Presidente destacou ainda o “silêncio do mercado” com relação ao episódio envolvendo a varejista
Em entrevista na última quinta (2), o presidente Lula (PT) teceu críticas ao empresário Jorge Paulo Lemann, um dos maiores acionistas da Americanas ao lado de Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. O presidente o comparou à Eike Batista.
Segundo Lula, Lemann “era vendido como suprassumo do empresário bem sucedido”, mas que agora “pode sofrer as mesmas consequências de Eike Batista”, se referindo a possibilidade de fraude fiscal envolvendo a varejista.
“É o que aconteceu com o Eike Batista. Ou seja, as pessoas vendem uma ideia que eles não são, na verdade. E o que eu fico chateado é o seguinte. Qualquer palavra que você fale na área social, qualquer palavra, o mercado fica nervoso, o mercado fica muito irritado. E agora um deles joga fora R$ 40 bilhões de uma empresa que parecia ser a empresa mais saudável do planeta e esse mercado não fala nada, ele fica em silêncio”, completou Lula.
O presidente comparou ainda o rombo na Americanas com uma “motociata” fiscal, uma versão do termo “pedalada fiscal”.
“Não é nem pedalada, é motociata… Ele era o cara que financiava jovens para estudar em Harvard para formar um novo governo, ele era o cara que falava contra a corrupção todos os dias. E depois ele comete uma fraude que pode chegar a R$ 40 bilhões, e agora me parece que está chegando na Ambev também. Vai acontecer o que aconteceu com o Eike Batista”, disse.
Foi na noite de 11 de janeiro que veio a público o primeiro comunicado informando que foram detectados erros contábeis que se desdobravam em um rombo não computado de ao menos R$ 20 bilhões no balanço da empresa.
Pouco mais de uma semana depois do estouro do escândalo, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial declarando dívidas que não tem capacidade de pagar da ordem de R$ 40 bilhões.
Este é o quarto maior processo de recuperação já registrado no Brasil.
Sobre a Ambev, que tem o mesmo trio de acionistas de referência da Americanas —Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, da 3G Capital—, a fabricante de cervejas foi alvo de acusação pela Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), que representa produtores menores, de praticar manobra tributária para pagar menos impostos.
À coluna Radar, da Veja, a associação diz que a Ambev se beneficiou de um suposto rombo tributário de R$ 30 bilhões, o que fez com que as ações da companhia figurassem entre as maiores quedas do Ibovespa nesta semana.
Em comunicado ao mercado, a Ambev diz que a acusação é falsa que foi “promovida de forma oportunista e irresponsável”. Diz ainda que a notícia foi publicada sem que a veracidade dos fatos fosse devidamente checada e sem que sua posição fosse ouvida.
“Calculamos nossos créditos tributários com base na legislação e nossas demonstrações financeiras estão de acordo com as regras jurídicas e contábeis, com ampla transparência sobre os litígios tributários envolvendo a companhia”.
Sobre o suposto rombo nas demonstrações financeiras, a Ambev disse que “não existe “rombo” algum. Temos litígios tributários em que divergimos da interpretação do Fisco. Esses litígios são o reflexo da complexidade do sistema tributário brasileiro e uma realidade de muitas empresas”.