Presidente do BC teve reunião com o futuro ministro da Fazenda na terça-feira (13)
Poder360 – O presidente do BC (Banco Central), Roberto Campos Neto, disse que tratou de uma “coordenação fiscal e monetária” com o futuro ministro da Fazenda Fernando Haddad. Segundo ele, a autoridade monetária trabalha com um gasto extra-teto superior a R$ 130 bilhões em 2022 e de R$ 109 bilhões em 2024.
Ele concedeu entrevista a jornalistas no edifício sede da autoridade monetária, em Brasília. Apresentou o Relatório Trimestral de Inflação. O BC estima taxa anual de 6% em 2022 e de 5% em 2023.
Campos Neto participou de um almoço com Haddad e Gabriel Galípolo, futuro secretário-executivo do Ministério da Economia. O encontro durou 2 horas. Ele disse que a conversa foi “boa” e que tratou sobre a coordenação da política monetária e fiscal.
“Ele disse que concordava com quase todos os pontos. Espero, obviamente, continuar uma conversa próxima, porque a gente acredita que é muito importante ter uma coordenação da política fiscal e monetária”, disse.
Ele também tratou sobre crédito com Haddad: “A gente falou muito sobre esse processo das empresas grandes poderem ir direto ao mercado de capitais para sobrar espaço no balanço dos bancos para fazer mais [empréstimos] da pequena e média empresa”.
Contas públicas
Campos Neto disse que a autoridade monetária não comenta o cenário fiscal antes da aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) fura-teto. Disse que a volatilidade dos ativos financeiros demonstram uma percepção de aumento nas incertezas fiscais no país. Segundo ele, o Banco Central trabalha com gasto acima do teto de R$ 130 bilhões em 2023 e de R$ 108 bilhões em 2024, mas ainda será preciso “ver o que será aprovado”.
Ele afirmou que é importante “pensar na trajetória da dívida pública” e que é preciso esperar a adoção de medidas para calcular qual será o impacto nos preços e na política monetária. O presidente do BC declarou que ainda não sabe as implicações da proposta.
“A gente em política monetária aprende que se a gente comunicar bem a gente pode fazer menos e ter mais potência […] Cada vez mais a gente vê que no fiscal isso também é verdade. […] Às vezes, você pode gastar um pouco mais com menos efeito de credibilidade. É importante comunicar esse processo”, declarou Campos Neto.
Sem metas para crescimento
Campos Neto defendeu o modelo atual da autoridade monetária, que estabelece metas apenas para a inflação. Para ele, a melhor forma de atingir “crescimento saudável, sustentável, onde consiga ter uma geração de emprego que seja constante e gere eficiência na economia” é com estabilidade de preços.
Campos Neto disse em dezembro de 2021 que o Banco Central não vai criar metas para o emprego e crescimento econômico. O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), defendeu que as medidas sejam adotadas no país.
A lei estabelece ser dever da autoridade monetária assegurar a estabilidade de preços. Também é objetivo zelar pela estabilidade e eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações na atividade econômica e fomentar o pleno emprego –desde que não haja prejuízo no objetivo fundamental de controle da inflação.
Lula sinalizou, durante conversa com youtubers, em abril, que discorda do presidente do BC. “O mesmo BC que pode estabelecer a meta de inflação, por que a gente não pode colocar também para discutir as metas de crescimento, as metas de geração de emprego? Porque dá a impressão de que só uma coisa tem importância”, declarou em abril deste ano.
Os Estados Unidos têm meta para empregos. “Quando a inflação [norte-americana] subiu ao ponto de gerar um temor maior, o que o Banco Central americano fez foi enfatizar que era mais importante naquele momento, apesar deles terem duas metas com importâncias iguais, focar na meta de inflação”, disse Campos Neto. “A melhor forma de ter uma meta de crescimento e meta de emprego é ter certeza que a gente tenha estabilidade econômica e de preços, que as pessoas possam planejar investimentos de longo prazo”, completou.