Especialistas afirmam que, até o momento, casos são menos graves; população volta aos postos de vacinação
O Globo – O Brasil vive uma quarta onda de Covid-19. Há cerca de um mês, a média móvel de novos casos passou a apresentar tendência de alta e isso explodiu na última semana, quando o número de novos casos diários ficou em torno de 30 mil, um aumento de cerca de 107%, em comparação com duas semanas antes. O aumento dos diagnósticos positivos já se reflete no sistema de saúde. Em pelo menos sete unidades da federação houve aumento de internações e atendimentos, embora o número de óbitos não tenha acompanhado.
— Não há dúvida que já estamos vivendo uma nova onda de Covid-19. O aumento do números de casos ocorre de forma concomitante no país inteiro— diz o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
O cenário nos estados é reflexo do aumento de casos no país. Somente nas farmácias, segundo levantamento da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), os testes positivos para Covid-19 saltaram 326% em maio. No total, foram registrados 136.117 mil novos casos, um número mais de quatro vezes maior que os 31.981 do mês de abril.
Dados do último Boletim InfoGripe Fiocruz mostram que a Covid-19 já responde por 59,6% dos pacientes hospitalizados por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no país. É a terceira semana consecutiva que as ocorrências da doença se mantêm predominantes entre os casos de SRAG. No boletim anterior, as infecções pelo coronavírus eram 48% dos casos positivos.
— Algumas cidades e estados já estão apresentando aumento de internação hospitalar, mas, em comparação com as ondas anteriores, há menor necessidade de leitos de terapia intensiva. Também não estamos vendo muitos óbitos —diz o infectologista Júlio Croda, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
Mais leitos em SP
Um dos reflexos dessa alta pode ser visto no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, que voltou a dedicar duas alas inteiras para pacientes com Covid-19. A estrutura havia sido dispensada em abril, época em que a prevalência de testes positivos para a doença não ultrapassava 10% dos exames realizados. Hoje, a contagem chega a 30%.
De acordo com a secretaria estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP), ontem foram 510 novas internações no estado, nos hospitais públicos e privados, elevando a média móvel a 505 por dia. Em comparação com o dia 7 de maio, houve um aumento de 182%. Os dados mostram ainda que a ocupação de leitos de enfermaria na região metropolitana chegou a 49,7% e os de UTI, a 52,2%.
Somente no hospital Albert Einstein, também no estado, havia 13 pacientes internados com Covid-19 no dia 7 de maio. Já ontem, são 72 na unidade — um aumento de 454%. No Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o crescimento foi ainda mais dramático. Ao longo de maio, foram 125 novas internações, levando o total em 1º de junho a ser 620% maior que o número relativo a um mês antes.
Em Minas Gerais, o Hospital das Clínicas da UFMG também observou um aumento nas internações por Covid-19. Há exatos 30 dias, eram oito pacientes hospitalizados. O número saltou para 23 ontem, alta de 187%.
O portal da secretaria estadual de Saúde do Mato Grosso aponta que, no período dos últimos 30 dias, a média móvel de internações do estado passou de 5 para 11, uma variação de 120%. Já no Rio Grande do Sul, segundo informações da pasta, eram 170 internados no estado com Covid-19 ontem, um aumento de 87% em relação há 30 dias, quando eram 91.
É o caso do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), na capital Porto Alegre. Lá, eram 35 pacientes hospitalizados com a doença no final de abril, número que saltou 70%, para 53 internados, no final de maio.
— Percebemos um aumento bem gradual das hospitalizações. Não é uma curva íngreme como tivemos na introdução de novas variantes, mas é um aumento. Até a semana passada, era predominante nas enfermarias. Mas na última semana já observamos um leve aumento também na UTI. Mas não há ainda um aumento no número de óbitos — explicou a responsável pelo núcleo hospitalar de epidemiologia do GHC, Ivana Varella.
No Distrito Federal, o Hospital Sírio Libanês observou um aumento de 225% nas internações pelas Covid-19 nas últimas duas semanas. A secretaria de Saúde do Distrito Federal informa que registrou um aumento na demanda hospitalar e clínica, devido ao período de sazonalidade de doenças respiratórias, além de um aumento expressivo nos casos de dengue e Covid-19.
Em Santa Catarina, o governo estadual decretou na última sexta-feira situação de emergência de saúde em razão da sobrecarga de atendimentos nos hospitais devido a um surto generalizado de dengue, em concomitância com aumento de casos de gripe e Covid-19.
No Distrito Federal, o Hospital Sírio Libanês observou um aumento de 225% nas internações pelas Covid-19 nas últimas duas semanas. A secretaria de Saúde do Distrito Federal informa que registrou um aumento na demanda hospitalar e clínica, devido ao período de sazonalidade de doenças respiratórias, além de um aumento expressivo nos casos de dengue e Covid-19.
Em Santa Catarina, o governo estadual decretou na última sexta-feira situação de emergência de saúde em razão da sobrecarga de atendimentos nos hospitais devido a um surto generalizado de dengue, em concomitância com aumento de casos de gripe e Covid-19.
É consenso entre os especialistas que, apesar da alta de casos e internações, há queda na gravidade da doença. Isso se deve não só ao avanço da vacinação e da imunidade híbrida (conferida pelas vacinas em conjunto com a infecção), mas pelo fato de o novo pico estar associado a subvariantes da Ômicron, que já causou uma onda em janeiro.
— Quando temos duas ondas da mesma variante, mesmo que haja alterações genéticas entre as subvariantes, a expectativa é que o impacto da segunda onda seja menor. Além disso, mesmo que haja queda na proteção da vacina contra infecção, ela permanece para doenças severas, hospitalização e óbito — diz Croda.
Segundo Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, a maioria dos pacientes hospitalizados são pessoas sem vacinação completa, além de idosos e imunocomprometidos. Os especialistas ressaltam que completar o ciclo vacinal no cenário atual significa ter pelo menos três doses.