ESTADÃO | Puxado pelo agronegócio, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todo o valor gerado na economia) do Brasil acelerou e cresceu 1,9% no primeiro trimestre deste ano, revertendo a queda apurada nos últimos três meses de 2022. O número foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 1º.
O desempenho da economia brasileira nos primeiros três meses do ano ficou dentro do esperado pelas projeções colhidas pelo Broadcast, cujo intervalo variava de 0,4% a 2,4%, e acima da mediana, que era de 1,2%.
No primeiro trimestre, o agronegócio cresceu 21,6%. O resultado foi impulsionado pela combinação de safra recorde – que deve alcançar mais de 300 milhões de toneladas neste ano – e pelos preços elevados das commodities.
“As expectativas (positivas) com a agropecuária se confirmaram, principalmente na parte de produção de grãos. Houve uma seca no Sul, mas ela foi mais localizada”, diz Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Em geral, o agro é muito forte no primeiro trimestre e, depois, vai perdendo força.”
Os números divulgados pelo IBGE nesta quinta-feira também revelam um avanço do setor de serviços (alta de 0,6%), o mais afetado no auge da pandemia, que ainda mostra resiliência e se beneficia da reabertura da economia e dos resultados do mercado de trabalho. A indústria, por sua vez, recuou 0,1%.
“Há uma resiliência do setor de serviços, mesmo com uma alta taxa de juros desde o ano passado. Esperávamos uma desaceleração para este setor”, afirma Claudia Moreno, economista do C6 Bank. “É difícil saber por que está assim. Algumas suposições indicam que ainda há uma demanda reprimida da pandemia, com mais pessoas fazendo viagens, por exemplo.”
Em relação à demanda por bens e serviços, o item “consumo das famílias” cresceu 0,2%, ajudado, em parte, pela política de transferência de renda. O “consumo do governo”, por sua vez, avançou 0,3%. Mas os investimentos caíram 3,4%.
“O PIB (do primeiro trimestre) é bom, mas ele tem uma certa dualidade. Um lado da economia está melhor, porque se beneficia da transferência de renda, da queda da inflação e das commodities”, diz Silvia Matos. “Mas há, também, um outro lado. Estamos vivendo um período em que as condições financeiras estão desfavoráveis.”
E o que esperar?
Na avaliação dos analistas, a economia brasileira vai perder ritmo nos próximos trimestres por causa do fim do ciclo positivo da agropecuária e pelo cenário de Selic elevada – atualmente em 13,75% ao ano. Juros altos encarecem o crédito para as famílias, e deixam os investimentos menos atrativos.
A expectativa é a de que o PIB do segundo trimestre ainda cresça, mas o País corre o risco de observar uma queda da atividade na segunda metade do ano.
“No primeiro semestre, deve haver uma variação positiva no PIB. No segundo semestre, será quando a atividade econômica, em geral, começa a sofrer os impactos dessa política monetária (de juros) mais contracionista”, diz Laiz Carvalho, economista do banco BNP Paribas
Por ora, as projeções dos economistas indicam que o PIB brasileiro deve avançar entre 1,5% e 2% neste ano.