Pesquisa da Associação Médica Brasileira mostra ainda que 88,3% dos profissionais já tiveram doentes que interromperam um tratamento por reajustes financeiros das operadoras
O Globo – Uma pesquisa realizada pela Associação Médica Brasileira (AMB) em conjunto com a Associação Paulista de Medicina (APM), divulgada nesta quinta-feira, revelou que 53% dos médicos do Brasil já tiveram interferências ou tentativas no tratamento de pacientes por parte dos planos de saúde. Além disso, 88,3% já tiveram pacientes que precisaram largar algum procedimento médico devido aos reajustes nas mensalidades das operadoras.
Os dados foram coletados a partir de um questionário com a participação de 3.043 médicos brasileiros entre 25 de fevereiro e 9 de março. Destes, cerca de 70% atendiam planos de saúde. Os relatos mostram um cenário de dificuldades em tratamentos impostas pelas operadoras, além de consequências graves pelos preços elevados.
— Esse cenário precisa ser trazido à tona. A relação entre os planos de saúde, os médicos e os pacientes precisa se tornar mais harmônica. Isso impacta no tipo de tratamento, na forma como ele é feito. A partir dos relatos, de forma direta ou indireta, é possível ver que essa interferência acaba impactando na qualidade da assistência, no êxito do tratamento — defende o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Fernandes.
A pesquisa mostra ainda que 51,8% dos profissionais já tiveram dificuldades para internar pacientes, e 53,1% já passaram por situações em que os planos de saúde fizeram pressão para antecipar a alta. Em relação à realização de exames, 80,6% contaram ter restrições para os procedimentos por parte das empresas.
Além disso, 92,4% dos médicos acreditam que os planos de saúde não investem em campanhas de prevenção da forma que deveriam, e 85,8% já sofreram com glosas – não recebimento por serviços devido a inconsistências – ou atrasos no pagamento.
Para o presidente da Associação Paulista de Medicina (APM), José Luiz Amaral, as pressões e tentativas de interferência por parte das operadoras de saúde são algo grave e que pode comprometer o resultado de um tratamento médico.
— Impacta brutalmente. Por exemplo, se eu não recebo uma autorização para internar alguém que precisa, um determinado tratamento pode ser procrastinado ou nem realizado, agravando a situação clínica do paciente. Ou se o paciente precisa estender a internação, e o plano não autoriza. Como um médico pode oferecer um tratamento integral nessas condições? — questiona Amaral.
Ambos reforçam que hoje os médicos têm uma alta dependência dos planos de saúde e, por isso, as práticas relatadas no dia a dia por parte das operadoras atrapalham a autonomia do profissional
— Escolher outros tratamentos, eventualmente dar uma alta mais cedo, precisam ser escolhas do médico sem precisar pensar pelo lado financeiro — diz Fernandes.
— Existe uma clara interferência dos planos de saúde sobre a prática profissional, representada de diversas formas de pressão por redução de gastos, até de evitar internação, acelerar uma alta, o que é gravíssimo — complementa Amaral.