Afastado em meio a uma crise em 2015, banqueiro deve ser eleito presidente do conselho neste mês
Folha de S Paulo – Uma reunião prevista para o próximo dia 29 de abril deve sacramentar o retorno do banqueiro André Esteves ao comando do BTG Pactual.
A expectativa é que Esteves, que foi um dos executivos mais próximos do Planalto durante gestões petistas e chegou a ficar preso por um mês em 2015 no âmbito da Lava Jato, volte a ser —oficialmente— a principal figura à frente da instituição financeira, na posição de presidente do conselho de administração.
Nos últimos sete anos, enquanto sócios importantes saíram da empresa, o banqueiro de 53 anos, que nunca deixou de ter forte influência nos rumos da operação, veio preparando o terreno para o seu retorno. A absolvição por falta de provas, em julho de 2018, retirou obstáculos legais a essa ambição.
De uma família de classe média do bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, o carioca iniciou a carreira no final dos anos 1980, quando entrou como analista de sistemas no Pactual, banco de investimentos do qual o ministro Paulo Guedes foi um dos fundadores.
Revelando um estilo agressivo de gestão nos negócios, em 1993 já havia se tornado sócio. Em 1998, fez parte do grupo que afastou o sócio-fundador e controlador do Pactual, Luiz César Fernandes.
Alguns anos depois, em 2006, o banco de investimentos foi vendido para o suíço UBS AG por cerca de US$ 3,1 bilhões, com Esteves alçado ao posto de chefe global de renda fixa.
Na época, houve relatos de que o banqueiro teria tentado galgar mais posições dentro da instituição financeira, mas acabou tendo seus planos frustrados pela chefia.
DE VOLTA AO JOGO
Em 2008, ele optou então por sair do UBS para fundar o banco de investimento BTG.
O significado oficial da sigla é Banking and Trading Group (grupo de atividades bancárias e comerciais), mas no mercado circulam versões alternativas, como “Back to The Game” (de volta ao jogo) ou “Better Than Goldman” (melhor que o Goldman, em referência ao banco americano Goldman Sachs).
Um ano depois, se valendo da crise financeira global que fragilizou uma série de bancos internacionais, o BTG adquiriu o controle do UBS Pactual por US$ 2,5 bilhões, criando o BTG Pactual.
A recompra por um valor menor do que o Pactual havia sido vendido apenas três anos antes ajudou a formar a reputação de Esteves junto aos pares de mercado desde então.
“O André Esteves é agressivo nos negócios e tem uma personalidade que adere as pessoas ao seu redor. É muito inteligente e tem um diferencial em relação aos outros banqueiros por ser direto, simples e falar uma linguagem mais coloquial”, diz João Frota Salles, analista do setor financeiro da Senso Investimentos.
Tendo como uma das principais referências no mercado a trajetória de Jorge Paulo Lemann, Esteves conduziu o banco por investimentos em áreas diversas, de redes de combustíveis a farmácias, passando por estacionamentos, montadoras de veículos e hospitais.
NEGÓCIOS COM O GOVERNO
Diferentemente de Lemann, contudo, que trilhou a carreira em grandes empresas do setor privado, Esteves se envolveu, e muito, com o setor público.
No início da década passada, o BTG Pactual investiu no Banco Pan, do apresentador Sílvio Santos, se tornando sócio da Caixa Econômica Federal no negócio. Em abril de 2021, o banco comprou a participação da estatal e passou a deter o controle de 100% do Pan.
“Banco de investimento deve investir”, afirmou Esteves em entrevista à Folha no final de 2012, ano em que o BTG Pactual fez a abertura de capital (IPO) na Bolsa de Valores, levantando cerca de R$ 3,7 bilhões.
Com a descoberta do pré-sal, também foram feitos investimentos importantes no setor de óleo e gás, na empresa Sete Brasil, estruturada para fornecer sondas de exploração de petróleo à Petrobras, bem como em ativos da estatal na África.
A compra dos ativos no continente africano levou a uma investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) pela suspeita de a venda ter sido fechada em valores bem abaixo do que as operações de fato valiam.