Bolsa de Valores avança 0,9% e negocia aos 106 mil pontos
Folha de São Paulo – O dólar registrava queda acentuada no pregão desta terça-feira (13), enquanto as Bolsas de Valores operam em alta, após dados de inflação abaixo do esperado nos Estados Unidos animar os investidores.
Uma menor pressão inflacionária aumenta as chances de o banco central americano (Federal Reserve) diminuir o ritmo de alta dos juros já a partir da reunião prevista para esta quarta-feira (14), trazendo alívio para os preços das ações.
Após quatro altas de 0,75 ponto percentual, levando os juros para uma faixa entre 4% e 4,25% ao ano, a expectativa dos agentes financeiros, reforçada pelos dados de inflação divulgados hoje, é a de um aumento de 0,50 ponto.
Nesse cenário, o dólar oscilava em baixa de 0,83% por volta das 12h10, negociado a R$ 5,2680 para venda, em um dia de enfraquecimento da moeda em escala global. O índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de divisas de países desenvolvidos, cedia 1,4%.
Na Bolsa de Valores, o índice acionário Ibovespa registrava alta de 0,85%, negociado aos 106.238 pontos.
Nos Estados Unidos, o dia também é de altas expressivas para as ações –o Nasdaq, com maior concentração de empresas de tecnologia, avançava 3,26%, o S&P 500 tinha valorização de 1,43%, e o Dow Jones subia 1,52%.
Principal catalisador para a redução da aversão ao risco nesta terça, os preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentaram 0,1% em novembro, abaixo da previsão de 0,3% dos economistas consultados pela Reuters.
Nos 12 meses até novembro, o índice subiu 7,1%, menor taxa desde dezembro de 2021, mostrando desaceleração em relação ao aumento de 7,7% visto em outubro.
O bom humor provocado pelos dados da inflação americano ofuscam a cautela que prevaleceu na véspera no mercado local, com os investidores atentos à definição da equipe econômica do governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva e os rumos da política fiscal a partir de 2023.
A possibilidade de indicação de nomes de políticos petistas, vistos como mais favoráveis à expansão de gastos públicos, para comandar áreas estratégicas da economia também tem causado descontentamento entre investidores —na sexta, Lula já confirmou Fernando Haddad como seu ministro da Fazenda.
Após a reação negativa do setor financeiro, Haddad afirmou na noite desta segunda que deve “compor uma equipe plural”. “Não quero uma escola de pensamento comandando a economia”, disse Haddad, que deve anunciar parte dos nomes nesta terça (13).
Na segunda, temores de que o governo adotará uma política econômica mais intervencionista do que era esperado até então pelo mercado, aumentando a preocupação com a sustentabilidade fiscal, levaram a uma forte baixa na Bolsa e alta do dólar e dos juros.
O Ibovespa caiu 2,02% na véspera, aos 105.343 pontos, a menor pontuação desde agosto. Mais cedo, a Bolsa chegou a tombar mais de 3%, atingindo a pontuação mínima do dia, de 103.876. As ações preferenciais da Petrobras também despencaram 3,24%. O Banco do Brasil, outra empresa com peso na Bolsa e que é controlada pelo governo, perdeu 3,40%.
No mercado de câmbio, o dólar comercial à vista fechou em alta de 1,27%, cotado a R$ 5,3120 na venda.
Notícias de que o governo discute modificar a Lei das Estatais para permitir nomeações políticas, como a de Aloizio Mercadante para o BNDES e do senador petista Jean Paul Prates para a Petrobras, estão no centro dessas preocupações, em um cenário em que o mercado busca pistas sobre a definição da equipe da gestão Lula 3 e qual será a política fiscal a ser adotada.
Questionado por jornalistas nesta segunda sobre a possibilidade de assumir o comando de um ministério ou estatal no próximo ano, Mercadante se recusou a responder.
O ex-ministro petista coordenou o programa de governo de Lula durante a campanha eleitoral, e hoje comanda os grupos técnicos da equipe de transição.
“A principal preocupação que o mercado vem demonstrando é a entrada de alguém com perfil ideológico direcionado à proteção da industrialização, com utilização intensiva de recursos públicos para investimentos dentro das estruturas das empresas públicas”, comentou Igor Cavaca, chefe de gestão de investimentos da Warren.
Durante a campanha, Lula já defendeu um papel mais ativo para o BNDES durante seu novo mandato. Na semana passada, o próprio Mercadante defendeu que o banco precisa voltar a atuar fortemente no processo de reindustrialização.
Nesta segunda, porém, durante encontro com o presidente da Febraban (federação dos bancos), Isaac Sidney, o petista cotado para o BNDES teria afirmado que o futuro governo não repetirá uma política de subsídios.
Os rumores sobre a composição da equipe econômica provocam forte quebra da expectativa de que a gestão Lula 3 apresentaria nomes historicamente comprometidos com uma política fiscal mais restritiva.
Mercadante, por sua vez, afirmou que desconhece “qualquer iniciativa” por parte do governo eleito de alteração na Lei das Estatais. Como o petista atuou na campanha de Lula, sua indicação para uma estatal poderia entrar em conflito com a legislação.
Isso porque a lei diz que “é vedada a indicação, para o Conselho de Administração e para a diretoria, da pessoa que atuou, nos últimos 36 meses, como participante de estrutura decisória de partido político ou em trabalho vinculado a organização, estruturação e realização de campanha eleitoral”.
O economista e ex-ministro Nelson Barbosa, um dos coordenadores do grupo técnico (GT) de Economia, disse não ter opinião sobre uma mudança na Lei das Estatais, e acrescentou que o assunto não chegou a ser discutido no GT. Ele afirmou, no entanto, que o tema vai ser avaliado pelo comitê do Ministério do Planejamento, que é onde está a secretaria das empresas estatais.
Barbosa também criticou nesta segunda a reação do mercado à possibilidade de Mercadante ocupar uma vaga no novo governo.
O ex-ministro disse que o setor financeiro reage mal “a qualquer nome do PT”, mas que precisa aceitar que o partido venceu as eleições presidenciais.
Na ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) da semana passada divulgada nesta terça, o BC (Banco Central) afirmou que o impacto de “estímulos fiscais significativos” tende a ser maior sobre a inflação do que sobre a atividade econômica em um ambiente de baixa ociosidade.
O documento alerta ainda que o fiscal pode afetar a taxa neutra de juros do país.
“O Comitê julgou que há ainda muita incerteza sobre o cenário fiscal prospectivo e que o momento requer serenidade na avaliação de riscos. O Comitê reforça que seguirá acompanhando os desenvolvimentos futuros da política fiscal e seus potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, afirmou.