Alta do IPCA em outubro encerra período de deflação; acumulado em 12 meses desacelera para 6,47%
Folha de São Paulo – Após três meses consecutivos de deflação, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) voltou a subir em outubro, informou nesta quinta-feira (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O indicador oficial de inflação do país teve alta de 0,59% no mês passado. A taxa ficou acima das projeções de analistas consultados pela agência Bloomberg, que esperavam avanço de 0,49%.
O novo resultado veio após quedas de 0,29% em setembro, de 0,36% em agosto e de 0,68% em julho.
Em 12 meses, o IPCA acumulou alta de 6,47% até outubro, apontou o IBGE. Nesse recorte, houve nova desaceleração, com a menor variação desde março de 2021 (6,10%). O acumulado estava em 7,17% até setembro deste ano.
ALIMENTOS VOLTAM A SUBIR
Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 tiveram alta em outubro, disse o IBGE. Os segmentos de alimentação e bebidas e de transportes, que haviam recuado 0,51% e 1,98% em setembro, voltaram a subir no mês passado. Isso ajudou a pressionar o IPCA.
O grupo dos alimentos avançou 0,72% em outubro. Assim, teve a maior contribuição para o índice do mês, de 0,16 ponto percentual.
A alta foi puxada pela alimentação no domicílio (0,80%). O IBGE destacou o avanço da batata-inglesa (23,36%) e do tomate (17,63%). Também houve aumentos expressivos na cebola (9,31%) e nas frutas (3,56%).
Do lado das quedas, os destaques foram para o leite longa vida (-6,32%), que já havia recuado 13,71% em setembro, e o óleo de soja (-2,85%), que marcou a quinta redução consecutiva.
Após alimentação e bebidas, os principais impactos vieram de saúde e cuidados pessoais (1,16%) e transportes (0,58%). As contribuições foram de 0,15 ponto percentual e 0,12 ponto percentual, respectivamente. Os três grupos responderam por cerca de 73% do IPCA de outubro, conforme o IBGE.
Dentro de transportes, o recuo dos combustíveis (-1,27%) foi menos intenso do que no mês anterior (-8,50%). Gasolina (-1,56%), óleo diesel (-2,19%) e gás veicular (-1,21%) seguiram em queda, enquanto o etanol registrou alta de 1,34%.
Ainda em em transportes, houve aumento expressivo nos preços das passagens aéreas (27,38%). Os bilhetes exerceram a maior contribuição individual no IPCA de outubro (0,16 ponto percentual).
ROUPAS MAIS CARAS
A maior variação do mês entre os grupos veio de vestuário: 1,22%. Em 12 meses, o segmento acumula alta de 18,48%.
“Isso está relacionado com a retomada da demanda, no contexto de melhora da pandemia”, disse Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IPCA. Custos de produção pressionados também tiveram influência na carestia das roupas, acrescentou o pesquisador.
Entre os grupos, apenas o segmento de comunicação teve queda em outubro. A baixa foi de 0,48%.
Para tentar conter a inflação no ano eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) apostou em cortes de impostos.
Nesse sentido, Bolsonaro sancionou em junho o teto para cobrança de ICMS (tributo estadual) sobre combustíveis, entre outros itens. A medida veio acompanhada pela redução dos preços praticados nas refinarias da Petrobras.
Em conjunto, os dois fatores levaram os combustíveis para baixo, o que puxou a deflação do IPCA às vésperas das eleições. A trégua nas bombas dos postos, contudo, agora dá sinais de perda de ímpeto.
A inflação elevada afetou produtos sensíveis ao bolso dos brasileiros mais pobres, como os alimentos, e serviu como munição para a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista venceu Bolsonaro no segundo turno das eleições.
ACIMA DA META
Mesmo com o recente alívio no acumulado de 12 meses, o IPCA caminha para estourar a meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) pelo segundo ano consecutivo.
O mercado financeiro projeta alta de 5,63% até dezembro, conforme a mediana do boletim Focus divulgado na segunda (7) pelo BC. O centro da meta é de 3,50% em 2022. O teto é de 5%.
Para 2023, a estimativa do Focus sinaliza IPCA de 4,94%. O mercado ainda aguarda a montagem da equipe econômica de Lula para avaliar os possíveis rumos do novo governo a partir do próximo ano.
Na visão de analistas, um dos principais desafios petistas será conciliar responsabilidade fiscal com pagamento de benefícios sociais prometidos durante a campanha, incluindo a manutenção do valor mínimo de R$ 600 do Auxílio Brasil, que deve ser rebatizado como Bolsa Família.