Cinco casos no Rio e em São Paulo foram identificados em pessoas que não estiveram fora do país nem tiveram contato com alguém que retornou do exterior
O Globo – Nesta sexta-feira, o município do Rio de Janeiro confirmou que os dois casos de varíola dos macacos identificados ontem na cidade configuram um cenário de transmissão local. Isso porque não se tratam de pacientes que retornaram do exterior recentemente, ou que tiveram contato com alguém que veio de outro país. O mesmo foi afirmado pelo Ministério da Saúde em relação às três pessoas infectadas identificadas nesta quinta-feira no estado de São Paulo, todas contraíram o vírus no Brasil. Especialistas ouvidos pelo GLOBO reconhecem que a disseminação comunitária aumenta o risco de contaminação da doença, mas ressaltam que não é motivo para pânico.
Com os novos casos, o total de diagnósticos para a infecção do vírus monkeypox no Brasil chegou a 16 nesta sexta-feira. Além de outros registros no Rio e em São Paulo, o Rio Grande do Sul também já identificou duas pessoas contaminadas. A epidemiologia Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), explica que, embora o risco seja maior, no geral é uma doença mais fácil de ser controlada que a Covid-19, por exemplo.
— Essa é uma doença com uma facilidade maior de rastrear porque a transmissão é principalmente or pessoas sintomáticas. E tem essas bolhas que são mais visíveis, o que torna mais fácil de identificar e isolar os casos, que é a medida mais importante. No individual, evitar compartilhamento de roupas de cama e toalhas por pessoas com sintomas, estar atento aos sinais e procurar ajuda médica em caso dos sintomas são medidas importantes de prevenção — orienta a professora da Ufes.
Em relação ao poder público e às autoridades de saúde, ela defende que o cenário demanda uma comunicação de riscos mais eficiente com a população.
— É preciso ter uma comunicação com a sociedade mais efetiva, pois parece que é algo menor, que não tem problema, que não está aqui entre nós. Nós precisamos de um plano de comunicação, de vigilância, que fique claro onde serão feitos os diagnósticos, a coleta do material, para onde a pessoa deve se dirigir em caso de sintomas, qual é a referência em cada local para os casos suspeitos — afirma a epidemiologista.
O médico geneticista Salmo Raskin, diretor do laboratório Genetika, em Curitiba, concorda que a comunicação é primordial neste momento, especialmente para aqueles considerados de maior risco da doença. Além disso, ele ressalta que, para o público geral, a chance de se contaminar, embora existente, é pequena.
— Praticamente todos os casos detectados desse surto são de transmissão de homens que fazem sexo com outros homens. A taxa de disseminação na população geral não é alta como com a Covid-19. Então esse público precisa ser o foco da comunicação, mas de forma não discriminatória. E, desde que as medidas preventivas sejam estabelecidas, a tendência natural é que os casos eventualmente comecem a diminuir — diz o médico, ressaltando que não houve óbitos entre os milhares de casos fora dos países onde a doença é endêmica até então.
Esse público é considerado de maior risco porque a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que, embora todos possam ser infectados, a maioria dos casos está sendo relatada entre homens gays e bissexuais. Ainda assim, a organização pede cuidado com o estigma criado em relação à doença.
— Todos devemos trabalhar contra o estigma, que não apenas é equivocado, mas pode impedir que indivíduos afetados busquem atendimento, tornando mais difícil deter a transmissão — disse Tedros Adhanom em entrevista coletiva no início do mês.
A varíola dos macacos não é considerada uma infecção sexualmente transmissível, uma vez que são limitadas ainda as evidências de que o agente causador da doença estaria presente no sêmen ou em fluidos vaginais. No entanto, a infecção pode ocorrer no momento da relação sexual, já que a via mais comum de transmissão é o contato direto e prolongado com a pessoa contaminada pelas lesões na pele e vias respiratórias.