Em 20 anos, jovens brasileiros ganharam 116 prêmios na Feira Internacional de Ciências e Engenharia, realizada nos Estados Unidos
CNN – Oito estudantes brasileiros foram premiados na Feira Internacional de Ciência e Engenharia (ISEF, na sigla em inglês), considerada uma das maiores do mundo no gênero.
A edição de 2022 aconteceu em Atlanta, na Geórgia, Estados Unidos, do último sábado (7) até esta sexta-feira (13). O evento contou com 1.410 projetos de 1.750 finalistas, de 63 países diferentes.
No total, o Brasil conta todos os anos com 18 projetos classificados para a feira. Este ano, seis deles ganharam prêmios. Os finalistas competiram por cerca de US$ 8 milhões em premiações, como bolsas de estudo, estágios e viagens de campo. A delegação brasileira foi composta por 26 estudantes de diferentes estados.
Em 20 anos, jovens brasileiros ganharam 116 prêmios na feira internacional. Para a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader, a participação da juventude brasileira na produção de ciência é essencial para o desenvolvimento científico do país.
“A participação desses jovens na ciência é fundamental para garantir a continuidade do desenvolvimento científico e tecnológico do país, e para mostrar a eles o quanto essas atividades contribuem para a qualidade de vida e para o avanço intelectual e cultural da nossa sociedade”, afirma a biomédica professora da Universidade Federal de São Paulo.
Moradora de Valinhos e estudante do Colégio Técnico de Campinas, em São Paulo, Ligia Carvalho conseguiu três premiações com seu projeto. A adolescente criou um software que transcreve, sumariza e capta imagens para transformar videoaulas em arquivos de PDF.
A estudante foi convidada para passar três semanas na Itália desenvolvendo uma inteligência artificial e ganhou ainda US$ 5 mil de uma instituição filantrópica internacional. Segundo a aluna, “precisamos de mais meninas nessa área porque falta representatividade”.
Outro projeto premiado na edição deste ano é do carioca Vinícius Moraes, de 19 anos, na categoria “Energia: Materiais e Design Sustentáveis”. O jovem, morador de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, se classificou para ISEF pela Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec) no ano passado, quando estava no 3° ano do ensino médio no colégio Matriz Educação. O projeto desenvolvido pelo aluno foi um dos 9 selecionados entre 420 concorrentes.
“Esse prêmio não é meu. É do Brasil. Estou feliz demais com essa conquista. O caminho é muito árduo até conseguir chegar aqui. Sou muito grato por estar atuando na linha de frente e me dá muito orgulho ver que, aqui na ISEF, jovens estão desenvolvendo ideias que certamente farão diferença no nosso futuro”, disse Vinícius após receber o prêmio.
A criação do estudante é uma alternativa sustentável para diminuir o uso de pilhas e baterias descartáveis: o “Seebeck-watch”. O estudante desenvolveu um sistema com filmes finos termoelétricos que aproveita a diferença de temperatura entre o pulso humano e o meio externo, gerando energia elétrica para alimentar o relógio.
De acordo com a coordenadora geral da FEBRACE, Roseli Lopes, o engajamento dos jovens é muito importante para que eles, desde cedo, exercitem a curiosidade, a capacidade de observar, de formular hipóteses e também de ir a campo.
“Essa participação desde cedo é fundamental para eles começarem o trabalho de investigação e desenvolverem uma relação diferente com a ciência, mesmo em uma escola que tenha pouca infraestrutura. E vemos que eles se encantam e ao se encantarem, eles se tornam pessoas transformadoras, que vão em busca do conhecimento, e de colocá-lo em prática para resolver os problemas que nós temos”, afirma a pesquisadora de tecnologias aplicadas à educação.
Outro premiado foi João Pedro Armani, na categoria Ciências Animais, com o projeto “Aplicação de resíduos agroindustriais no combate do mosquito vetor de arboviroses (Aedes aegypti)”. O estudante já havia sido premiado na mesma feira em 2019.
“Eu estive aqui da outra vez, pela Febrace, e agora pela Mostratec. E eu não imaginava ganhar esse prêmio. É uma emoção muito grande, acho que todo mundo deveria viver isso”, disse o estudante após a premiação.
O diretor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), José Garcia Abreu, afirma que a liberdade dos alunos mais jovens dá a eles uma capacidade ainda maior de criação.
“Diferente dos alunos de mestrado e doutorado, que têm um prazo e um cronograma fixos para entrega do projeto, o aluno de iniciação científica tem uma liberdade muito grande, o que dá ótimos resultados quando aliada à sua criatividade aflorada. Eles têm uma capacidade criativa impressionante para pensar teorias, elaborar experimentos, é fascinante. E é mesmo um combustível ter pesquisadores jovens nos grupos de pesquisa”, afirma o pesquisador.