Tucana, que optou pela neutralidade no cenário nacional, superou a candidata apoiada por Lula (PT), Marília Arraes (Solidariedade), em campanha marcada por drama pessoal
O Globo | A candidata do PSDB, Raquel Lyra, foi eleita governadora de Pernambuco neste domingo, superando Marília Arraes (Solidariedade). Com a vitória, a tucana decreta o fim de um ciclo de 16 anos do PSB à frente do estado. O resultado foi simbólico também porque foi a primeira disputa entre duas mulheres e episódios da vida pessoal delas tiveram impacto na campanha.
Raquel Lyra perdeu o marido, o empresário Fernando Lucena, que morreu no dia da eleição do primeiro turno, o que a levou a adiar o começo da campanha do segundo. Seu filho mais velho, de 12 anos, teve que passar por uma cirurgia de emergência para retirada do apêndice já durante a segunda etapa da campanha eleitoral. Sua rival também teve de suspender algumas atividades de campanha, mas devido aos enjoos dos cinco meses de gravidez.
A eleição de Raquel também marcou uma virada sobre Marília Arraes, que já foi do PT e ficou com o apoio do ex-presidente Lula e da militância petista no estado. A deputada liderou as pesquisas durante a campanha do primeiro turno e saiu das urnas em primeiro lugar no dia 2. No primeiro turno, o PT apoiou Danilo Cabral (PSB), candidato do atual governador, Paulo Câmara (PSB), que não conseguiu avançar na disputa.
Diferentemente da adversária, Raquel preferiu não nacionalizar sua campanha, o que se mostrou uma estratégia eficiente. Ela refutou o rótulo de candidata do presidente Jair Bolsonaro (PL), e tampouco declarou voto no atual mandatário.
Além disso, a tucana usou o apoio do PSB à campanha de Marília para atacá-la. Crítica do governo de Paulo Câmara (PSB), que enfrenta forte rejeição, Marília passou a ser chamada de “candidata da continuidade” por Raquel.
Atrás nas pesquisas durante todo o primeiro turno, que indicavam larga vantagem para Marília, Raquel marcou, na primeira votação, 20,5% dos votos válidos, contra 24% da deputada. A virada, porém, veio já no início da campanha do segundo turno, com ela liderando as intenções de voto desde o primeiro levantamento feito pelo Ipec.
Com a vitória, a tucana oficializa o fim do domínio do PSB no estado, que começou com a eleição de Eduardo Campos, em 2006. Ele se reelegeu quatro anos depois, e elegeu Câmara como sucessor em 2014, quando morreu num acidente aéreo enquanto concorria ao Planalto. O afilhado político conquistou novo mandato em 2018.
Historicamente, o partido já exercia grande influência no estado, tendo como principal figura o ex-governador Miguel Arraes, avô de Eduardo e Marília e bisavô do atual prefeito do Recife, João Campos (PSB). O segundo turno marcou uma reaproximação entre Marília e João Campos, que protagonizaram uma disputa política em família em 2020 pela prefeitura da capital pernambucana.
A eleição de uma governadora do PSDB no Nordeste é também uma conquista relevante para o PSDB, que perdeu o comando de São Paulo após quase três décadas e vive um de seus piores momentos políticos. A sigla, no primeiro turno, não elegeu nenhum governador.