Dez anos após rebaixamento antecipado, time verde triunfa com grande antecedência
Folha de São Paulo – Foi tão fácil que o Palmeiras não precisou nem jogar para comemorar o título do Campeonato Brasileiro de 2022. Na tarde de quarta-feira (2), com o tropeço do vice-líder Internacional, assegurou com quatro jogos por fazer uma conquista obtida de maneira tranquila, com ampla superioridade sobre os adversários.
Nenhum de seus dez troféus anteriores na competição –incluídos na lista os triunfos na Taça Brasil e no Torneio Roberto Gomes Pedrosa– foi erguido com tamanho sossego. As oito vitórias até 1994 foram alcançadas em finais ou em quadrangulares decisivos. Houve situações anteriores de superioridade clara, mas a confirmação só chegou mesmo no término da disputa.
Desde que o torneio passou a ser realizado no formato de pontos corridos, o clube o venceu em três oportunidades, desta vez com vantagem mais confortável. Em 2016 e em 2018, a equipe celebrou com duas rodadas de antecipação e finalizou a campanha com 80 pontos, respectivamente nove e oito à frente do vice-campeão.
Agora, entrou na rodada com 74 pontos e somente o Inter poderia adiar a festa do título. Mas, ao ser batido pelo América-MG, os gaúchos estacionaram nos 64 e só poderão atingir 73 nas três rodadas que restam.
Quando entrou em campo, o Palmeiras parecia nem se importar com isso e jogou como se precisasse vencer. Com dois gols de Rony, um de Dudu e outro de Endrick, goleou o Fortaleza por 4 a 0.
Os resultados recentes só confirmaram o que se desenhou desde a fase inicial do campeonato. O Palmeiras começou sua campanha perdendo em casa para o Ceará, mas logo se recuperou e assumiu a liderança pela primeira vez na oitava rodada. A posição foi tomada de vez na décima, e o time de Abel Ferreira não olhou mais para trás.
Foram até aqui 21 triunfos e 11 empates, além das citadas duas derrotas. Com 59 gols marcados, a equipe tem o melhor ataque da competição. Com 22 sofridos, é a menos vazada. E, se não for superada pelo Cuiabá em Cuiabá e pelo Internacional em Porto Alegre, será a primeira na era dos pontos corridos a concluir a disputa sem nenhum revés como visitante.
“Esses jogadores estão fazendo história no clube”, afirmou Abel. “Não sei se temos o melhor técnico ou o melhor elenco, mas queremos ser e melhorar. Coletivamente, somos muito fortes. No Brasileiro, é ser consistente, jogar da mesma maneira fora ou em casa. Tem muito a ver com o caráter dos nossos jogadores. Não temos os melhores jogadores, mas temos homens de caráter.”
Contratado em 2020, o português se tornou rapidamente uma figura histórica do clube, vencendo duas edições da Copa Libertadores (2020 e 2021), uma da Copa do Brasil (2020), uma da Recopa Sul-Americana (2022) e uma do Campeonato Paulista (2022). Faltava o Campeonato Brasileiro. Não falta mais.
Ferreira admitiu frustração com as quedas registradas na temporada. Segundo ele, ficaram “entaladas” as derrotas para o São Paulo, nas oitavas de final da Copa do Brasil, e para o Athletico Paranaense, nas semifinais da Libertadores. Mas o time verde, que também se frustrou no início do ano na disputa do Mundial, soube se recuperar para levar o Brasileiro pela 11ª vez.
A conquista, que já estava muito bem encaminhada, ficou ainda mais próxima na 33ª rodada, com uma vitória por 3 a 0 sobre o Avaí aplaudida pelo (também aplaudido) presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), no Allianz Parque. Na sequência, novo triunfo: 3 a 1 sobre o Athletico, uma celebração do presente e do futuro.
O atacante Endrick, 16, marcou seu primeiro gol como profissional e se tornou o mais jovem a balançar a rede com a camisa do Palmeiras. Em outro lance que acabou em festa, chutou a bola junto com o meia Gustavo Scarpa, 28, protagonista na conquista e de saída para o futebol da Inglaterra.
Ainda havia a possibilidade (meramente) matemática de o time ser alcançado na tabela, extinta na tarde de quarta. O Internacional perdeu por 1 a 0 América-MG, em Belo Horizonte, gol de Alê, e o Palmeiras x Fortaleza da noite se tornou, para o lado alviverde, apenas uma jornada de celebração.
Assim, o clube que há uma década era rebaixado com antecedência e caía pela segunda vez à Série B, agora é campeão antecipado da Série A. Muita coisa mudou nos últimos dez anos para a agremiação, que esteve perto do rebaixamento de novo em 2014 e depois disso engrenou uma sequência de glórias.
Com o aporte financeiro da empresa de crédito Crefisa –cuja presidente, Leila Pereira, hoje é também presidente do próprio clube– e uma reorganização estrutural, os troféus começaram a ser erguidos. Campeão da Copa do Brasil em 2015, do Brasileiro em 2016 e 2018 e do Paulista em 2020, o time decolou de vez a partir da chegada de Abel Ferreira.