Juruna, secretário-geral da Força, afirma que não espera confronto no 1º de Maio
Folha de S Paulo – Mesmo com os planos dos bolsonaristas de fazer manifestação na avenida Paulista no 1º de Maio, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, diz que não espera confronto com os participantes do ato das centrais sindicais, que terão a presença de Lula na praça Charles Miller. Para ele, o caráter histórico do evento afasta o receio de confusão neste domingo. Juruna também vê o ambiente pacificado no recente desentendimento das centrais por causa do documento conjunto com as propostas dos trabalhadores aos presidenciáveis, que teve uma versão individual da CUT.
“Isso já se superou. O Lula já veio no evento. Puxou a orelha deles, pediu um documento unitário. Estamos trabalhando para que a campanha vá bem”, diz.
O sindicalista avalia que a polêmica em torno da proposta de revogar ou revisar a reforma trabalhista é uma discussão ilusória. “Não acredito que o Lula vai revogar em uma canetada. Isso, para mim, é vender ilusão. Tudo o que for feito para mudar legislação trabalhista vai ter de ser novamente negociado com empresários, trabalhadores e parlamento.”
Não. O evento não é de enfrentamento. É mais um ato histórico, e as nossas reivindicações vão ser colocadas pelas lideranças que vão falar. Estamos convidando representações institucionais, político-partidárias, de diversos matizes. O convite foi amplo. Uns confirmaram, outros não, mas buscamos fazer o mais amplo possível.
E a ausência de Geraldo Alckmin? Como foi recebida por vocês? A aproximação dele seria importante?
Ninguém confirmou que ele ia nem que não ia. Seria interessante ele estar lá, mas ele não confirmou. Nós da secretaria-geral da Força fizemos a relação de todos os convidados e os contatos estão sendo feitos.
E a decisão da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros), que decidiu não participar do ato unificado com as outras centrais no 1º de Maio?
Eles disseram que há uma busca por protagonismo entre as centrais, que está faltando solidariedade. O que significa isso? Somos dez centrais. Quando se organiza algo assim, há milhares de dirigentes sindicais que querem falar. Tem, às vezes, uma cotovelada aqui e acolá, mas nada que possa prejudicar o 1º de Maio.
Eu tenho a opinião de que o fato de fazerem separado não prejudica. O evento deles, com certeza, vai tocar em bandeiras que eles ajudaram a construir e que foi a pauta do Conclat [Conferência Nacional da Classe Trabalhadora]. Não vejo antagonismo no fato de ele fazer em Itatiba. Talvez pela candidatura do PDT ele achou melhor fazer separado.
E o mal-estar da CUT com as outras centrais sobre a pauta conjunta de reivindicações?
Isso já se superou. O Lula já veio no evento. Puxou a orelha deles lá, pediu um documento unitário. Estamos trabalhando para que a campanha vá bem.
E os movimentos recentes do deputado federal Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que foi vaiado em evento com Lula e se reuniu com Aécio Neves (PSBD-MG)? Como avalia?
Acho importantíssimo que o Paulinho esteja na campanha [de Lula]. Dia 3, o Solidariedade vai se manifestar a favor dessa coligação.
São detalhes [o episódio das vaias]. O Paulinho fez do limão uma limonada. Demonstrou que quer apoiar o Lula e, mais do que isso, quer ampliar o leque de alianças com o Lula. Por isso, dia 3, ele convidou várias personalidades do MDB, de outros partidos de centro, que seria interessante estarem junto com o Lula.
Recentemente, as centrais foram recebidas na Fiesp pela nova gestão de Josué Gomes da Silva. O diálogo está melhor do que na gestão Paulo Skaf?
Parece que ficou melhor com o Josué. Primeiro, porque ele sempre foi um bom interlocutor. Segundo, as centrais sindicais entendem que fortalecer as negociações coletivas é fundamental para as relações entre capital e trabalho.
Essa aproximação que nós fazemos com a Fiesp é no sentido de valorizar as negociações coletivas, os acordos coletivos por empresa. E para isso precisa ter sindicato forte.
Do nosso lado, financeiramente é importante que tenha um respaldo dos trabalhadores para que as negociações sejam fortes, com financiamento. E do lado empresariado também, que foi também prejudicado com a mudança da lei.
Não queremos que o estado decida por nós. Queremos fortalecer a negociação coletiva. Para isso precisa ter sindicato forte, com financiamento dos trabalhadores.
E qual é a sua opinião sobre as sinalizações do PT em relação a reforma trabalhista?
O pessoal fica falando em revisar ou revogar. Desde que começou esse debate, começou com a expressão do acordo espanhol, que não foi revogar. Foi uma negociação no Parlamento, da qual participaram empresários e representantes dos trabalhadores. Aqui vai ser a mesma coisa.
Não acredito que o Lula vai revogar em uma canetada. Isso, para mim, é vender ilusão. Tudo o que for feito para mudar a legislação trabalhista, que foi aprovada e traz prejuízo para a gente, vai ter de ser novamente negociado com empresários, trabalhadores e o parlamento.
Não existe isso de prometer que vai, em uma canetada, revogar. Isso é enganação. Acredito que vai haver, sim, negociação entre as partes: trabalhadores, empresários, estado e parlamento, que vai votar a proposta que, por acaso, se chegue em um acordo.
Raio-x
Secretário-Geral da Força Sindical e 2º Vice-Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, trabalhou como petroleiro nos anos 1970 e foi eleito para Cipas nos anos seguintes. Entre outras posições, foi presidente do Dieese e cursou sociologia na Escola de Sociologia e Política de São Paulo.