Uwe Hahn foi denunciado, nesta segunda-feira, pelo homicídio do belga Walter Biot, com quem morava em Ipanema
O Globo – O cônsul alemão Uwe Herbert Hahn, preso em 6 de agosto pela morte do marido, o belga Walter Henri Maximillen Biot, deixou o Brasil rumo a Alemanha neste domingo (27). Na sexta-feira (26), a desembargadora Rosa Helena Penna Macedo Guita, da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio, relaxou a prisão do diplomata por considerar que havia demora na denúncia do Ministério Público contra Hahn. O cônsul chegou a Frankfurt nesta segunda-feira.
Na mesma sexta-feira, o Ministério Público informou, por meio de nota, que “a 1ª Promotoria de Justiça junto ao IV Tribunal do Júri da Capital não foi, até a presente data, intimada para oferecimento de denúncia” e que “assim sendo, nem mesmo se iniciou o prazo para oferecimento da peça acusatória”. Nesta segunda-feira (29), porém, a promotora Bianca Chagas de Macêdo Gonçalves ofereceu denúncia contra o alemão por homicídio triplamente qualificado — por motivo torpe, com uso de meio cruel e sem dar chance de defesa à vítima. Na denúncia, a promotora pede a prisão preventiva do diplomata e a quebra de sigilo do celular de Uwe Hahn. O MP também pede que não seja acolhido o pedido de sigilo do processo feito pela defesa do diplomata.
Segundo Camila Lourenço, delegada assistente da 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado, a versão do alemão, de que o marido havia tropeçado e caído, não era compatível com as marcas encontradas no corpo do belga durante a necrópsia. O cônsul foi preso temporariamente pela prisão do marido. Nesta segunda-feira, a delegada criticou a decisão que permitiu a saída de Hahn do país.
— A Polícia Civil está perplexa e estarrecida com o retorno do cônsul ao seu país de origem. Lamentamos pelo trabalho investigativo ter sido em vão, já que não prendemos sozinhos e dependemos do esforço e atuação diligente de todos os órgãos que atuam na persecução penal para que os autores de crimes sejam mantidos presos, processados e julgados. No caso em questão, haveria a possibilidade de determinação de medida cautelar diversa da prisão, como a retenção do passaporte, o que dificultaria sua fuga e garantiria o prosseguimento da ação — disse ao GLOBO Camila Lourenço.
Na ocasião da prisão, segundo as investigações da Polícia Civil, Uwe Hahn informou ao médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que o marido havia passado mal e caído no chão, no dia anterior, na cobertura que ambos dividiam. O profissional responsável pelo atendimento acreditou que o homem pudesse ter tido um mal súbito, mas não quis atestar o óbito e o corpo foi encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML), no Centro da cidade, onde passou por exame de necropsia.
O laudo do legista atesta que Walter Henri Maximillen Biot morreu de hemorragia subaracnoide (extravasamento de sangue entre o cérebro e o tecido), contusão craniana e traumatismo cranioencefálico, provocados por ação contundente. O documento aponta que o cadáver apresenta mais de 30 lesões, como equimoses, escoriações e outros tipos de ferimentos, espalhados por regiões como braços, pernas, tronco e cabeça. No apartamento do casal, policiais da 14ª DP encontraram móveis em desalinho e manchas de sangue no chão e em uma poltrona.