Juros devem voltar a patamar visto em novembro de 2016. Para analistas, ao contrário das últimas reuniões, autoridade monetária não deve se comprometer com novo aumento
O Globo – O Comitê de Política Monetária (Copom) deve promover o 12º aumento consecutivo na taxa básica de juros nesta quarta-feira, elevando a Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,75% ao ano. Essa, pelo menos, é a avaliação da maioria dos participantes do mercado.
A questão é saber se será a última alta ou se o ciclo de aperto monetário deve continuar ainda em setembro. Neste caso, não há consenso.
Levantamento feito pelo GLOBO com 30 casas mostra uma expectativa para Selic em 13,75% em agosto. Com isso, os juros devem voltar a patamar visto em novembro de 2016, quando a taxa também estava em 13,75%.
Destas 30 casas, 20 apostam que esse será a última elevação dos juros, quatro acreditam que a taxa vai encerrar 2022 aos 14% e cinco, em 14,25%. Uma das assets consultadas não divulgou previsão para Selic ao fim do ano.
— Dois movimentos importantes e que sugerem a elevação de 0,50 ponto percentual são as expectativas altas de inflação para 2023, que é para onde o Banco Central está olhando, e o fato do mercado já trabalhar com isso há algum tempo e o banco não ter se incomodado — destaca o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani.
Ancorar as expectativas
Se por um lado, o Banco Central (BC) já deu sinalizações de que a magnitude do aperto monetário implementado até então é relevante, por outro, a deterioração das expectativas de inflação no médio prazo faz com que parte dos agentes espere que a taxa suba a pelo menos 14% ou até mesmo a 14,25% até o final do ano.
No último Boletim Focus, relatório semanal divulgado pelo BC com as expectativas de agentes de mercado, a projeção para o IPCA ao final de 2023 subiu pela 17ª semana consecutiva, indo a 5,33%.
O número é superior ao teto da meta da autoridade monetária, de 4,75%.
A estimativa para a Selic ao final de 2023 avançou de 10,75% para 11%, alimentando as expectativas por juros altos por mais tempo.
Vale lembrar que quando o BC aumenta os juros já está pensando em um horizonte mais à frente, no caso o ano-calendário de 2023 e, em menor escala, o de 2024.
Na avaliação da economista para o Brasil do BNP Paribas, Laíz Carvalho, ainda há espaço para novas altas de juros após agosto. O banco trabalha com Selic a 14,25% no fim deste ano.
— A expectativa do mercado para as inflações de 2023 e 2024 estão acima do centro da meta do Banco Central. Para trazer a inflação de 2023 para perto de 4%, nível sinalizado após os comunicados da última reunião e no Relatório de Inflação, ele terá que continuar o ciclo de alta.
O que virá no comunicado?
Nas últimas reuniões, além de anunciar a nova taxa, o banco já contratava uma próxima alta. Para Padovani, do BV, isso não deve ocorrer desta vez. O BV espera que o ciclo se encerre nesta quarta-feira.
— Os BCs têm aprendido que o ambiente é muito instável e é sempre arriscado se comprometer com certos movimentos. O entendimento nosso é que o comunicado deva ser um pouco lacônico. Ele deve deixar as portas abertas.
A economista-chefe da Claritas, Marcela Rocha, espera também um aumento para 13,75% e o final do ciclo. Sobre a mensagem para o futuro, ela avalia que o BC sinalize um meio termo, de que essa seria a última alta, mas deixando uma possibilidade de mais uma alta de 0,25 ponto percentual caso os sinais de inflação fiquem mais fortes.
— Há um consenso de que o IPCA deve desacelerar nos próximos meses, mas o Copom vai olhar não só o número cheio, mas a abertura dos indicadores. Se os dados forem piores do que o esperado, as expectativas podem continuar subindo e isso pode ser o vetor para que o Copom tenha que subir um pouco mais a taxa de juros — disse.
Olho no fiscal
Após o anúncio das medidas de estímulo anunciadas recentemente pelo governo, como as medidas contidas na PEC Eleitoral e no estabelecimento de um teto para alíquotas do ICMS, diversos bancos e gestores revisaram para cima as suas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e para baixo as de inflação.
Em 2023, contudo, a expectativa é de uma contração na economia, também influenciada pelo cenário externo mais desafiador, e de alta na inflação.
Caio Megale, economista-chefe da XP, ressalta que o Copom deve considerar o risco fiscal nas decisões além da que será tomada na reunião desta quarta-feira. Ele aponta que as despesas previstas na PEC Eleitoral, como o auxílio de R$ 600, podem ser prorrogadas para o ano que vem, o que pressiona a demanda e a inflação em 2023.
— Se for prorrogado para o ano que vem, principalmente os R$600, tem impacto adicional de demanda interna, de renda, que tende a manter mais prolongada a pressão na inflação de serviço. Isso é o que põe em risco não essa reunião agora, mas provavelmente o espaço que ele tem para cortar os juros no ano que vem — disse.
A previsão da XP é que essa será a última alta nos juros deste ciclo que o Copom deixará a “porta aberta” para a próxima reunião, ou seja, deixará a possibilidade de continuar elevando a Selic para acompanhar os dados econômicos até lá.
— Esse nível de atividade mais alto acaba adiando o efeito contracionista da política monetária sobre a atividade. Agora esperamos que esse efeito negativo aconteça no quarto trimestre de 2022, comparado com nosso cenário anterior que era no 3T22 — disse Laíz, do BNP.
Cenário externo
Assim como o BC brasileiro, diversas autoridades monetárias passaram a elevar suas taxas básicas. Na semana passada, o Fed, banco central americano, voltou a subir juros em 0,75 ponto percentual.
Como destaca Padovani, a alta dos juros nas economias desenvolvidas tende, por um lado, a enfraquecer a economia global. Isso tende a afetar o preço de commodities e pode reduzir parte da inflação importada.
No entanto, em cenário de menor crescimento e maior incertezas, há uma tendência de valorização do dólar, o que encarece os custos dos produtos e serviços, gerando inflação.
— Quando a gente tenta ponderar esses dois movimentos, vemos que os BCs subindo juros mais ajudam que atrapalham. A inflação no Brasil vai desacelerar, mas não em um ritmo suficiente. A questão é a velocidade com que isso vai acontecer — disse Padovani.
Segundo Megale, da XP, com um cenário externo mais positivo para a inflação, com queda nos preços das commodities e uma desaceleração da atividade econômica mundial mais clara, o BC poderá parar as altas nos juros.
— Acho que isso torna o cenário prospectivo de inflação mais balanceado, ainda desafiador, mas ele já estava com vontade de parar, já tinha sinalizado há algum tempo essa intenção de parar. Os juros já estão quase a 14%, com o mundo vindo na direção dele, acho que vai deixar mais aberto — afirmou.