Rússia identificou motorista do caminhão-bomba que supostamente causou detonação; Ucrânia não reivindicou a responsabilidade pelo ataque, mas vários funcionários fizeram comentários irônicos
O Globo – Uma explosão neste sábado derrubou parcialmente a ponte que liga a Península da Crimeia ao território continental da Rússia e paralisou o tráfego entre os dois lados, deixando três mortos. Sem acusar diretamente a Ucrânia, a Rússia afirmou já ter identificado o motorista do caminhão-bomba que supostamente causou a detonação, e o porta-voz do Kremlin disse que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a criação de uma comissão para esclarecer os fatos.
Com 19,2 quilômetros de extensão, a Ponte do Estreito de Kerch é vital para o envio de suprimentos russos para a guerra na Ucrânia, e o Ministério dos Transportes da Rússia disse que o tráfego rodoviário será restaurado ainda hoje.
“De acordo com dados preliminares, três pessoas morreram, provavelmente passageiros de um veículo que estava perto do caminhão quando explodiu”, disse o Comitê de Investigação da Rússia em comunicado. “Os corpos de duas vítimas, um homem e uma mulher, já foram retirados da água.”
O órgão, responsável pelas principais investigações criminais na Rússia, também disse ter identificado o caminhão-bomba e seu proprietário, suspeito de estar por trás da explosão. Ele seria morador da região de Krasnodar, no Sul da Rússia. “Foi aberta uma investigação em seu local de residência. A rota do caminhão e os documentos relevantes estão sendo estudados”, acrescentaram os investigadores.
Segundo o Comitê Nacional Antiterrorismo de Moscou, a explosão incendiou sete tanques de combustível que estavam sendo puxados por locomotivas, derrubou uma e danificou outra das quatro pistas para carros da gigantesca estrutura rodoviária e ferroviária, inaugurada por Putin pessoalmente em 2018. Segundo o Comitê, o arco da ponte, sobre o Estreito de Kerch, não foi afetado.
Sem citar diretamente a Rússia, Mykhailo Podolak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, publicou uma imagem do local em chamas após o incidente e chamou de “o começo”. Vários funcionários ucranianos fizeram comentários irônicos sobre a explosão. “Crimeia, a ponte, o começo. Tudo o que é ilegal deve ser destruído, tudo que é roubado deve ser devolvido à Ucrânia, tudo o que é ocupado pela Rússia deve ser expulso”, escreveu Podolyak no Twitter.
O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano) divulgou uma mensagem no Twitter parafraseando versos do poeta Taras Shevchenko. “Amanhece, a ponte está queimando lindamente. Um rouxinol na Crimeia encontra o SBU”, diz a mensagem.
Desde o início da guerra, no final de fevereiro, várias ações de sabotagem na Crimeia foram atribuídas à Ucrânia, incluindo uma explosão numa base aérea russa que teria matado 60 pessoas, no início de agosto.
O Ministério do Exterior da Rússia disse que a reação da Ucrânia à explosão evidencia a “natureza terrorista” de Kiev. “A reação do regime à destruição da infraestrutura civil mostra sua natureza terrorista”, afirmou no Telegram a porta-voz do ministério, Maria Zajarova.
O chefe da Assembleia da Crimeia, o parlamento regional instalado pela Rússia na região, por sua vez, foi rápido em denunciar o que aconteceu como um golpe de “vândalos ucranianos”. Sergei Aksyonov também pediu aos moradores da Crimeia que permanecessem “calmos”, e tentou acabar com temores de escassez de alimentos e combustível.
A Península da Crimeia, sede da Frota do Mar Negro russa, foi cedida à Ucrânia nos anos 1950, no período soviético, e anexada à Rússia por Putin em 2014, depois da queda de um governo pró-Moscou em Kiev. Putin inaugurou a Ponte do Estreito de Kerch em 2018, quatro anos depois. A ponte é essencial para o transporte de pessoas e mercadorias, e agora também para abastecer as tropas russas enviadas à Ucrânia.