O Antagonista | Não é segredo para absolutamente ninguém que Jair Bolsonaro, ao convocar uma manifestação na avenida Paulista, queria demonstrar força política. Ele queria uma foto contundente de milhares de pessoas em frente ao Museu de Arte Moderna de São Paulo (MASP). E conseguiu.
As imagens são espantosas, independentemente do número de presentes. Tanto faz se Jair Bolsonaro conseguiu reunir 100 mil, 500 mil ou dois milhões de pessoas na paulista. A Polícia Militar de SP fala em 600 mil pessoas concentradas e mais 150 mil em ruas adjacentes – 750 mil ao todo; a organização fala em 2 milhões.
Mesmo com base nos números oficiais, isso representa praticamente metade do público que foi protestar pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Um número expressivo.
O PT e seus aliados vão tentar – como já o fez via Gleisi Hoffmann – deslegitimar o ato; os aliados de Jair Bolsonaro vão falar em retomada da luta pela democracia etc. Em resumo: os próximos dias serão, fundamentalmente, calcados nesta disputa de narrativa.
Bolsonaro prometeu reunir milhares de pessoas em seu nome. E cumpriu, apesar dos pesares. Nem Lula, quando foi preso pela Lava Jato, conseguiu arregimentar tanta gente. E, naquela época, o petista contava com aparatos como fundo partidários e afins.
Durante o ato, Bolsonaro falou em pacificação do país e pediu anistia aos presos pelos atos de 8 de janeiro. Ao longo da fala, de improviso, alfinetou o TSE e o STF.
Mas Bolsonaro pode ter cometido um deslize. Um sério deslize. Acossado por investigações da Polícia Federal sobre o suposto plano para se instituir um golpe de estado no Brasil, Jair Bolsonaro não negou as supostas tramas em seu discurso. Só deixou claro que “golpe é tanque na rua”.
“O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil”, declarou o ex-presidente. “Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência.”
Na ânsia de pressionar o STF – mais especificamente o ministro Alexandre de Moraes –, o ex-presidente pode ter dado o subterfúgio que o magistrado e os integrantes da PF queriam para implicá-lo ainda mais nas investigações que tramitam contra ele no Tribunal. Há alguma chance de Jair ser preso pelo ato deste domingo? Pouco provável. Ao menos até o momento não apareceram faixas ou cartazes com falas antidemocráticas que possam configurar a tese do crime continuado.
Mas, pelas falas do próprio Jair, será muito difícil para o ex-chefe do Poder Executivo explicar que não era de seu conhecimento qualquer virada de mesa institucional após as eleições do ano de 2022. E, como o próprio Alexandre de Moraes já demonstrou em decisões pretéritas, é tudo o que ele precisa a partir de agora.