Novo responsável pelos casos remanescentes da Lava-Jato, juiz Eduardo Appio revogou ordem de prisão preventiva contra o advogado, acusado de lavagem de dinheiro para a Odebrecht
Valor – Com a decisão do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Eduardo Appio, de enviar o caso envolvendo o advogado Rodrigo Tacla Duran e o senador Sergio Moro (União-PR) ao Supremo Tribunal Federal (STF), a investigação pode acabar nas mãos do novo ministro da Corte, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Inicialmente, o processo deve ser direcionado ao gabinete do ministro Ricardo Lewandowski, relator de uma ação que suspendeu decisões da operação Lava-Jato contra o petista. O ministro, no entanto, está prestes a se aposentar compulsoriamente, porque completa 75 anos no início de maio.
Novo responsável pelos casos remanescentes da operação em Curitiba, Appio decidiu, há alguns dias, revogar a ordem de prisão preventiva expedida contra o advogado, acusado de lavagem de dinheiro para a Odebrecht. A decisão havia sido dada por Moro, quando ele era o juiz responsável pela Lava-Jato.
Na segunda-feira (27), ao prestar depoimento, Tacla afirmou ter sido vítima de um suposto esquema de extorsão. Além de Moro, ele mencionou o nome do deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR), que foi coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba.
Após a citação, o juiz encerrou a audiência e pediu que o caso fosse enviado ao STF, já que, por serem parlamentares, eles possuem prerrogativa de foro. “Encerro a presente audiência para evitar futuro impedimento, sendo certa a competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, na pessoa do excelentíssimo senhor ministro Ricardo Lewandowski, juiz natural do feito, porque prevento”, escreveu Appio em seu despacho.
O magistrado também decidiu encaminhar Tacla Duran ao programa federal de proteção de testemunhas “por conta do grande poderio político e econômico dos envolvidos”.
Desde 2017, o advogado faz acusações contra um amigo de Moro, o advogado Carlos Zucolloto Junior. Ele foi sócio da mulher do ex-juiz, Rosangela Moro, que hoje é deputada por São Paulo.
Na época, Tacla Duran disse ter recebido pedido de pagamento para ajudar em uma negociação de delação premiada. O casal Moro sempre negou as acusações, assim como Zucolloto.
Se o caso permanecer no STF, ele será tocado pelo substituto de Lewandowski. Se Lula indicar seu advogado, Cristiano Zanin, porém, poderá haver um conflito de competência. O petista foi preso na Lava-Jato, por determinação de Moro. Zanin atuou nos processos que tramitam no Supremo e, por isso, estaria impedido de ser o relator da investigação contra o ex-juiz da Lava-Jato.
Na semana passada, Lula e Moro voltaram a trocar farpas públicas. O presidente disse em uma entrevista que, quando estava preso em Curitiba, só pensava em “f…” com o então magistrado. Em seguida, o petista criticou o desafeto após a Polícia Federal (PF) revelar um plano de uma organização criminosa que queria sequestrar e matar o atual senador, devido à sua atuação como ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro.
Em nota, Moro rebateu as declarações de Tacla Duran. “Desde 2017 faz acusações falsas, sem qualquer prova, salvo as que ele mesmo fabricou. Tenta desde 2020 fazer delação premiada junto à Procuradoria-Geral da República, sem sucesso. Por ausência de provas, o procedimento na PGR foi arquivado em 9/6/22”, afirmou.
O texto diz ainda que o “senador não teme qualquer investigação, mas lamenta o uso político de calúnias feitas por criminoso confesso e destituído de credibilidade”.
Já Deltan se manifestou pelas redes sociais e questionou a imparcialidade de Appio. “Adivinha quem acreditou num dos acusados que + tentou enganar autoridades na Lava Jato? Ele mesmo, o juiz lulista e midiático Eduardo Appio (+ conhecido como LUL22), que nem disfarça a tentativa de retaliar contra quem, ao contrário dele, lutou contra a corrupção”, escreveu no Twitter.