Mulheres acusam a fonoaudióloga Bianca Rodrigues, de uma clínica em Duartina, São Paulo, de agressão e tortura contra crianças autistas
Metrópoles – Mães de crianças com Transtorno de Espectro Autista (TEA), que acusam a fonoaudióloga Bianca Rodrigues Lopes Gonçalves, de 33 anos, de agressões e torturas, dizem que seus filhos tiveram regressão no desenvolvimento.
Os casos aconteceram em uma clínica em Duartina, interior de São Paulo. Ao G1, a defesa de Bianca Rodrigues disse que colabora com as investigações policiais e se resguarda de outros pronunciamentos por conta de o inquérito policial estar em segredo de Justiça.
A mãe de uma das vítimas conta que o filho ficava trancado em uma sala na clínica, desaprendeu a sentar e pedir para ir ao banheiro. Ela descobriu o caso quando foi chamada na delegacia e viu a foto das mãos do menino no vidro:
“Ele não tinha interesse em brinquedos, fazia de qualquer jeito. Estava perdendo as habilidades, até ir ao banheiro ele desaprendeu. Ele não fazia xixi na roupa, mas começou porque estava trancado na sala do consultório em Duartina. Ele desaprendeu a sentar”, disse uma mãe ao G1.
Após os atendimentos na clínica, o menino voltava para casa com as roupas urinadas e algumas vezes até sem blusa.
Depois dos episódios, a criança passou a ser acompanhado por outros profissionais e agora já é possível ver evoluções comportamentais, como a recuperação de suas habilidades, passou a brincar e pedir ajuda.
“Hoje ele é outra criança. Começou a oferecer o rostinho para beijar e quando me vê começa a abrir sorrisos. Na escola, dizem que é visível o quanto ele evoluiu, ele voltou a ver as coisas ao redor”, conta.
Uma outra mãe relatou ao G1 que o filho de 6 anos levou um tapa na boca após morder a fonoaudióloga. Ela conta que o menino apresentou atraso significativo em áreas voltadas para o aspecto progressivo, que deveriam ter sido desenvolvidas durante o tempo que foi acompanhado pela clínica de Duartina.
Diagnosticado com autismo em grau severo desde os 2 anos, ele era levado para a terapia multidisciplinar nesta clínica e desde então, o filho não demonstra evolução. Até então, o sentido visual foi o único que não foi identificado sinais de atraso.
“No começo ele teve um avanço muito grande, aprendeu comandos, estava se desenvolvendo e de repente veio perdendo. Depois é que fomos nos dar conta do que estava acontecendo. Ele começou a morder muito, não tinha paciência para nada, não sentava para as refeições. Com 20 dias na outra clínica, a gente já começou a ver diferenças”, relata a mãe da vítima.
A mãe deseja recuperar o desenvolvimento do menino, o tempo perdido e comemora quando o filho demonstra sinais de carinho. “A gente nunca tinha vivenciado o contato com ele, algum tipo de carinho. Ele aprendeu a esticar a bochecha para que a gente dê beijo e, esses dias, pela primeira vez, ele abraçou meu outro filho mais velho”, diz.
Abuso sexual
Uma outra mãe passou a desconfiar das agressões durante uma consulta pediátrica. O menino de 3 anos recusou o toque nos órgãos genitais durante o atendimento médico e logo depois, disse para a mãe que a fonoaudióloga tocava nele.
“Ele chora e fica agressivo se a gente tenta ‘invadir’ esse espaço dele. Não deixa tocar, é muito difícil. Ele está na fralda ainda justamente porque nem ele pega no órgão dele. Estamos conversando com ele para entender que a mãe, o pai e a avó podem tocar”, conta a mãe.
O delegado responsável pelo caso orientou a mãe que procurasse uma psicóloga para o menino, na intenção de descobrir a motivação da recusa da criança ao toque. Ele começou as sessões na última quarta-feira (17/8).
“Eu acredito que ele foi abusado, criança não mente. Na clínica, a fonoaudióloga não tinha amor nenhum pela profissão. Queremos que a justiça seja feita. Ela desclassifica as outras profissionais da mesma área”, relata a mãe.
Quando as quatro consultas com a psicóloga forem finalizadas, a mãe deve enviar o laudo emitido pela profissional ao delegado. Mesmo assim, ela disse que vai continuar o tratamento para sanar o suposto trauma.
Crime de tortura
Na última terça-feira (16), a Polícia Civil confirmou que a perícia comprovou a autenticidade das fotos, vídeos e prints do caso que incriminam a fonoaudióloga. Não há qualquer tipo de montagem ou fraude nas imagens, e elas indicam crime de tortura, segundo delegado.
Bianca se referia às crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) como “filho da puta”, “demônio”, “chato”, “insuportável”, entre outros termos. O G1 teve acesso às cópias das conversas que fazem parte da investigação que comprovou os diálogos
“Cagou minha sala inteira. Filho da p***”, disse. Em outra, escreveu: “Demônio chegou”. As mensagens foram enviadas pela fonoaudióloga em 29/3 e 8/4. Os registros mostram ainda que a profissional não oferecia as sessões individualizadas que tinham sido contratadas e pagas pelas mães.