O Globo – Em meio a uma série de movimentos para distensionar a relação com os militares, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá nesta quarta-feira à cerimônia do Dia do Exército, comemorado em 19 de abril. A solenidade ocorrerá no Quartel General do Exército, em Brasília, pouco mais de três meses após os ataques terroristas de 8 de janeiro.
Até esta data, foi em frente ao QG do Exército que estavam localizadas as manifestações que se tornaram o epicentro da trama golpista que resultou na invasão da sede dos Três Poderes no oitavo dia do mandato de Lula.
A aproximação com a caserna vem sendo costurada pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Tem partido dele a iniciativa para Lula participar de eventos com os fardados.
Ao lado de Múcio, Lula cumprimentou 56 oficiais-generais das Forças Armadas, promovidos no final de março, em uma cerimônia 4 de abril no Palácio do Planalto. Dias antes, em 23 de março, Lula foi ao Complexo Naval de Itaguaí, no litoral do Rio de Janeiro, para acompanhar os avanços do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, batizado de ProSu, que serão empregados no patrulhamento da costa brasileira.
Lula deve almoçar com o comandante do Exército, general Tomás Ribeiro Paiva, e o generalato no começo de maio. O presidente almoçou com o comandante da Marinha, Marcos Sampoio Olsen, e o almirantado em 15 de março e fará a mesma agenda com o comando da Aeronáutica.
Todos essas agendas, aliado ao compromisso do Planalto em investir na indústria de Defesa e manter projetos estratégicos para Marinha, Exército e Aeronáutica, integram um processo para distensionar as relações do Planalto com os fardados. Na avaliação de integrantes do Ministério da Defesa, o movimento é complexo e será uma construção em etapas, que demandará esforços de ambos os lados.
A efetividade dessa série de ações, no entanto, dependerá de outra sequência de gestos, como a manutenção de uma agenda frequente com as Forças e o encaminhamento das propostas de investimento. De outro lado, Marinha, Aeronáutica e Exército também tem feito gestos ao Planalto. As Três Forças enviaram comunicados recentes para suas tropas determinando que os militares que ainda estejam vinculados a partidos políticos se desfiliem, sob risco de punição.
A Constituição proíbe que militares da ativa sejam filiados a partidos políticos. Em entrevista ao portal Brasil 247 no final de março, Lula afirmou que tem palavra da Marinha, do Exército e da Aeronáutica de que farão um esforço para despolitizar as Forças Armadas.
— Tenho a palavra das três forças de que vai ter um esforço muito grande para despolitizar as Forças Armadas. Vamos discutir com o Congresso. Temos interesse em mandar o projeto de lei dizendo que quem quiser ser candidato a alguma coisa vá para a reserva. O que não dá é ficar utilizando as Forças Armadas para fazer política — disse Lula em entrevista ao site “Brasil 247”.