Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto apontam que de janeiro a setembro deste ano, foram derrubados 9.069 km² de floresta; marca é a pior em 15 anos
Segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a área desmatada na Amazônia Legal neste ano atingiu a marca de 9.069 km², o que equivale a uma área quase oito vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro.
Ainda de acordo com o Instituto, a área desflorestada da região corresponde a 59% do território brasileiro e foi a pior marca dos últimos 15 anos.
O levantamento leva em conta o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do instituto, que diferem da metodologia do Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Segundo o Imazon, os satélites usados são mais refinados que os dos sistemas do governo e são capazes de detectar áreas devastadas a partir de 1 hectare, enquanto os alertas do Inpe levam em conta áreas maiores que 3 hectares.
Essa é a quinta vez consecutiva em que a derrubada atingiu o pior patamar entre janeiro e setembro desde que o Imazon implantou seu sistema de alerta, em 2008.
“Esses altos níveis de destruição não só ameaçam a biodiversidade e os povos e comunidades tradicionais, mas afetam também a vida de toda a população brasileira. A derrubada da floresta impacta no aumento das emissões dos gases do efeito estufa, que são os grandes responsáveis pela mudança climática e pelos eventos extremos”, ressalta a pesquisadora do Imazon Bianca Santos.
Ainda de acordo com os novos dados do Imazon, a degradação florestal causada pela extração de madeira e pelas queimadas cresceu quase 5 vezes.
A área degradada passou de 1.137 km² em setembro de 2021 para 5.214 km² em setembro de 2022, uma alta de 359%.
Além disso, em setembro, apenas dois estados concentraram 96% da área degradada na Amazônia: Mato Grosso, com 3.865 km² afetados (74%), e Pará, com 1.127 km² (22%).
“Grande parte das áreas degradadas na floresta amazônica em setembro estão relacionadas às queimadas, que oferecem risco à saúde pública. Diversos estudos as associam com o aumento dos problemas respiratórios e não só na população amazônica, pois a fumaça das queimadas pode chegar a outras regiões do país”, acrescenta a pesquisadora do Instituto.
Desmate em setembro supera em três vezes área de BH
Ainda de acordo com os novos dados do Imazon, somente em setembro 1.126 km² de floresta na Amazônia foram devastados.
Isso equivale um pouco mais de três vezes que o tamanho do município de Belo Horizonte. A taxa também é a terceira pior em 15 anos, ficando atrás apenas de 2021 e 2020.
Segundo o sistema, no último mês, o Pará respondeu por mais da metade dessa destruição, com 553 km².
O instituto ressalta que no estado, a destruição está avançando para o norte e se aproximando do maior bloco de áreas protegidas do mundo, o que representa uma grande ameaça à biodiversidade amazônica e aos povos e comunidades tradicionais da região.
Outro problema no Pará, ainda segundo o Imazon, é o avanço da destruição dentro de terras indígenas e unidades de conservação.
“Seis dos 10 territórios indígenas mais desmatados em setembro estão em solo paraense, inclusive o Apyterewa, que liderou o ranking. O local, que neste ano vem sofrendo mensalmente com o avanço das invasões, perdeu apenas no mês passado uma área equivalente a 1,8 mil campos de futebol. Já em relação às UCs, o Pará tem cinco das 10 mais destruídas, com destaque negativo para a APA do Lago de Tucuruí, a segunda colocada”, afirma Raissa Fernanda Ferreira, pesquisadora do Imazon.
Imazon x Inpe
O sistema do Imazon detecta áreas desmatadas em imagens de satélites de toda a Amazônia Legal (região que corresponde a 59% do território brasileiro e que engloba a área de 9 estados – Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e uma parte do Maranhão) e leva em conta degradações florestais ou desmatamentos que ocorreram em áreas a partir de 1 hectare, o que equivale a aproximadamente 1 campo de futebol.
Assim como o Deter, do Inpe, o calendário de monitoramento do SAD começa em agosto de um ano e termina em julho do ano seguinte por causa da menor frequência de nuvens na Amazônia. Os sistemas também são semelhantes porque servem como um alerta, mas não representam um dado oficial de desmatamento.
A medição oficial do desmatamento é feita pelo sistema Prodes (também do Inpe) e costuma superar os alertas sinalizados tanto pelo Deter como pelo Imazon. Segundo o Inpe, o nível de precisão do Prodes é de aproximadamente 95%.