Mandatário brasileiro falou com Christiane Amanpour em Washington e afirmou que se o Brasil decidisse enviar munições para o conflito, seria a mesma coisa que “entrar na guerra”
Em entrevista exclusiva concedida para a CNN durante sua visita aos Estados Unidos neste mês, o presidente Lula (PT) foi questionado sobre o papel do Brasil em meio à Guerra na Ucrânia e seu posicionamento.
Quando perguntado sobre ser um defensor da democracia no mundo, mas que poderia se posicionar de maneira contrária a Biden sobre a Ucrânia e o porque de não defender o suporte de países ocidentais à Ucrânia no conflito, com o envio de armas e munições, Lula falou que o objetivo de suas conversas com chefes de Estado sobre o assunto é a paz.
“Estou comprometido com a democracia. No caso da Ucrânia e da Rússia, é preciso que alguém esteja falando sobre paz. Precisamos falar com o presidente Putin sobre o erro que foi a invasão [do território ucraniano], e devemos falar para a Ucrânia conversar mais. O que quero dizer a Biden é que é necessário um grupo de países pela paz”, disse. “Agora é preciso encontrar pessoas para tentar ajudar a consertar. E eu, eu sei que o Brasil não tem muita importância no cenário mundial, nessa lógica perversa dos conflitos do mundo. Mas eu posso te dizer que eu vou me dedicar para ver se encontro um caminho para alguém falar em paz”, acrescentou.
Apesar de se esquivar de citar um culpado pelo conflito, Lula afirmou que a Rússia errou ao decidir pela invasão e que a Ucrânia está no seu direito de defender seu território.
“Lógico que ela [a Ucrânia] tem o direito de se defender. Lógico que ela tem o direito de se defender, até porque a invasão foi um equívoco da Rússia. Ela não poderia ter feito isso. Afinal de contas, ela faz parte do Conselho de Segurança Nacional. Ou seja, isso não foi discutido no Conselho de Segurança. O que eu quero é dizer o seguinte: olha o que tinha que ser feito de errado já foi feito”, explicou Lula à Christiane Amanpour, da CNN, em Washington, nos Estados Unidos.
Durante a visita do chanceler alemão, Olaf Scholz, Lula ouviu o pedido para enviar munições para os ucranianos, mas negou na mesma hora. Segundo ele, se enviasse, o Brasil estaria entrando na guerra e isso é algo que não quer realizar.
“Eu não quis mandar [munição para Ucrânia], porque se eu mandar, eu entrei na guerra. E eu não quero entrar na guerra, eu quero acabar com a guerra”, afirmou.
Questionado sobre o discurso brasileiro ser diferente dos demais membros do BRICS, Lula falou que, mesmo assim, quer falar em paz com os envolvidos no conflito e nas discussões.
“Quero falar em paz com o presidente Putin. Quero falar em paz com o presidente Biden. Quero falar em paz com o Xi Jinping. Quero falar em paz com a Índia. Quero falar em paz com a Indonésia. Eu quero falar em paz com todo mundo. Porque, para mim, o mundo só vai se desenvolver se houver paz, houver tranquilidade”, disse o mandatário.