Levantamento do g1 feito com base nos apoios formais e informais aos 219 nomes de candidatos aos governos dos estados e do DF mostra que a divisão nacional entre os partidos não se reproduz regionalmente.
G1 – As alianças entre os partidos na disputa aos governos estaduais contrariam, no plano nacional, 10 das 12 chapas presidenciais. As duas únicas exceções são o PCB e o PSTU.
As 12 candidaturas anunciadas ao Palácio do Planalto têm a participação oficial de 25 das 32 legendas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), distribuídas em coligações ou chapas únicas. Outras seis declararam apoio a algum nome. Apenas o PCO não estará em nenhum palanque para presidente.
Essa divisão, no entanto, não se reproduz de forma uniforme regionalmente, segundo análise feita pelo g1 a partir dos dados de 219 nomes aos governos dos estados e do Distrito Federal.
O cenário ainda pode mudar. Os partidos têm até esta segunda-feira (15) para registrar as candidaturas. E uma das presidenciais, por exemplo, ainda não havia sido oficializada até a publicação desta reportagem: a de Eymael (DC). Além disso, uma outra, a de Pablo Marçal (Pros), foi lançada por uma ala do partido que perdeu o controle da legenda por decisão liminar.
O Pros enfrenta outra controvérsia interna: em Santa Catarina, o partido tem dois diretórios, que tomaram decisões diferentes. Um dos diretórios lançou Ralf Zimmer ao governo estadual. Já o outro indicou apoio à reeleição de Carlos Moisés, do Republicanos. O caso foi levado à Justiça, que ainda vai analisá-lo.
Em muitas campanhas, legendas adversárias na eleição presidencial vão pedir votos para os mesmos candidatos a governador. Então, se na corrida para presidente da República a maioria das conexões aparecem geralmente dentro do mesmo espectro político, nos estados, isso vira um emaranhado, com coalizões formadas inclusive com partidos rivais. (veja o gráfico acima)
Um exemplo inusitado que explica como as costuras estaduais seguem umalógica própria ocorre no Amapá, onde Clécio Luís (Solidariedade) disputa o governo do estado apoiado tanto pelo PL, de Bolsonaro, quanto pelo PT, de Lula, e o PDT, de Ciro Gomes.
Essa aparente incoerência entre as alianças dos partidos, comum também em eleições anteriores, se explica, em parte, por conta da extensão territorial do país e a sua diversidade inerente, que impactam nas realidades e interesses regionais.
“Os estados brasileiros têm características que não necessariamente correspondem ao ponto de vista da política em nível nacional e é por isso que esse tipo de aliança, que parece incongruente, acaba acontecendo”, explica Cláudio Couto, professor de ciência política da FGV-EAESP.
Ele acrescenta que, “muitas vezes, tem questões que são consideradas de estratégia eleitoral, muito mais do que propriamente de uma afinidade maior do ponto de vista ideológico”. Para Couto, no entanto, isso não, necessariamente, representa um problema. “Um país diverso como o Brasil comporta essa diversidade”, diz.
Veja a situação detalhada de cada candidatura à Presidência da República, em ordem alfabética:
Ciro Gomes (PDT)
O ex-ministro da Fazenda e ex-governador do Ceará Ciro Gomes está na sua quarta tentativa ao Palácio do Planalto, desta vez numa chapa pura: ele terá como vice Ana Paula Matos (PDT), atual vice-prefeita de Salvador. Embora não tenha formalizado coligação nacional com nenhum partido, o PDT tem aliança nos estados com partidos de 6 chapas adversárias na disputa da Presidência: Lula, Bolsonaro, Simone Tebet, Eymael, Pablo Marçal e Soraya Thronicke.
Eymael (DC)
Pelo Democracia Cristã, José Maria Eymael disputa a Presidência pela sexta vez. Sem coligação nacional, a legenda estará nos palanques estaduais de partidos que estão em 6 chapas adversárias: Bolsonaro, Lula, Ciro, Simone Tebet, Felipe D’Ávila e Soraya Thronicke. O candidato a vice-presidente, segundo assessoria de imprensa da sigla, será João Barbosa Bravo.
Felipe d’Avila (Novo)
O Partido Novo lançou o nome de Felipe d’Avila à Presidência, que tem o deputado federal Tiago Mitraud (Novo-MG) na vaga de vice. Com a chapa inteiramente formada por membros da sigla, o Novo não terá aliança nacionalmente. No entanto, em Minas Gerais, a candidatura à reeleição do atual governador, Romeu Zema, conta com o apoio de 9 partidos ligados a 5 chapas presidenciais: Lula, Tebet, Eymael, Bolsonaro e Roberto Jefferson.
