Levantamento do GLOBO mostra também que algumas regiões já observam um maior atendimento ambulatorial por pacientes infectados pelo coronavírus
O Globo – Os casos de Covid-19 voltaram a ganhar força e acendem um alerta entre autoridades de saúde, principalmente para grupos mais vulneráveis e pessoas que não completaram o esquema vacinal. Ao menos 12 estados brasileiros, além do Distrito Federal, relatam aumento de notificações da doença, depois de um longo período de baixos registros na pandemia. É o que mostra levantamento feito pelo GLOBO com secretarias estaduais de saúde de todo o território.
A alta de contágios, em meio à descoberta de uma nova subvariante da Ômicron, a BQ.1, evidencia a circulação do coronavírus no país. A taxa de positividade nos testes para Covid cresceu no Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo, e no DF, segundo os dados das respectivas pastas da saúde. Em alguns estados, a alta de contágios já se reflete na maior procura por atendimento em ambulatórios e hospitalizações.
— A maioria está internada em unidade não crítica, fora da UTI, o que significa que os casos são mais leves — afirma o infectologista Ícaro Boszczowski, do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, acrescentando: — Mas do fim de outubro para cá tivemos que dedicar uma ala inteira do hospital para internações de Covid.
No Oswaldo Cruz, conta, houve um aumento de 60% de outubro a novembro no número de pacientes sintomáticos respiratórios que buscaram atendimento. Ainda é cedo, porém, para saber como o cenário influenciará no aumento de casos graves e óbitos. As secretarias consultadas pelo GLOBO afirmam que a positividade de testes e a pressão sobre os leitos de enfermaria e UTI ainda estão muito abaixo das piores ondas da pandemia, mas reforçam a importância dos cuidados e da vacinação para prevenir agravamento da doença e morte.
— Temos boa parte da população vacinada, com pelo menos duas doses, mas ainda temos problemas, especialmente com as doses de reforço — diz o infectologista Max Igor, coordenador do Laboratório de Doenças Infecciosas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.
Em São Paulo, um dos estados com maior taxa de vacinação do país, 10 milhões de adultos ainda nem tomaram a terceira dose, ou primeira dose de reforço, considerada essencial para evitar complicações. Outros 7 milhões estão sem a segunda dose de reforço. Nas últimas duas semanas, as internações por Covid em leitos de enfermaria subiram 50% e, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI), 56%.
— Não via um caso novo há semanas, de repente passei a ver dois, três, outros infectologistas relatavam o mesmo, e isso acendeu um alerta de que estava acontecendo em vários lugares ao mesmo tempo. Era nítido que o vírus tinha voltado a circular — conta a infectologista Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas.
O cenário vem de um somatório de causas, da globalização que mantém o Sars-CoV-2 circulante, além de suas variantes, e até o frio atípico no Brasil em pleno novembro.
— Soma-se a isso o fato de que temos uma população cuja última vacina de reforço, para quem tomou em junho, julho, já tem mais de quatro meses, e o número de anticorpos caiu. E, claro, está a flexibilização de tudo que fizemos. Recentemente tivemos eleições, que levou a aglomerações. Agora vêm as confraternizações de fim de ano —enumera a infectologista.
No Rio de Janeiro, uma análise dos últimos 15 dias feita pela vigilância estadual apontou que a taxa de positividade nos testes de RT-PCR e antígeno para Covid-19 cresceu. Também houve discreto aumento nas solicitações de leitos para tratamento da doença. Em Santa Catarina, a secretaria da saúde observou aumento dos casos ativos notificados, sobretudo casos leves que necessitaram atendimento ambulatorial, mas sem hospitalização. Já na Paraíba, houve aumento de 66% das notificações de casos suspeitos. E o quantitativo de internações já corresponde, em novembro, ao total de todo o mês de outubro.
No Amazonas, as infecções por Sars-CoV-2 saltaram no início do mês, em comparação a outubro. Segundo a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, foram registrados 1.440 casos de Covid no estado de 1º a 9 de novembro — no mesmo período do mês passado, o índice era de 243 positivos.
Os casos também subiram na Bahia, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rondônia, mas ainda sem reflexo nas internações e óbitos. O mesmo acontece no Distrito Federal, onde a secretaria relata preocupação com a baixa procura pela vacinação.
Sem testagem
Uma preocupação geral das autoridades é a subnotificação. O aumento de casos tende a ser ainda mais acentuado considerando os positivos de autotestes que não são comunicados às autoridades de saúde.
— Quando o autoteste da farmácia vem positivo, normalmente ele não é reportado oficialmente a lugar nenhum, o que impede de mapear corretamente a nova onda — diz Boszczowski.
Os estados de Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio Grande do Norte, Roraima e Tocantins relatam que ainda não observam alta significativa de casos ou internações.
Para prevenção, especialistas recomendam a volta do uso de máscaras em ambientes fechados e com aglomerações, como hospitais e no transporte público, principalmente entre pessoas dos grupos de risco. Orientam, ainda, a retomada de medidas básicas, como lavar sempre as mãos. E, claro, isolamento para quem apresentar sintomas.