Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes, Simone Tebet, Felipe d’Ávila e Soraya Thronicke participaram em São Paulo do primeiro debate da campanha eleitoral transmitido pela TV
CNN – Uma briga nos bastidores e ataques diretos entre os candidatos à Presidência mais bem colocados no agregador de pesquisas CNN/Locomotiva marcaram o primeiro debate da corrida eleitoral com transmissão pela televisão, realizado na noite deste domingo (28).
O encontro, organizado pela TV Bandeirantes em parceria com UOL, Folha de S.Paulo e TV Cultura, contou com a participação de seis presidenciáveis: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe d’Ávila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Pouco depois do início do evento, o deputado federal André Janones (Avante-MG), apoiador de Lula, e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, apoiador do presidente Bolsonaro, trocaram ofensas nos bastidores do debate.
A confusão começou quando Lula falou sobre a queda do desmatamento em seu governo, e Salles se manifestou sobre a declaração do ex-presidente, seguido de uma reação de Janones.
Ambos trocaram xingamentos e foram separados por seguranças. Após os ataques, ambos retornaram para seus respectivos assentos e continuaram a assistir ao debate no local.
O encontro na TV também contou com trocas de acusações diretas entre Lula e Bolsonaro. Confira abaixo alguns dos principais momentos do debate.
Ataques entre Lula e Bolsonaro resultam em direito de resposta para ambos
Ao longo do embate televisivo, tanto Bolsonaro como Lula tiveram direito de reposta concedido pelos organizadores do debate após ataques que receberam um do outro. O presidente foi o primeiro a reagir, depois de ser criticado pelo candidato petista pela imposição de sigilo de cem anos no acesso a informações do governo, incluindo visitas recebidas por Bolsonaro no Palácio do Planalto.
“Que moral tu tem [sic] para falar de mim, ex-presidiário? Nenhuma moral”, atacou o presidente. “Sigilo de cem anos: uma lei lá do tempo da Dilma. Para questões pessoais: meu cartão de vacina ou quem me visita no Alvorada. Nada mais além disso. Orçamento secreto: eu vetei. O Parlamento derrubou veto. É lei. O seu partido, Lula, votou para derrubar o veto no tocante ao orçamento secreto. Não tenho nada a ver com isso”, completou.
A reação de Bolsonaro rendeu outro direito de resposta, desta vez, concedido ao candidato do PT. “É irresponsabilidade de quem exerce o cargo, que me chamou duas vezes de presidiário”, rebateu o ex-presidente.
“Ele sabe a razão pela qual eu fui preso, e as razões foram que, para ele se eleger presidente da República, precisavam tirar o Lula da disputa”, acrescentou. “Neste processo todo, eu estou muito mais limpo do que ele ou qualquer parente dele, porque fui julgado, considerado inocente, da primeira instância à última, pela ONU e estou aqui para ganhar as eleições e, aí sim, em um decreto só, apagar todos os seus decretos”
Bolsonaro e Ciro trocam acusações sobre tratamento a mulheres
Em um dos trechos do debate, o presidente Bolsonaro escolheu Ciro Gomes para uma pergunta sobre a defesa das mulheres, após ter sido questionado sobre o assunto pela senadora Simone Tebet.
“Você [Bolsonaro] disse para chocar todos nós que nasceu uma filha sua, porque deu uma ‘fraquejada’. Isso é o que faz com que as pessoas desconsiderem as suas políticas. Hoje, 78 de cada 100 mulheres brasileiras estão no limite recorde de endividamento. Elas não vão sair dessa dívida sem política pública. A minha obsessão é entender que a mãe, quando o filho pede um pedaço de pão para comer e não tem, ela parte o coração. É preciso ter um programa de renda mínima que erradique a miséria”, respondeu Ciro.
Bolsonaro disse que já havia pedido desculpas pela declaração sobre a filha e também cobrou uma retratação de Ciro Gomes por uma fala do pedetista relembrada pelo presidente.
“Eu já falei da fraquejada, já me desculpei, e me desculpo de novo. Agora, você falou que a missão mais importante da sua esposa era dormir contigo. Pelo amor de Deus, quero que você peça desculpas por isso também. Uma coisa muito importante na questão da mulher é o Auxílio Brasil, porque a política do ‘fica em casa’ levou um monte de gente para as raias da miséria. Quando criamos o auxílio emergencial e, depois o Auxílio Brasil, nós buscamos atender primeiro a mulher, tanto é verdade que 75% do auxílio vai para as mulheres”, afirmou o presidente.
Em um enfrentamento anterior, Simone Tebet disse que Bolsonaro (PL) chegou a defender um acusado de feminicídio, um torturador de mulheres e votado contra projetos em defesa dos direitos femininos. A candidata perguntou, então, por que Bolsonaro “sente tanta raiva das mulheres”.
Bolsonaro respondeu que a senadora o acusava sem provas: “Não fica aqui fazendo joguinho de mimimi”, afirmou. O presidente citou o trabalho de sua mulher, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, voltado a ações assistenciais e citou ainda medidas de seu governo que teriam sido implementadas em defesa das mulheres.
