Desenvolvido por empresa sul-coreana, decolagem deverá acontecer no final de semana se condições meteorológicas permitirem; Agência Espacial Brasileira tem outros acordos do tipo em negociação
O Globo – O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, prepara-se para lançar seu primeiro foguete comercial. Previsto para ocorrer entre 16 e 21 de dezembro, o HANBIT-TLV, da start-up sul-coreana Innospace, será o primeiro de uma empresa privada a decolar da base. O lançamento é apontado como um passo no cumprimento de um objetivo anunciado pela Agência Espacial Brasileira (AEB): tornar o local atrativo para empresas do ramo.
O lançamento da Innospace é visto como uma oportunidade da CLA e da AEB se mostrarem capazes de atenderem às necessidades do chamado New Space, a fatia do mercado aeroespacial que se ocupa de satélites de pequeno porte.
— A ideia é que a partir desse lançamento pioneiro nós tenhamos vários outros. Exemplo disso é a canadense C6, que já se planeja para lançar no meio do próximo ano. E há outras que estão em negociação — disse ao GLOBO o presidente da AEB Carlos Moura.
O foguete deverá decolar nos próximos dias, mas a data poderá ser alterada em funções de mudanças meteorológicas, segundo a AEB. Veja um vídeo abaixo, que mostra a chegada do foguete:
Até meados deste ano, a americana Hyperion Rocket ocupava o lugar da Innospace nas negociações pelo uso da base, mas desistiu da empreitada após enfrentar problemas empresarias nos EUA, segundo Moura. O acordo com a empresa sul-coreana foi fechado em setembro deste ano.
Em 2021, o Ministério da Ciência e a Aeronáutica anunciaram quatro empresas estrangeiras selecionadas para operar em Alcântara. Dessas primeiras, apenas uma já firmou contrato.
A Virgin, do bilionário Richard Branson, está ainda em fase de negociações, assim como a Orion AST, que pretende lançar da base a partir de outubro de 2023. Além da Innospace, apenas a C6 Lauch tem contrato firmado com AEB para começar a operar em meados do ano que vem.
Fruto de um acordo tecnológico entre a Força Aérea Brasileira e a empresa sul-coreana, o primeiro lançamento da Innospace será um teste, e o foguete não chegará a entrar em órbita. O objetivo é testar o motor do primeiro estágio do lançador de satélite HANBIT-Nano. Após este primeiro voo, novos deverão ser feitos nos próximos meses, conforme o projeto sul-coreano avançar.
Apesar de ser o primeiro lançamento de um foguete de empresa privada, o contrato da CLA com a Innospace não tem natureza comercial, mas de cooperação tecnológica-científica. Assim, em contrapartida ao uso da base de lançamento, o HANBIT-TLV levará como carga um sistema de navegação desenvolvido pelo Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da FAB:
— As partes acertaram uma conjugação de esforços: para o Innospace, interessa o teste de seu motor em ambiente real. Para a Aeronáutica, o teste em voo do SISNAV — explica Carlos Moura.
O lançamento permitirá testar como esse sistema opera em ambientes específicos de vibração, choque e alta temperatura, de acordo com a AEB. O SISNAV faz parte do projeto do Veículo Lançador de Microssatélites da FAB, um foguete em desenvolvimento há mais de 10 anos e previsto para ser concluído em 2025.
Os demais contratos em negociação pelo uso da base de Alcântara, por sua vez, terão natureza comercial e envolverão pagamentos. Outras contrapartidas também são esperadas desses acordos, segundo a AEB:
— Isso interessa muito para os desdobramentos positivos em Alcântara e entorno. Pretende-se que o espaço porto irradie oportunidades educacionais, logísticas, de turismo, de negócios direta ou colateralmente ligados às atividades espaciais — diz Moura.
Como é o foguete
Com 15 toneladas e 16,3 metros de altura, o foguete da Innospace chegou ao Aeroporto Internacional Marechal Cunha Machado, no Maranhão no dia 3 de dezembro, quando foi recebido por um grupo de curiosos interessados no pouso do Boieng 747 que trouxe o veículo espacial. De lá, ele seguiu para a base de Alcântara, a cerca de 30 quilômetros de distância.
A Innospace busca desenvolver lançadores de satélites de pequeno porte a baixo custo. O modelo que será testado no Brasil usa um sistema híbrido, que combina propulsores à base de oxigênio líquido e parafina, além de um sistema de bomba elétrica.