Mensagens trocadas entre governador do DF e chefes de Poderes indicam que ele subestimou risco de ataques. Para Dino, presidentes do Congresso e do STF ficaram sem ter a quem recorrer.
Nesta sexta (10), o ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que mensagens trocadas entre os chefes dos Poderes e o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), “reforçam a necessidade” da criação de uma Guarda Nacional.
Autoridades entraram em contato com Ibaneis alertando sobre a possibilidade dos ataques golpistas de grave potencial.
A criação da Guarda Nacional está presente no pacote contra atos golpistas que foi entregue por Dino a Lula no dia 26 de janeiro e prevê o reforço na segurança de prédios públicos e do patrimônio nacional de Brasília.
A ideia é driblar eventuais omissões de policiais, como as que ocorreram no dia 8 de janeiro. Com isso, não seria somente a PM a responsável por proteger prédios públicos e o patrimônio nacional em Brasília.
Dino disse que as mensagens em que Ibaneis é cobrado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, “reforçam ideia da guarda nacional”.
“Não podemos deixar dependendo de um governador, de uma autoridade local, porque, em qualquer situação, se há uma eventual omissão, todos os poderes ficam desprotegidos. As mensagens mostram que os Poderes não tinham meios eficazes para mudar a situação”, avaliou o ministro da Justiça .
Ibaneis foi afastado do cargo por 90 dias após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele é investigado por suposta omissão na segurança do DF no dia dos ataques, quando vândalos depredaram as sedes dos três poderes da República.
Cronologia das mensagens
Veja a cronologia de troca de mensagens de Ibaneis com Dino no dia 8 de janeiro:
- 11h21
Ibaneis encaminha a Dino um relato do delegado Fernando de Souza Oliveira, então secretário de segurança em exercício.
“Público oriundo das caravanas em torno de 2.500 pessoas”, diz a mensagem.
“Verificou-se chegada de mantimentos (alimentos,água, material de higiene) e instalação de diversas barracas de camping e lona”, continua o relato.
E Ibaneis destaca:
“Situação tranquila, no momento.”
Ibaneis também encaminhou mensagem de áudio de Fernando. Nela, o secretário afirma: “Bom dia, governador! Passando pro senhor as últimas notícias…da madrugada e do início do dia…não houve nenhuma intercorrência relacionada aos manifestantes. Tudo bem tranquilo, eles estão lá no…a maioria no QG, mas de forma pacífica e tranquila”.
Dino responde Ibaneis: “Obrigado, amigo.”
- 14h31
Ibaneis encaminha para Dino novo áudio do secretário. “Informe do meio-dia”, escreveu o governador.
No áudio, Fernando diz: “Até agora nossa Inteligência está monitorando e não há nenhum informe de questão de agressividade ligada a esse tipo de comportamento. Então esse é o último informe pro senhor…Tem aproximadamente 150 ônibus já no DF, mas todo mundo de forma ordeira e pacífica”.
Dino responde Ibaneis:
“Oremos para que tudo acabe bem”, pede o ministro.
- 16h43
Nessa hora, os vândalos já haviam invadido os prédios e depredado as instalações públicas.
Ibaneis tinha recebido ligação de Dino às 16h05, mas não atendeu. No entanto, falou com a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, que alertou para a invasão do prédio do Congresso.
A esta altura, Ibaneis também já havia recebido relatos do secretário de Segurança interino sobre a gravidade da situação.
O então governador escreve para Dino:
“Vamos precisar do Exército”.
Nas mensagens extraídas pela PF, não aparece se Dino respondeu. O Exército não atuou na dispersão dos vândalos, que foi feita pela polícia.