Estratégias vão de acesso a perfil de parentes a postagem em grupo no Telegram
O Globo – Com o universo virtual cada vez mais relevante na campanha eleitoral, candidatos que tiveram suas redes sociais bloqueadas por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) buscam alternativas para pedir votos pela internet. Nomes como Otoni de Paula (PTB-RJ), Daniel Silveira (PTB-RJ), Roberto Jefferson (PTB-RJ) e Marcos Antônio Pereira Gomes (PL-SC), conhecido como Zé Trovão, investigados em inquéritos do STF, tentam burlar a proibição usando perfis de terceiros e canais em diferentes plataformas.
Sem redes sociais há um ano, depois de uma decisão do STF que tirou do ar seus perfis no Facebook, Instagram, Twitter e Youtube, o deputado federal Otoni de Paula teve ainda um segundo baque na última semana. Um novo perfil atribuído a apoiadores do parlamentar, mas que ele usava para fazer transmissões ao vivo, também foi banido.
— Não há isonomia na campanha. Estou prejudicado porque as redes sociais estão entre as principais ferramentas de alcance do eleitor. Como não me apontaram um motivo plausível, então, só me resta crer que o ministro (Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos no Supremo), sabendo que fui eleito com a grande ajuda da rede social , acredita que vai tirar o meu mandato ao suspender as minhas redes — afirma o deputado federal Otoni de Paula, que pretende usar o perfil do pai para fazer lives durante a campanha.
Também banido, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), que concorre ao Senado, estava usando o perfil de sua mulher, Paola Silveira (PTB-RJ), candidata a deputada federal, para fazer lives e divulgar vídeos. O parlamentar foi condenado pelo STF por ameaças e incitação à violência contra ministros da Corte, mas tenta manter sua candidatura apoiado no decreto de graça presidencial concedido pelo presidente Jair Bolsonaro. O Ministério Público Eleitoral já contestou a candidatura.
— Estou aqui na conta da Paola porque estou censurado nas redes sociais, embora nossa Constituição diga que isso é vedado, que é crime a censura. (…) Estou com as contas bloqueadas, estou sem redes sociais Então não consigo ter o mesmo acesso que as outras pessoas terão. Estou em uma disparidade enorme de armas. (…) Vou passar a fazer mais algumas lives em outros horários, dentro dessa página aqui da Paola, que é a que vou conseguir utilizar — prometeu o deputado em vídeo publicado no Instagram no último sábado.
Após a veiculação, o STF determinou o bloqueio das redes sociais de Paola.
Candidatos banidos e presos
Roberto Jefferson está em prisão domiciliar desde janeiro e, mesmo considerado inelegível pelo Ministério Público, decidiu se lançar à Presidência. Ele não pode pedir votos nas ruas nem nas redes. Com sua conta no Twitter bloqueada desde agosto de 2021, quando foi decretada sua prisão, e sem poder receber uma equipe de produção para gravar vídeos em sua casa, Jefferson quer usar imagens antigas para promover sua candidatura.
A intenção da equipe de campanha é utilizar o material nas redes sociais da própria legenda e nos 25 segundos a que ele terá direito na propaganda de TV. A aposta vai de encontro à decisão de Alexandre de Moraes de janeiro desde ano, em que o ministro além de determinar a prisão domiciliar do político, ressalta que está vedada sua “participação em redes sociais de sua titularidade, de interpostas pessoas ou partidos políticos ou de quaisquer outras pessoas”.
Também em prisão domiciliar, mas com autorização para fazer eventos na rua usando tornozeleira eletrônica, o jornalista Wellington Macedo de Souza (PTB-SP), se sente injustiçado por ter tido suas contas bloqueadas. Ele diz que é o único candidato a deputado federal de São Paulo sem perfil nas redes sociais. Como alternativa, ele conta com a divulgação de seu material de campanha em perfis de amigos e antigos seguidores e tem feito campanha na rua levando uma caixa de som e um microfone para lugares públicos.
Já o caminhoneiro Zé Trovão driblou a decisão do STF que o proíbe de usar redes sociais para divulgar sua candidatura a deputado federal por Santa Catarina em um vídeo no Telegram. A mídia foi postada em um grupo de apoiadores do bolsonarista que contava com mais de 11 mil inscritos, mas após a postagem, foi retirada do ar pela plataforma por “violar leis locais”. Questionada sobre qual legislação o canal de apoiadores do Zé Trovão estaria infringindo, o Telegram não retornou os contatos.
De acordo com o professor de Marketing Político da ESPM Marcelo Vitorino, as redes sociais servem para apresentar os candidatos, complementar a comunicação que não consegue ser feita por outros meios e engajar pessoas com mais facilidade. Para ele, não estar presente nelas é deixar um enorme espaço de diálogo fechado.
— Para uma campanha proporcional é ainda pior do que para as majoritárias, porque o tempo de televisão é muito curto. Ficará mais difícil combater um boato ou direcionar as pessoas para eventos virtuais e presenciais. Arrecadar recursos também será um problema. A compensação teria que ser feita por meio da contratação de cabos eleitorais, da ampliação da campanha de rua, com muito mais materiais impressos e também com agendas contínuas — avalia, ponderando que a decisão do STF acaba não sendo completamente eficaz, uma vez que não há como se certificar de que o candidato não usará uma rede paralela.