Dmitry Medvedev afirmou que a possibilidade poderia ser desencadeada em caso de uma derrota dos russos contra a Ucrânia
Na última quinta (19), o ex-presidente da Rússia e aliado de Vladimir Putin, Dmitry Medvedev, alerto a Otan que uma derrota da Rússia na guerra contra a Ucrânia resultaria em uma guerra nuclear. Enquanto isso, o chefe da Igreja Ortodoxa Russa disse que o mundo acabaria se o Ocidente tentasse destruir a Rússia.
Essa retórica apocalíptica visa impedir que a aliança militar da Otan, liderada pelos Estados Unidos, se envolva ainda mais na guerra, na véspera de uma reunião dos aliados da Ucrânia para discutir o envio de mais armas a Kiev.
Mas, o reconhecimento explícito de que a Rússia pode perder no campo de batalha marcou um raro momento de dúvida pública de um proeminente membro do círculo íntimo de Putin.
“A derrota de uma potência nuclear em uma guerra convencional pode desencadear uma guerra nuclear”, disse o ex-presidente russo Dmitry Medvedev, que atua como vice-presidente do poderoso conselho de segurança de Putin, em um post no Telegram.
“As potências nucleares nunca perderam grandes conflitos dos quais depende seu destino”, disse Medvedev, que foi presidente de 2008 a 2012.
Atingindo um tom semelhante ao que descreveu como um momento de ansiedade para o país, o chefe da Igreja Ortodoxa Russa disse em um sermão para a epifania que tentar destruir a Rússia significaria o fim do mundo.
Medvedev disse que a Otan e outros líderes de defesa, que devem se reunir na Base Aérea de Ramstein, na Alemanha, na sexta-feira (20), para falar sobre estratégia e apoio à tentativa do Ocidente de derrotar a Rússia na Ucrânia, devem pensar sobre os riscos de sua política.
Putin classifica a “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia como uma batalha existencial, com um Ocidente agressivo e arrogante, e disse que a Rússia usará todos os meios disponíveis para proteger a si mesma e a seu povo.
Hora de Alarme
O chefe do Kremlin tem procurado nos últimos meses preparar os russos para uma batalha muito mais dura, ao mesmo tempo em que promete uma vitória final em uma guerra que os líderes do Ocidente dizem que nunca o deixarão vencer.
Os Estados Unidos negaram as alegações russas de que desejam destruir a Rússia, enquanto o presidente Joe Biden alertou que um conflito entre a Rússia e a Otan poderia desencadear a Terceira Guerra Mundial.
Mas, os principais aliados de Putin dizem que as dezenas de bilhões de dólares em assistência militar dos EUA e da Europa à Ucrânia mostram que a Rússia está agora em confronto com a própria Otan – o pesadelo da Guerra Fria dos líderes soviéticos e ocidentais.
O patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa, disse em um sermão: “Oramos ao Senhor para que ele traga os loucos à razão e os ajude a entender que qualquer desejo de destruir a Rússia significará o fim do mundo”.
“Hoje é um momento alarmante”, disse ele, segundo a agência de notícias estatal RIA. “Mas acreditamos que o Senhor não deixará a terra russa.”
O ministro das Relações Exteriores de Putin, Sergei Lavrov, disse a repórteres em Minsk que a Rússia fará de tudo para garantir que os líderes da Otan e da União Europeia fiquem “sóbrios” o mais rápido possível.
“Espero que a sobriedade chegue”, disse Lavrov. “Faremos de tudo para que nossos colegas da Otan e da União Europeia fiquem sóbrios o mais rápido possível.”
Doutrina Nuclear
A invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro desencadeou um dos conflitos europeus mais mortíferos desde a Segunda Guerra Mundial, e o maior confronto entre Moscou e o Ocidente desde a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962.
Os Estados Unidos e seus aliados condenaram a invasão russa da Ucrânia como uma apropriação imperial de terras, enquanto a Ucrânia prometeu lutar até que o último soldado russo seja expulso de seu território.
Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, Medvedev levantou repetidamente a ameaça de uma guerra nuclear, mas sua admissão agora da possibilidade de derrota da Rússia indica o nível de preocupação de Moscou com o aumento das entregas de armas ocidentais à Ucrânia.
A Rússia e os Estados Unidos, de longe as maiores potências nucleares, detêm cerca de 90% das ogivas nucleares do mundo.
Questionado se os comentários de Medvedev significam que a Rússia está levando a crise a um novo nível, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse: “Não, absolutamente não significa isso.”
Ele disse que os comentários de Medvedev estavam de acordo com a doutrina nuclear da Rússia, que permite um ataque nuclear após “agressão contra a Federação Russa com armas convencionais, quando a própria existência do Estado está ameaçada”.