Sobrevoos foram aparente resposta à visita de integrante do alto escalão do governo japonês
O Globo – A China enviou um recorde de 18 bombardeiros com capacidade nuclear para a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan, informaram nesta terça-feira autoridades do país insular, visto por Pequim como uma província rebelde. É o maior número de sobrevoos em ao menos dois anos, segundo dados levantados pela Bloomberg e pela AFP, e uma aparente resposta à visita à ilha de um integrante do alto escalão do governo japonês.
O Ministério da Defesa de Taiwan disse que 29 aeronaves entraram na zona de identificação de defesa aérea nas últimas 24 horas. Entre as aeronaves estavam 18 bombardeiros H-6 com capacidade nuclear, um recorde desde setembro de 2020, quando Taiwan começou a publicar dados sobre incursões aéreas chinesas. Três navios da Marinha chinesa também foram vistos no local.
Os H-6 são bombardeiros de longo alcance com capacidade para transportar armas nucleares. É raro a China enviar mais de cinco aviões a Taiwan em um dia, embora os exercícios tenham aumentado nas últimas semanas.
As Forças Armadas japonesas, por sua vez, disseram que seus aviões foram “mobilizados para lidar com uma suspeita de intrusão no espaço aéreo japonês sobre o Mar do Leste da China”. Não nomearam, contudo, nenhum país.
A chamada zona de identificação de defesa aérea é muito mais ampla que o espaço aéreo e foi projetada para dar a um país mais tempo no processo de identificação de uma aeronave potencialmente hostil. O Leste da Ásia tem uma infinidade de zonas de identificação de defesa aérea sobrepostas, o que mostra o quão sensível é esta região.
Até recentemente, as estratégias militares da China e de Taiwan consistiam em permanecer fora da zona de identificação do vizinho, apesar das incursões episódicas em tempos de tensão. A situação evoluiu há dois anos, quando o governo chinês aumentou a pressão sobre a ilha autogovernada.
No ano passado, Taiwan registrou 969 incursões de caças chineses em sua zona, de acordo com uma contagem da AFP, mais do que o dobro dos 380 casos registrados em 2020. Os chineses geralmente aumentam o envio de aviões militares ao Estreito de Taiwan após eventos que vê como provocativos.
Na semana passada, quando o ministro do Comércio do Reino Unido, Greg Hands, visitou Taipé, os chineses despacharam 46 aviões de guerra para Taiwan. Durante o fim de semana, Koichi Hagiuda, o ministro para a Transformação Verde do Japão, tornou-se o político de mais alto escalão do governista Partido Liberal Democrata (PLD) a visitar Taipé em 19 anos.
Em uma reunião com Hagiuda, que também é chefe de políticas do PLD, a presidente taiwanesa disse que seu país continuaria a aprofundar os laços com o Japão. O representante de Tóquio, por sua vez, disse que os chineses não devem usar força para mudar o status quo em Taiwan e que os japoneses estão determinados a “reforçar suas capacidades de ataque em um esforço para fortalecer a dissuasão”.
A visita de Hagiuda veio dias após o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ordenar um aumento do Orçamento para a Defesa. Também na semana passada, os chineses anunciaram mais vetos a alimentos e bebidas taiwaneses, entre eles lulas e alguns tipos de cerveja.
As tensões entre China e Taiwan atravessam um momento particularmente conturbado desde agosto deste ano, quando a presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, viajou a Taipé — sendo a autoridade americana de mais alto escalão a fazê-lo em 25 anos. Democrata tal qual o presidente Joe Biden, de quem é uma aliada próxima, a deputada californiana foi entendida por Pequim como uma representante direita da Casa Branca.
Em resposta, os chineses realizaram suas maiores manobras de guerra já feitas na região. Um mês depois que os EUA impuseram suas mais duras restrições comerciais destinadas a prejudicar a capacidade chinesa de produzir semicondutores mais modernos, no que analistas viram como uma “declaração de guerra” tecnológica.
A reunificação de Taiwan é uma meta do governo chinês desde que os nacionalistas fugiram para a ilha ao serem derrotados na guerra civil, em 1949. Os americanos, por outro lado, embora tenham se comprometido com o princípio ao reatar relações com Pequim em 1979, mantêm o apoio ao status atual da Taiwan autogovernada e fornecem ajuda militar à ilha.