Parlamentar do Podemos anunciou renuncia do cargo durante live em redes sociais
Após o senador Marcos do Val (Podemos) denunciar uma tentativa de coação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para uma tentativa de golpe de Estado, a Polícia Federal irá intimar o parlamentar a depor na investigação aberta para apurar os ataques golpistas do dia 8 de janeiro.
O senador anunciou na madrugada desta quinta-feira (2) sua renúncia ao mandato e disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou coagi-lo a dar um golpe para seguir no Palácio do Planalto.
Marcos do Val será chamado para depor na condição de testemunha.
“Eu ficava puto quando me chamavam de bolsonarista. Vocês me esperem que vou soltar uma bomba. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de estado junto com ele, só para vocês terem ideia. E é logico que eu denunciei”, disse o senador.
A declaração foi dada durante uma live em suas redes sociais. Marcos do Val, eleito em 2018 com 863 mil votos para um mandato de oito anos (2019-2027), não deu mais nenhum detalhe sobre o que teria sido essa pressão do ex-presidente sobre o tema.
Em entrevista à GloboNews, ele disse que, após as eleições do ano passado, o deputado federal cassado Daniel Silveira, em uma conversa diante de Bolsonaro, propôs a ele um golpe.
Em linhas gerais, disse, a proposta envolveria manter ativos os acampamentos golpistas na porta de quartéis e gravar alguma conversa que comprometesse o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Do Val disputou uma eleição pela primeira vez em 2018 e se elegeu com 24,8% dos votos do Espírito Santo. Ele foi eleito na onda de Jair Bolsonaro (PL), que venceu aquele pleito presidencial e fez com que diversos aliados estreantes na política conquistassem vagas no Legislativo.
O senador também costuma dar voz às teses bolsonaristas. No último dia 13, fez críticas ao ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), e acusou o governo federal de permitir as invasões e depredações nas sedes dos Três Poderes.
“Tanto ele como o presidente Lula, sabiam de tudo e deixaram a tragédia acontecer. Pedirei seu afastamento e a sua prisão”, escreveu nas redes sociais. Ele visitou bolsonaristas presos.
Do Val é militar do Exército e ganhou fama como instrutor de agentes de segurança pública e privada, inclusive de outros países. Durante a CPI da Pandemia no Senado, o parlamentar se notabilizou pela defesa enfática do governo Bolsonaro.
Como mostrou a Folha, a PF atua em quatro linhas de investigação para apurar todos os fatos e pessoas relacionados aos ataques golpistas e vandalismo realizados por apoiadores de Bolsonaro.
Estão na mira dessas investigações o ex-presidente, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e autoridades que atuaram ou se omitiram durante a investida golpista
No caso de Bolsonaro, a PF mira os autores intelectuais dos ataques e o depoimento de Marcos do Val pode fortalecer as suspeitas de que as seguidas investidas golpistas do ex-presidente contribuíram para os ataques.
Bolsonaro, além de estar na mira das investigações sobre os ataques de 8 de janeiro, também é alvo do inquérito das milícias digitais por causa de sua atuação na live de 29 de julho de 2021 —quando levantou sem provas suspeita de fraude nas eleições por meio de falhas nas urnas eletrônicas— e pelo vazamento de um inquérito sigiloso sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral.
O ex-presidente está nos Estados Unidos e não se manifestou até o momento sobre as afirmações do senador.
Nesta semana, ele pediu visto de turista e deve permanecer mais tempo fora do país. Na terça-feira (31), ele afirmou que vai ficar mais tempo no país. “Estou há 30 dias aqui, pretendo ficar por mais algum tempo. Não tenho certeza quanto tempo ainda. Estou com muita saudades do meu país.”