“Quando eu defendo a arma, no campo, em especial, é para dar chance para a mulher se defender. Eu dei mais de 370 mil títulos de reforma agrária no Brasil. Seu estado [de Tebet] foi muito beneficiado e deixo claro: 90% desses títulos foram para mulheres. Das 20 milhões de pessoas que recebem o Auxílio Brasil, em torno de 15 milhões são mulheres”, disse o presidente.
Tebet defende ministério feminino, e Lula não se compromete com meta
A participação das mulheres no governo também foi tema de uma pergunta para Lula, com comentário de Tebet. O candidato petista não assumiu o compromisso de ter paridade entre homens e mulheres em seu ministério, caso seja eleito. Segundo ele, uma das razões é que poderia passar por “mentiroso” se não cumprisse a promessa.
“Eu não sou de me comprometer a fazer metade. É indicar religioso, é indicar mulher, é indicar negro, é indicar homem, ou seja, você vai indicar pessoas capacitadas para assumir determinados cargos. Eu tenho orgulho de ter indicado o primeiro negro à Suprema Corte, a Carmen Lúcia à Suprema Corte e poderia indicar muito mais. Pode até ter maioria mulher, o que não dá é assumir um compromisso numericamente”, disse Lula.
Já Simone Tebet disse que, se eleita, assumirá o compromisso da equidade de gênero. “O candidato Lula não pode assumir o compromisso, não quer assumir, mas eu já o fiz. A primeira coisa que eu fiz quando lancei a minha candidatura, e foi homologada no meu partido, foi dizer que o meu ministério será paritário entre homens e mulheres, sim. Nós temos condições de colocarmos 50% e mais: nós teremos participação de negros.”
“O meu ministério terá paridade de homens, mulheres, terá negros, mas não terá ninguém envolvido em esquema de corrupção, mesmo que seja do meu partido”, completou a candidata do MDB.
Bolsonaro critica jornalista e provoca reação de adversários
Em uma das perguntas do segundo bloco do debate, o presidente Bolsonaro criticou a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, após ser escolhido por ela para comentar uma pergunta sobre cobertura vacinal no Brasil.
“Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas ao meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, declarou o candidato à reeleição.
A declaração de Bolsonaro despertou reação de Ciro Gomes e, então, o presidente rebateu dizendo que não havia pedido a opinião do adversário. A candidata Simone Tebet também reagiu, mas não foi possível identificar o que os outros presidenciáveis disseram, já que era a vez de Bolsonaro falar.
O presidente também fez crítica a Tebet. “A senhora falou uma frase lá na CPI: ‘não é porque houve malversação de dinheiro público que devemos investigar’. A senhora foi conivente com a corrupção na CPI. Não achou nada contra mim. A senhora é uma vergonha no Senado Federal. E não estou atacando as mulheres, não. Não venha com essa historinha de atacar mulheres, de se vitimizar”, disse Bolsonaro.
Tebet pediu direito de resposta, mas, ao final da participação do presidente, o mediador do debate informou que o pedido não foi aceito, em meio a manifestações de assessores dos candidatos presentes no estúdio.
“Ainda vamos conversar”, diz Lula a Ciro, que chama ex-presidente de “encantador de serpentes”
Durante o segundo bloco do debate, o ex-presidente Lula foi questionado sobre as chances de uma aproximação maior dos partidos de esquerda e uma possível conciliação com Ciro Gomes. O petista disse que espera que o pedetista “sente para conversar e costurar essa aliança”.
“Eu falo sempre do Ciro Gomes uma coisa: eu tenho muito respeito pelo Ciro Gomes. Sou grato a ele, que esteve no governo comigo de 2003 a 2006. Mas o Ciro, neste instante, não está conosco e lançou candidatura própria. Eu estou construindo uma aliança com dez partidos políticos, todos de esquerda e progressistas e vamos ver se ainda conseguimos atrair o PDT para participar conosco do governo”, disse Lula.
“Tem três pessoas no Brasil que eu trato com deferência: Mário Covas, [Roberto] Requião e Ciro Gomes. Eles podem até falar mal de mim, que eu não levo em conta, porque eu sei que eles têm o coração mais mole que a língua. Então, é o seguinte: eu espero que, nestas eleições, o Ciro não vá para Paris, que fique, e a gente sente para conversar e costurar essa aliança política que ele sabe que vai ser construída”, acrescentou o petista.
Em resposta, Ciro disse que Lula é um “encantador de serpentes” e que ele acabou “se corrompendo” ao longo do tempo. “O Lula é um encantador de serpentes. Vai na emoção das pessoas, cativa. Nós temos uma relação bastante antiga, e ele quer sempre trazer para o lado pessoal, mas não é pessoal”, afirmou o pedetista.
