Nas diligências que fizeram em Alagoas, os integrantes da CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) descobriram que o Governo do Estado tem fomentado e financiado ações destes manifestantes na capital e no interior.
Também flagraram trabalho semelhante ao de escravidão em um acampamento e confirmaram a denúncioa de que assentamentos no município de Atalaia possuem estruturas diferentes para os trabalhadores em comparação aos que são reservados aos líderes do movimento social.
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A agenda dos parlamentares foi proposta e aprovada a partir de requerimento apresentado pelo deputado federal Delegado Fabio Costa (PP), 2º vice-presidente da CPI.
Antes de visitar as terras de reforma agrária no interior, os parlamentares da comissão estiveram na sede do Iteral [Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas] para averiguar a denúncia de que o Estado estaria bancando as atividades do movimento sem terra.
“Confirmamos que o Governo de Alagoas está fomentando e financiando esses manifestantes. Foram pagos, aproximadamente, R$ 6 milhões a uma única empresa de transportes, contratada mediante dispensa de licitação. Em um dos contratos estava descrito que a finalidade do pagamento seria o transporte dos manifestantes, de ida e volta”, destacou o Delegado Fabio Costa, acrescentando que essas informações foram confirmadas com dados extraídos do Portal da Transparência do Estado de Alagoas.
O deputado acrescenta que o Estado de Alagoas, em contrato assinado pelo Iteral, estaria financiando o movimento sem terra para o transporte, aluguel de tendas e fornecimento de alimentação, inclusive para garantir que os manifestantes pudessem permanecer, por muito tempo, na Praça Visconde de Sinimbu, no centro de Maceió.
“Com este fomento, o Governo tem garantido toda a infraestrutura necessária, apesar de estes movimentos sociais terem litígio com o Estado, requerendo reforma agrária para que essas pessoas pudessem produzir. Porém, não é isso que acontece em Alagoas. Não é uma causa justa o que acontece aqui, mas uma causa política, com interesses nos votos e na militância política”, reforça.
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No acampamento Ouricuri, em Atalaia, ocupado há mais de 20 anos, os integrantes da CPI constataram que há discrepância do movimento no trato com os assentados. Segundo os relatos, a área destinada à liderança tem infraestrutura superior a dos trabalhadores. Os parlamentares conversaram com um acampado que vive em situação de miséria e que denuncia trabalho forçado, beirando a escravidão.
“O relato é forte do trabalhador. Ele chorou ao denunciar que trabalha em uma roça coletiva, criada pelos líderes do movimento sem terra, mas que não ganha nada por isso. A colheita é vendida sem que os acampados vejam a cor do dinheiro”, revelou Fabio Costa.
Uma das lideranças do movimento esteve no local enquanto a comitiva visitava o assentamento e negou irregularidades. De acordo com ela, ao longo de duas décadas ocorreram 12 despejos no local, mas as famílias estão resistindo e produzindo, “vivendo em condições muito melhores do que muitos que vivem nas periferias de Maceió” (palavras dela).
Os parlamentares também estiveram na sede do Incra em Alagoas e fiscalizaram os alojamentos do curso de bacharelado em Agroecologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), ofertado por meio do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera).
A intenção da CPI do MST em Alagoas era averiguar indícios de irregularidades no processo de Reforma Agrária no Estado e na aplicação de recursos públicos. Participaram da diligência o presidente da comissão, deputado federal Zucco (Republicanos-RS), o relator Ricardo Salles (PL-SP) e o Delegado Fabio Costa.
A meta é investigar possíveis crimes praticados por líderes sem-terra e autoridades públicas que supostamente estariam oferecendo estrutura e, de alguma forma, financiando esses movimentos.