Presidente russo desviou de sua descrição cuidadosamente elaborada da invasão de Moscou como uma “operação militar especial” 10 meses após seu início
Na última quinta (22), o presidente russo, Vladimir Putin, utilizou a palavra “guerra” pela primeira vez para se referir ao conflito na Ucrânia, que começou dez meses atrás. É a primeira vez que Putin de desviou de sua descrição cuidadosamente elaborada de chamar a invasão de Moscou como uma “operação militar especial”.
“Nosso objetivo não é girar o volante do conflito militar, mas, ao contrário, acabar com esta guerra”, disse Putin a repórteres em Moscou, depois de participar de uma reunião do Conselho de Estado sobre política para a juventude.
“Temos estado e continuaremos a lutar por isso.”
Os críticos de Putin dizem que usar a palavra “guerra” para descrever o conflito na Ucrânia é efetivamente ilegal na Rússia desde março, quando o líder russo assinou uma lei de censura que torna crime disseminar informações “falsas” sobre a invasão, com penalidade de até 15 anos de prisão para quem for condenado.
Portanto, o uso da palavra por Putin não passou despercebido.
Nikita Yuferev, um legislador municipal de São Petersburgo que fugiu da Rússia devido à sua postura anti-guerra, disse na quinta-feira que pediu às autoridades russas que processassem Putin por “espalhar informações falsas sobre o exército”.
“Não houve decreto para encerrar a operação militar especial, nenhuma guerra foi declarada”, escreveu Yuferev no Twitter. “Vários milhares de pessoas já foram condenadas por tais palavras sobre a guerra.”
Uma autoridade dos EUA disse à CNN que sua avaliação inicial foi de que o comentário de Putin não foi intencional e provavelmente um lapso de língua. No entanto, as autoridades estarão observando atentamente para ver o que as figuras dentro do Kremlin dizem sobre isso nos próximos dias.
Milhares foram mortos, aldeias inteiras destruídas e bilhões de dólares em infraestrutura destruída desde que a invasão de Putin na Ucrânia começou em 24 de fevereiro.
Naquele dia, Putin usou o termo “operação militar especial” para descrever seu ataque. Ele enquadrou a brutalidade em curso como uma campanha de “desnazificação” – uma descrição descartada por historiadores e observadores políticos – e cada vez mais descreveu a invasão não provocada da Rússia como uma causa patriótica e quase existencial.
Putin sobre mísseis Patriot e paz
Os comentários de Putin na quinta-feira (22) seguiram-se a uma viagem histórica de Volodymyr Zelensky a Washington, onde o presidente ucraniano fez um discurso apaixonado ao Congresso pedindo maior apoio dos EUA ao esforço de guerra.
Durante sua visita, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, revelou um pacote de assistência de US$ 1,8 bilhão para a Ucrânia, que inclui um sistema de defesa antimísseis Patriot – um pedido antigo de Kiev para combater os ataques aéreos russos.
Falando a repórteres em Moscou na quinta-feira, Putin descartou os sistemas Patriot como “antigos” e disse que a Rússia “sempre encontrará o antídoto”.
“Em relação aos Patriots, este é um sistema bastante antigo e não funciona tão bem quanto o nosso S-300 (sistema de mísseis)”, disse Putin.
“Aqueles que se opõem a nós acham que isso é uma arma defensiva, é o que dizem. Mas isso está na cabeça deles e sempre encontraremos o antídoto.
“Então, aqueles que fazem isso estão apenas perdendo seu tempo, apenas atrasando o conflito.”
Em seu discurso ao Congresso, Zelensky discutiu brevemente uma fórmula de paz de 10 pontos e uma cúpula sobre a qual contou a Biden durante uma reunião anterior na Casa Branca. O líder ucraniano afirmou que Biden apoiou as iniciativas de paz.
Questionado na quinta-feira por um repórter se havia uma chance real de diplomacia na Ucrânia, Putin disse que a negociação sempre precedeu o fim do conflito.
“Todos os conflitos, conflitos armados também, terminam de uma forma ou de outra com algum tipo de negociação”, disse Putin ao acusar Zelensky de se recusar a negociar.
“Nunca recusamos, foi a liderança ucraniana que se recusou a conduzir as negociações… mais cedo ou mais tarde qualquer parte do conflito se sentará e negociará e quanto mais cedo aqueles que se opõem a nós perceberem isso, melhor”, disse ele.
Putin e o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, declararam na quarta-feira (21) que o Kremlin fará um investimento substancial em muitas áreas das forças armadas.
As iniciativas incluem aumentar o tamanho das forças armadas, acelerar os programas de armas e implantar uma nova geração de mísseis hipersônicos para preparar a Rússia para o que Putin chamou de “confrontos inevitáveis” com seus adversários.