Pequim protesta contra novo pacote de ajuda militar americana à ilha autônoma que considera sua
Entre ontem (25) e hoje (26) a China realizou a maior mobilização aérea de sua história contra as defesas de Taiwan em 24 horas. 71 aviões de combate decolaram e mais da metade invadiu a fronteira virtual que divide a ilha que o governo de Pequim considera sua propriedade.
De acordo com o Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação Popular, a ação visou alertar Taipé após os Estados Unidos aprovarem um pacote com mais ajuda militar à ilha. Ainda que os americanos não a considerem independente, ao mesmo tempo prometem proteger o território de um ataque chinês.
Na semana passada, o governo Joe Biden assinou o Ato de Resiliência Ampliada de Taiwan, instrumento do orçamento militar aprovado no Senado que prevê US$ 10 bilhões à ilha nos próximos cinco anos.
Segundo o Ministério da Defesa taiwanês, 47 aviões cruzaram a chamada linha mediana, que divide sem reconhecimento oficial as áreas chinesa e de Taipé, sobre o estreito marítimo que separa os territórios.
Foi um exercício especialmente elaborado, com caças J-11, Su-30, J-10 e J-16. Também estiveram envolvidos aviões-radar, aparelhos de guerra antissubmarino e drones de reconhecimento. Taiwan, segundo o ministério, mobilizou uma cifra incerta de caças e ativou defesas aéreas terrestres e em navios.
Assim, o ano chega a mais um ponto de tensão na ilha, destino dos derrotados na Revolução Chinesa de 1949. O regime em Pequim opera pelo princípio de que só há uma China, e mesmo os aliados de Taipé em Washington não reconhecem sua soberania política, porque mantêm relações com os chineses.
Sob Biden, que assumiu o cargo no ano passado, a Guerra Fria 2.0 iniciada por Donald Trump contra a assertividade do líder Xi Jinping em 2017 ganhou contornos mais definidos. Na gestão do atual presidente americano, foram aprovadas mais de dez vendas de armas avançadas a Taipé.
Em agosto, o embate escalou significativamente quando a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, decidiu fazer a primeira visita de uma pessoa em seu cargo em 25 anos a Taiwan.
O gesto de apoio político, que publicamente não foi secundado por Biden, colocou as forças de Xi em alerta quase permanente no estreito, após os maiores exercícios aeronavais da história na região.
O acirramento havia sido algo aliviado depois de uma reunião entre o chinês e o americano em Bali, no qual Xi buscou aproximar-se de Biden em um momento de dificuldades econômicas —e a debacle de sua política de Covid zero, que está levando caos e incerteza à China, ainda nem havia ocorrido.
Na reunião, o dirigente chinês reafirmou seu comprometimento em reintegrar Taiwan à parte continental do gigante asiático, mas também fez menções menos efusivas em relação à aliada Rússia na Guerra da Ucrânia, ainda que mantenha grande proximidade com o Kremlin.
Em toda a região, essa dinâmica reverbera: os japoneses, de olho nas intenções chinesas em Taiwan, resolveram dobrar em cinco anos seu gasto militar. O país e a Coreia do Sul têm lidado com as crescentes patrulhas conjuntas sino-russas, que testam sua prontidão nos ares.
Por fim, temperando tudo, as provocações de um aliado menor de Pequim, a ditadura da Coreia do Norte, só fizeram crescer com lançamentos de mísseis diversos neste ano. Nesta segunda, caças sul-coreanos foram mobilizados contra o que foi reportado como uma invasão de seu espaço aéreo por aviões do norte.