ESTADÃO | O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mais uma vez sinalizou que as revisões para baixo nas projeções longas de inflação abrem espaço para o BC começar a cortar a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, mas reforçou que o Copom não tomará decisões artificialmente.
“Temos que manter a inflação sob controle. O trabalho está sendo feito e entendemos que está no caminho certo. Há um cenário bom, com crescimento sendo revisado para cima e inflação sendo revisada para baixo. Isso abre espaço. Estamos perto da reunião do Copom, eu sou um voto de nove, e não posso adiantar nada do que pode ser feito”, afirmou, em evento promovido pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV).
Campos Neto repetiu que o custo de não combater inflação é muito elevado, e voltou argumentar que a Selic – apesar de “super alta” – é hoje menor que a média histórica na comparação com outros países. “Entendendo a insatisfação com os juros, mas é preciso ter paciência. Entendo que as empresas estão sentido muito, algumas mais que outras, e vamos fazer uma força para atingirmos um ambiente de estabilidade para todos o mais rápido possível, mas fazer de forma artificial não alcançará o resultado esperado”, enfatizou.
Ele reforçou que a tarefa do BC é fazer inflação convergir para a meta. “Tentamos fazer o processo o antes e mais rápido para ter o mínimo de dor possível”, repetiu. “Lembrando é uma decisão de colegiado [no Copom], que o debate é amplo e técnico”, acrescentou.
Campos Neto disse que a inflação brasileira está caindo de uma maneira mais lenta nos últimos meses, mas a partir de um patamar mais baixo. “Quando a gente tira alimentos e energia, a inflação brasileira tem uma dificuldade de cair. Está ali no topo como uma das mais altas”, ressaltou.
Após a surpresa de maio, quando a inflação desacelerou para 0,23%, Campos Neto disse que o IPCA deve provavelmente ficar negativo em junho, mas depois volta a subir. “Depois de junho, a inflação deve voltar a subir lentamente e terminar o ano subindo. Teremos meses entre 0,4% e 0,5% de alta de inflação no fim do ano, o que vai fazer o resultado do ano ficar em torno de 4,5%. Isso é uma melhora em relação ao que a gente esperava anteriormente, mas é melhora lenta”, afirmou.
O presidente do Banco Central destacou que as notícias para a inflação e as projeções de longo prazo do mercado começaram a melhorar, abrindo espaço para a atuação do Copom sobre a Selic, hoje em 13,75% ao ano.
“A taxa de juros longa tem caído bastante. Isso leva um pouco de tempo até se refletir nos empréstimos dos bancos, mas começa a haver uma queda. Isso significa que o mercado dá credibilidade ao que tem sido feito, abrindo espaço para uma atuação de política monetária à frente”, afirmou.
Para ele, em comparação com o mundo avançado, a inflação brasileira está menor pela primeira na história. “O trabalho que foi feito teve sua eficácia”, considerou.
Campos Neto lembrou que a América Latina aumentou os juros antes no atual ciclo. Por isso, o mercado já espera cortes de juros no Brasil, México, Chile e Colômbia. “Na Colômbia e no México a inflação surpreendeu para cima, no Chile e no Brasil a inflação de núcleos ainda está alta. Mas no mundo desenvolvido quase não se espera queda nos juros”, comparou.