Jair Bolsonaro (PL)
Candidato à reeleição pelo PL, Jair Bolsonaro faz parte de uma coligação nacional composta também pelo PP e Republicanos. Ele tem como vice o general Walter Braga Netto (PL). Integrantes do chamado Centrão, esses partidos transitam dentro de um amplo arco político, com conexões das mais variadas pelo país, e se aliaram nestas eleições a legendas que compõem ou apoiam outras 8 chapas presidenciais, incluindo a de Lula, Ciro, Tebet, Eymael, Pablo Marçal, Felipe D’Ávila, Soraya e Roberto Jefferson.
Léo Péricles (UP)
O Unidade Popular (UP) escolheu o presidente da sigla, Léo Péricles, para disputar a primeira eleição presidencial do partido. Samara Martins será a candidata a vice-presidente. O UP não terá aliados nacionalmente, mas regionalmente recebe o apoio do PSOL, que está em 1 chapa presidencial, a de Lula.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O PT lançou Lula como candidato à Presidência com mais 8 partidos na coligação: PSB, PCdoB, PV, Solidariedade, PSOL, Rede, Agir e Avante. Lula terá ainda o apoio informal do PCO. Em convenção, o partido decidiu que fará campanha em favor do petista, embora rejeite a escolha de Geraldo Alckmin (PSB) como vice.
Dos 32 partidos existentes no país, a chapa liderada pelo PT tem alguma relação nos palanques a governador com 26 partidos, que integram 8 chapas presidenciais: Bolsonaro, Ciro, Tebet, Pablo, Eymael, Soraya, Léo Péricles e D’Ávila. As exceções são PTB, PCB, PCO, PMB e PSTU.
Pablo Marçal (PROS)
O Pros registrou a candidatura do influenciador Pablo Marçal à Presidência em meio a um racha interno da cúpula do partido. Após decisões judiciais, a nova direção da sigla definiu pela retirada do nome dele. No entanto, o registro ainda constava no site do TSE até a última atualização desta reportagem.
Sem Marçal na disputa, a nova executiva do Pros pretende pedir votos para Lula. De qualquer forma, nos estados, a legenda recebe o apoio de partidos conectados a outras 4 chapas presidenciais: Tebet, Ciro, Bolsonaro e Soraya.
Roberto Jefferson
Após indicar que seria favorável à candidatura de Bolsonaro à reeleição, o PTB indicou o ex-deputado Roberto Jefferson como candidato. Investigado no inquérito sobre milícias digitais, ele está em prisão domiciliar por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). O vice dele será o padre Kelmon Luís da Silva Souza. Apesar de não ter fechado alianças nacionais, o PTB recebe o apoio nos estados de partidos ligados a 5 chapas presidenciais: Bolsonaro, Ciro, Tebet, D’Ávila e Soraya.
Simone Tebet
A senadora Simone Tebet (MS) montou uma coligação composta pelo seu partido, o MDB, além do Podemos, PSDBe Cidadania. A chapa tem a também senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP) como vice. Nas campanhas a governador, porém, o MDB dividirá o palanque com legendas que têm aliança com 8 chapas presidenciais: Bolsonaro, Lula, Ciro, Eymael, Pablo, Roberto Jefferson, Soraya e D’Ávila.
Sofia Manzano
Sem partidos aliados, o PCB oficializou a candidatura de Sofia Manzano à Presidência. Antônio Alves será o candidato a vice. Nos estados, o partido não estará no palanque de nenhuma legenda que integra outra chapa presidencial adversária.
Soraya Thronicke
A senadora Soraya Thronicke (MS) é a candidata do União Brasil ao Palácio do Planalto. Em uma chapa pura, a legenda irá concorrer com o economista Marcos Cintra de vice. Nos palanques aos governos estaduais, o União receberá ou dará apoio formal ou informal a nomes de partidos que estão 6 chapas presidenciais: Lula, Bolsonaro, Ciro, Tebet, Eymael e Roberto Jefferson.
Vera Lúcia
O PSTU vai para a disputa com a operária Vera Lúcia. Sem aliados, o partido escolheu a indígena Raquel Tremembé como candidata a vice. Nos estados, o partido também não fechou alianças.