O Antagonista | A vitória do advogado Antônio Rueda sobre Luciano Bivar na disputa pelo comando do União Brasil representa não apenas a derrota de uma ala mais jovem contra um velho cacique partidário. Simboliza, acima de tudo, a ressurreição de outras raposas, que estavam praticamente alijadas da política: a ala mais conservadora do DEM, que outrora foi PFL.
A genealogia não mente. O partido surgiu da fusão do PSL (criado por Bivar) com o DEM. O DEM nasceu dos restos mortais do PFL, aquele comandado pelo antigo Antônio Carlos Magalhães – o pai, não o Neto – e que contava com nomes como, por exemplo, José Sarney.
Quando o PSL discutiu a possibilidade de fusão com o DEM, a ala de ACM Neto tinha um plano. Tirar Bivar do comando do partido. O raciocínio era simples. Bivar havia criado o nanico PSL, em 1994, como a clássica legenda de aluguel. Como Bivar já havia dado sinais de fraqueza, uma fusão com o DEM poderia, no longo prazo, servir como subterfúgio para uma virada completa nos rumos do partido.
Agora, quando foi anunciada a fusão em 2021, nunca se imaginou que esse plot twist no União Brasil ocorreria tão precocemente.
Bivar começou a perder o controle do PSL, ironicamente, a partir da entrada de Jair Bolsonaro. O negócio era bom para ambos. Bivar entregava o PSL para Jair lançar sua candidatura à Presidência da República; Jair tinha liberdade, dinheiro e estrutura – ainda que capenga – para ditar seus próprios rumos.
Jair foi eleito presidente e Bivar viu o seu PSL se tornar o segundo maior partido da Câmara com 52 cadeiras. O DEM, naquele ano, fez, 29 deputados.
Só que Bivar não contava com a imprevisibilidade de Jair – nem com a dos membros da ala bolsonarista da sigla. Como ninguém se entendia no PSL e Bivar não queria ceder a certos caprichos de Jair Bolsonaro, Jair foi convencido a montar seu próprio partido. Não deu certo. Sem alternativa, coube a Jair ir para o PL e levar metade dos seus deputados.
Bivar ficou com o que restou do PSL – algo em torno de 30 deputados. Sem força, a fusão com o DEM, capitaneada por ACM Neto, foi uma alternativa para que as duas siglas mantivessem expressão o cenário político brasileiro. Assim, sugira o União Brasil.
Mas o grupo de ACM – que também conta com Ronaldo Caiado (governador de Goiás) e com Elmar Nascimento (líder do governo na Câmara) – não gostava do estilo de gestão provinciano de Bivar. Era pouco para eles. A alternativa foi, aos poucos, se apossar dos nacos mais importantes da sigla. ACM assumiu a tesouraria do União Brasil e ele foi o responsável por distribuir os recursos durante a campanha de 2022. Com dinheiro, prestígio e sem se expor publicamente, foi fácil fazer a cabeça de outros integrantes da sigla a trair Bivar.
Agora, esse grupo que assume o União – quase todos remanescentes do DEM – vai dar as cartas na sigla, o que resultará em uma profissionalização partidária do partido. Agora o União é um player importante na disputa pelo comando da Câmara, Senado e até da presidência da República em 2026.