“Eu atribuo ao Lula a contradição econômica, a contradição moral dele e do PT: o Bolsonaro. Eu não acho que o Bolsonaro desceu de Marte, com essas contradições todas. A razão do meu distanciamento é que, infelizmente, o Lula se deixou corromper, está com Geddel Vieira Lima, Renan Calheiros, Eunício Oliveira”, completou Ciro.
Bolsonaro fala em manter Auxílio Brasil; Lula diz que orçamento enviado pelo presidente não prevê recursos
No segundo bloco do debate, o presidente Bolsonaro foi questionado sobre a manutenção do auxílio de R$ 600 para famílias na linha da pobreza. O candidato à reeleição afirmou que os recursos só são possíveis “não roubando o povo brasileiro”.
“Tenho conversado com a equipe econômica dentro da responsabilidade fiscal. Quando passamos para R$ 400, ninguém acreditava, e nós renegociamos os precatórios, contra o voto do PT, porque, quanto pior tiver o povo, melhor é para eles fazerem política em cima disso. Como eu consegui recursos? Não roubando, não metendo a mão no bolso do brasileiro”, disse.
O ex-presidente Lula, selecionado para comentar a resposta, disse que a manutenção não está na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023 e afirmou que Bolsonaro “adora citar números absurdos”.
“É importante lembrar que a manutenção do auxílio de R$ 600 não está na LDO mandada ao Congresso. Ou seja, há uma mentira no ar”, declarou o candidato petista. “O candidato [Bolsonaro] adora citar números absurdos que nem ele acredita”, acrescentou.
Ciro questiona Bolsonaro sobre fome; presidente fala em “números exagerados”
No primeiro bloco do debate, o candidato Ciro Gomes questionou o presidente Bolsonaro (PL) sobre os números da fome no Brasil. Na sexta-feira (26), durante participação em um podcast, Bolsonaro havia afirmado que “ninguém no Brasil passa fome”.
Ciro questionou: “O senhor não acha que isso pode ser interpretado como conivência?” Bolsonaro, então, respondeu que os “números são exagerados” e criticou a “política do fica em casa” que o presidente atribui a governadores que adotaram medidas de restrição durante a fase mais aguda da pandemia de Covid-19.
“Cada um interpreta as informações como acha melhor. E a inflação? Tem que se falar da política do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois’. Agora, mesmo assim, a inflação do Brasil é uma das menores do mundo, menor até do que a do Estados Unidos. Nós estamos colaborando com a geração de empregos. O nosso PIB está crescendo e nós fizemos milagres durante a pandemia”, acrescentou o presidente.
“Lamentamos a morte, mas investimos para que empregos não fossem excluídos. Atendemos os mais necessitados. O número de pessoas na extrema pobreza aumentou, e o Brasil diminuiu. E, no meu governo, alguns passam fome, sim, não nesse número exagerado aí. Querer fazer demagogia com números fica complicado. Aí, é inadmissível”, respondeu Bolsonaro.
Bolsonaro diz que governo Lula foi o mais corrupto; petista defende inclusão social
Candidato à reeleição, Bolsonaro disse, no primeiro bloco do debate presidencial, que o governo de Lula foi o “mais corrupto da história do Brasil”. A declaração foi feita no primeiro bloco do encontro, na abertura da primeira rodada de perguntas entre os candidatos.
“Segundo o [ex-ministro Antônio] Palocci, tudo no seu governo foi aparelhado, exceto o Banco Central. Então, se todo mundo fazia mal feito: roubava, desviava, só o ex-presidente não sabia?”, questionou Bolsonaro. “O seu governo foi marcado pela cleptocracia, ou seja, um governo à base de roubo, e essa roubalheira era pra conseguir apoio dentro do Parlamento. O seu governo foi o governo mais corrupto da história do Brasil”, acrescentou.
Lula, em resposta, afirmou que o governo dele foi marcado pela “maior política de inclusão social” e citou investimentos em educação e programas sociais.
“O presidente deveria estar informado que foi no nosso o governo que a Petrobrás ganhou o tamanho que ganhou, com a capitalização de R$ 70 bilhões para crescer. O presidente precisava saber que o meu governo foi marcado pela maior política de inclusão social, pela maior geração de emprego, pelo maior aumento de salário mínimo, pelo maior investimento na agricultura familiar, pelo maior investimento na Lei Geral da Pequena Empresa”, disse o ex-presidente.
“O nosso governo foi o que mais fez investimentos na educação, foram 18 universidades federais novas, 178 campus e 422 escolas técnicas que fez uma revolução neste país. O meu governo deveria ser conhecido exatamente por isso, porque, quando eu cheguei na Presidência, a gente tinha 3,5 milhões de estudantes na universidade e, quando eu saí, tinha 8,5 milhões de pessoas na universidade. É exatamente isso a marca do meu governo”, acrescentou Lula.
“Esse é o país que o atual presidente está destruindo. O país que eu deixei é o país que o povo tem saudade, é o país em que o povo tinha o direito de viver dignamente de cabeça erguida”, completou o petista.