Copom se reúne nesta semana para decidir o rumo da Selic e indicar os próximos passos da política monetária; expectativa é pela manutenção em 13,75% ao ano
Estadão | O Comitê de Política Monetária (Copom) vai se ver no meio de uma encruzilhada nesta semana ao ter de decidir o rumo da taxa básica de juros e indicar quais serão os próximos passos da Selic. A conjuntura é difícil porque a atividade econômica desacelera, mas a inflação é resiliente, e o cenário global se tornou mais incerto.
O rumo da política monetária se transformou em um embate público da ala política do governo, encabeçada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), contra as decisões de Roberto Campos Neto na condução do Banco Central. No início de fevereiro, o petista chegou a afirmar que não via uma “explicação” para o patamar atual da Selic, em 13,75% ao ano.
A grande alegação do governo e da equipe econômica é de que os juros elevados estão provocando uma desaceleração da economia. Em 2023, bancos e consultorias projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) avance próximo a 1%, abaixo do crescimento de 2,9% registrado no ano passado. E pior: não existe um cenário promissor para os próximos anos. O País também já vê um cenário mais difícil da expansão do crédito para famílias e empresas, sobretudo, depois do episódio envolvendo a Lojas Americanas, e uma perda de fôlego no mercado de trabalho.
No radar do BC, no entanto, há uma inflação resiliente – próxima de 6% -, e expectativas fora de controle, se afastando semana a semana das metas estabelecidas. Existem ainda dúvidas com relação ao novo arcabouço fiscal, que será apresentado publicamente pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. Nesse cardápio, também surgiram sinais de fragilidade da economia mundial com os últimos solavancos no sistema financeiro global.
“É uma situação difícil. Estamos num momento de transição. A inflação está desacelerando, mas ela é resistente”, afirma Alessandra Ribeiro, sócia e economista da consultoria Tendências.
As críticas e pressões em relação ao atual patamar da taxa básica de juros não ficam restritas apenas ao presidente Lula. Entidades do setor produtivo também passaram a defender a queda da Selic. Entidades do setor produtivo também passaram a defender uma queda da Selic. “O juro alto é uma doença no Brasil e parece que ela não tem cura”, diz José Velloso, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
Hoje, o Brasil lida amplamente com os efeitos de uma política monetária contracionista, que leva até nove meses para se materializar na economia. Entre março de 2021 e junho do ano passado, a Selic subiu de 2% para 13,75%.
Nesse período, o setor de máquinas e equipamentos – considerado um importante termômetro do desempenho do investimento no País – sentiu os efeitos dessa elevação. Em 2021, o faturamento cresceu 28%. No ano passado, recuou 6%. “A política monetária atingiu direto no nosso setor”, afirma Velloso.
Um levantamento realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que 23,8% dos empresários apontavam os juros elevados como um dos principais problemas enfrentados pelo setor no ano passado. Em 2021, essa queixa foi de 14,2% dos entrevistados.
“O aumento dos juros encarece os investimentos, e as empresas tendem a segurá-los”, afirma Mário Sérgio Telles, gerente executivo de economia da CNI. “E, além disso, do outro lado, há uma demanda menor para realizar esses investimentos.”