Bebês indígenas recém-nascidos representaram quase 60% das mortes em menores de 1 ano de 2018 a 2022
Poder360 – A taxa de mortalidade de bebês no primeiro ano de vida na população yanomami atingiu 114,3 a cada 1.000 nascimentos em 2020.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas ONU), o número é 10 vezes a taxa do Brasil e supera a dos países africanos Serra Leoa e República Centro-Africana, que estão entre os mais pobres do mundo e têm os maiores índices de mortalidade de crianças. Serra Leoa tinha, em 2020, taxa de mortalidade de 80,5 a cada 1.000 nascimentos e a República Centro-Africana, de 77.
Segundo relatório da Missão Yanomami, divulgado pelo Ministério da Saúde, as mortes de bebês recém-nascidos representaram quase 60% do índice entre menores de 1 ano de 2018 a 2022. De acordo com o relatório, isso revela falha na atenção à gestação, ao parto e aos cuidados recebidos no nascimento.
O documento indica a desnutrição como uma das principais causas. A Missão Yanomami foi realizada de 15 a 25 de janeiro.
A doutora em nutrição e professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco Sonia Lucena explica que a desnutrição impacta severamente na imunidade das crianças.
“É muito comum na desnutrição você ter infecção respiratória aguda, às vezes pneumonia, e muitas vezes o que mata uma criança desnutrida é uma septcemia, porque o organismo dela, por não ter condições de se proteger, também perde as condições de se recuperar diante destas doenças. E o comprometimento no crescimento e no desenvolvimento normal do cérebro nesta faixa precoce da vida, ele é irrecuperável”, disse Sonia.
Dados coletados desde 2015 indicam frequência de baixo peso. Em 2021, esse índice chegou a 56,5% das crianças yanomami. Quase metade das gestantes estava abaixo do peso em 2022.
Crise humanitária dos yanomamis
O Ministério da Saúde declarou emergência de saúde pública no território yanomami brasileiro. A área sofre com desassistência sanitária e enfrenta casos de desnutrição severa e de malária. A portaria foi publicada em 20 de janeiro em edição extra do Diário Oficial da União.
Na mesma edição do DOU, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criou um comitê para enfrentar a situação sanitária em território Yanomami. O chefe do Executivo visitou a região em 21 de janeiro.
Em visita a Boa Vista (RR), Lula anunciou medidas emergenciais para enfrentar a crise sanitária da etnia. Médicos e enfermeiros da força nacional do SUS começaram a reforçar o atendimento aos indígenas a partir de 23 de janeiro.
Na ocasião, o presidente afirmou que o grupo é tratado de forma “desumana” em Roraima. “Tive acesso a umas fotos nesta semana. Efetivamente me abalaram porque a gente não pode entender como o país que tem as condições do Brasil deixar indígenas abandonados como estão aqui”, declarou.
Lula também criticou o ex-presidente Bolsonaro e afirmou que “se ao invés de fazer tanta motociata, ele [Bolsonaro] tivesse vergonha na cara e viesse aqui uma vez, quem sabe povo não estivesse tão abandonado”.
Em 22 de janeiro, os deputados do PT acionaram o MPF (Ministério Público Federal) para pedir a instauração de uma investigação criminal para apurar a atuação das autoridades do governo Bolsonaro no território. O documento é uma representação criminal pela desassistência sanitária e desnutrição severa da população.
Damares, Franklimberg Ribeiro de Freitas e Marcelo Augusto Xavier da Silva também são alvos da petição.
Além disso, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB-MA), determinou em 23 de janeiro que a Polícia Federal (PF) investigue a suposta prática de crimes de genocídio, omissão de socorro e de crime ambiental contra o povo indígena Yanomami em Roraima.
O Supremo Tribunal Federal (STF) comunicou, em 27 de janeiro, que diversas decisões em favor dos Yanomamis foram descumpridas pelo governo federal e outras entidades nos últimos 3 anos. Também falou em indícios de prestação de informações falsas à Justiça, que devem ser apuradas.
As medidas foram propostas pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), em julho de 2020, e acatadas pela Corte, com exceção da retirada de supostos invasores do território.