Ex-presidente da Câmara explica que por conta da preferência do PT, partidos que poderiam ser parte da base governista estão com pé atrás com Lula no Congresso
Em entrevista para o jornalista William Wack, da CNN, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, fez uma análise de como está a atuação do governo nas relações com a Câmara e com o Senado.
Para Maia, a impressão que o governo passa é de não conseguir montar uma base aliada, principalmente no parlamento. Segundo o político, a priorização do PT na montagem do governo afetou sua relação com os outros partidos, dificultando uma definição desta base.
“A impressão que dá é que não (está conseguindo montar uma base governista). A formação do governo, tudo ali de última hora. Pelo menos na Câmara, a impressão que eu tenho é que o governo ainda terá muita dificuldade até encontrar um ponto de equilíbrio na relação de uma maioria com o governo. O governo teve uma oportunidade de montar um governo com uma relação mais ampla, com a participação mais efetiva dos partidos, mas a priorização do Partido dos Trabalhadores vai gerar necessidade de uma segunda negociação”, afirmou Maia.
No Senado Federal, a situação é um pouco melhor, mas na Câmara a situação é mais difícil, podendo sobrar apenas o Orçamento Federal como barganha nas conversas entre partidos.
“No Senado está melhor organizado, mas na Câmara, do jeito que a coisa está colocada, vai sobrar o Orçamento para negociar. Eu acho que não é o melhor caminho. O Orçamento faz parte de um processo de uma formação de maioria do governo e acabou que essa formação ficou frágil, com a relação do governo com o Congresso”, disse.
O cientista político Murillo de Aragão destacou que a “institucionalidade” do governo mudou dos últimos governos petistas até hoje. Com o Congresso tendo muito mais poder do que anteriormente, as negociações ficaram muito mais complexas, principalmente tendo como principais organizadores de maiorias os presidentes da Câmara e do Senado, e não mais o presidente do Executivo.
“A institucionalidade do governo mudou frente ao que foi os governos Lula 1, Lula 2, Dilma 1 e até Dilma 2. O Congresso tem mais poderes do que tinha antes, o que faz com que o balanço de força seja mais complexo do que antigamente. O governo operava maiorias com mais facilidade, hoje os grandes organizadores de maioria são os dois presidentes das Casas. O fato é que o governo tem certa maioria, mas de proteção, que pode protegê-lo de grandes problemas. Mas uma maioria afirmativa vai depender das agendas”, explicou Aragão.
“O fato da mudança de regime político para um semi-parlamentarismo ou semi-presidencialismo, instalado no Brasil de hoje faz com que a negociação seja muito mais sofisticada do que no passado”, completou o cientista político.