Ídolo se despede do palco onde mais jogou, mais fez gols e nasceu para o futebol
Globo Esporte – O Rei do futebol se despede nesta segunda-feira, 2 de janeiro de 2023, de seu trono. Pelé será velado, a partir das 10h, na Vila Belmiro, o estádio onde foi campeão, fez história, deixou saudade e para sempre será lembrado como o maior de todos os tempos.
Pelé morreu aos 82 anos no dia 29 de dezembro de 2022, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Antes do adeus, deixou vivos dois pedidos: que seu corpo fosse velado na Vila Belmiro e que seu caixão ficasse no Memorial Necrópole Ecumênica – local que tem vista para o estádio do Santos e “não parece um cemitério”, como dizia.
O ritual de despedida do Rei vai durar 24 horas, até as 10h de terça. Será o último ato de uma linda história construída ao redor da Vila Belmiro.
A casa do Rei
Pelé chegou ao Santos em 1956. Em junho do mesmo ano, depois de exibições de gala em treinos e jogos amadores justamente na Vila Belmiro, o Rei do futebol assinou seu primeiro contrato com o clube. Começava, ali, uma era.
Eleito o maior atleta do Século XX, Pelé jogou 1.364 jogos e fez 1.282 gols. O estádio onde mais vezes entrou em campo foi a Vila Belmiro, com 210 partidas. Foi na casa do Santos, também, onde o Rei do futebol mais fez gols: 288.
Quando era o camisa 10 e comandava o Santos pelo mundo, porém, Pelé deixou sua casa até pequena para tudo o que representava. Muitas de suas principais conquistas foram longe da Vila Belmiro. Os títulos mundiais, por exemplo, de 1962 e 1963, contra Benfica e Milan, tiveram finais disputadas em Portugal, na Itália e no Maracanã.
Dos 45 títulos conquistados por Pelé em sua carreira, cinco foram na Vila Belmiro: o Paulistão de 1960, 1961, 1964 e 1965, além do Campeonato Brasileiro de 1961. Mesmo assim, o estádio, casa do Santos, virou o trono do Rei do futebol e foi o palco de sua marcante despedida do clube.
Depois de títulos, recordes, histórias e muita memória, Pelé decidiu se aposentar em 2 de outubro de 1974 – a decisão seria revogada no ano seguinte, com o convite do New York Cosmos, dos Estados Unidos. O jogo contra a Ponte Preta, na Vila Belmiro, virou a despedida do Rei apenas com a camisa do Santos.
Pelé eternizou, naquela noite, uma cena até hoje única. Substituído aos 21 minutos de jogo, que acabou 2 a 0 para o Santos, o Rei do futebol se ajoelhou ao centro do gramado, abriu os braços e foi saudado por todos no estádio. Era o maior jogador de todos os tempos dando seu primeiro adeus à sua casa.
Naquele dia, Pelé guardou um segredo na Vila Belmiro. Já naquela época, cada jogador tinha seu armário no vestiário do estádio. O Rei do futebol guardou um objeto pessoal, trancou a porta, levou a chave embora e nunca mais abriu. Desde então, o estádio foi reformado diversas vezes, passou por várias transformações, mas o armário continua intacto. Nunca foi e nem deve ser aberto.
Mesmo longe dos gramados, Pelé continuou parte da Vila Belmiro. Como torcedor, se fez presente com frequência em um camarote acima de uma das arquibancadas do estádio. Dali, acenava para torcedores e era uma espécie de amuleto. Sempre que estava presente, era festejado por santistas nas arquibancadas.
Nesta segunda-feira, o contato com os fãs será em clima de despedida. O caixão de Pelé ficará posicionado no centro do gramado da Vila Belmiro, exatamente onde ele se ajoelhou para se despedir dos torcedores em 1974. Agora, receberá a todos pela última vez em seu trono. Será o último ato de Pelé na Vila Belmiro.