CNN.
“Eu olhei pela janela e vi essa cliente, essa senhora com seu carrinho de compras – ela simplesmente parou – e ela tinha um olhar muito engraçado em seu rosto e então ela se virou para correr”, disse Rogers.
“A próxima coisa que você sabe, você só continua ouvindo bum, bum, bum”, disse ela. “Tudo o que podíamos fazer era nos jogarmos no chão”.
Rogers se escondeu atrás do balcão, “rezando para que ele não me visse”, disse ela sobre o atirador.
“Eu estava tentando pensar rápido”, contou. Ela enfiou a mão no bolso de trás, pegou seu próprio celular e discou 911. “Eu comecei a sussurrar, porque eu não sabia quantas pessoas havia na loja ou qualquer coisa, eu não queria ser ouvida”.
Falando baixinho, Rogers implorou: “’Por favor, envie ajuda, há uma pessoa na loja atirando’”.
“’O quê? Eu não consigo ouvir você’”, respondeu a atendente do 911, ela disse. “’Por que você está sussurrando? Você não precisa sussurrar, eles não podem ouvi-la’”.
Nervosa, Rogers deixou cair o telefone, disse ela. A operadora continuou falando, mas Rogers não conseguia entender as palavras.
“Ela disse alguma coisa e desligou o telefone”, disse Rogers, que então colocou o telefone no modo silencioso, caso alguém ligasse.
Em seguida, Rogers ligou para o namorado e, no mesmo tom que usou com a atendente, pediu que ele ligasse para o 911 para informar que havia “uma pessoa na loja atirando”. Então, uma colega de trabalho ligou para Rogers em uma chamada de vídeo para perguntar onde ela estava e, sussurrando da mesma forma, ela retransmitiu sua localização e pediu que ela ligasse para o 911.
Quando a ligação terminou, Rogers notou que a loja estava em um “silêncio mortal”, disse ela. Até a música de alguma forma parou.
“É um silêncio completo e assustador na loja e você pode ouvi-lo andando”, disse ela. “Parecia que ele estava andando sobre cacos de vidro, você podia ouvir isso sendo esmagado sob os pés dele”.
Rogers ficou escondida, esperando, até que ouviu a polícia e viu um policial escoltando um funcionário. Quando ela saiu de trás do balcão, tudo o que viu foram “corpos”, disse ela.
“Não foi uma boa visão”, disse ela, tremendo e lutando contra as lágrimas. “A primeira pessoa que vi foi o segurança, Aaron Salter. E eu sabia que era ele, pelo uniforme”.
“Eu não gostaria que ninguém experimentasse ver o que eu vi, nunca”.
Chamada do 911 sob investigação
A atendente do 911 que falou com Rogers foi colocada em licença administrativa na segunda-feira (16), disseram autoridades do condado de Erie.
Não ficou claro quem encerrou a ligação, mas “a operadora do 911 foi inadequada”, disse o executivo do condado, Mark Poloncarz, na quarta-feira em entrevista coletiva.
“Ensinamos aos nossos atendentes do 911 que, se alguém está sussurrando, provavelmente significa que está com problemas” e que a pessoa que está ligando pode estar “em uma área de preocupação, não apenas com relação a atiradores ativos, mas potencialmente em relação à violência doméstica, que alguém pode estar ligando”, disse ele.
Será realizada uma audiência em 30 de maio “na qual nossa intenção é encerrar o contrato da atendente do 911 que agiu de forma totalmente inadequada, não seguindo o protocolo”, disse ele, reiterando que o tom da operadora foi uma “resposta completamente inadequada” em uma “situação terrível”.
O nome da atendente não foi divulgado, devido aos padrões do departamento em relação a qualquer pessoa sob suspensão administrativa ou licença, disse Poloncarz.
O tempo de resposta da polícia ao tiroteio não foi afetado pelo tratamento recebido na ligação de Rogers, disse o porta-voz do condado de Erie, Peter Anderson, na quarta-feira.
Os Serviços Centrais de Polícia checaram todas as chamadas associadas ao tiroteio no domingo, explicou Poloncarz. “Eles identificaram esta chamada, o problema associado a ela, era completamente inaceitável”.
Rogers “não é uma pessoa de coração frio”, disse ela à CNN, mas acha que a atendente do 911 deveria perder o emprego.
“Certo é certo e errado é errado”, disse ela. “Era como se eu a estivesse incomodando, e sinto que quando ela desligou na minha cara, ela nunca ligou de volta”.
“Eu sinto que ela me largou para morrer aqui, e eu realmente pensei que ia morrer naquele dia”.