Queda do desemprego é puxada pela informalidade, que atinge 40% dos trabalhadores do país. Além disso, falta trabalho para 10,1 milhões de brasileiros.
G1 – A taxa de desemprego no Brasil recuou para 9,3% no trimestre encerrado em junho – menor patamar para um segundo trimestre desde 2015, quando ficou em 8,4%) – segundo dados divulgados nesta sexta-feira (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A falta de trabalho, no entanto, ainda atinge 10,1 milhões de pessoas, uma queda de 15,6% (1,9 milhão) em relação aos três meses anteriores.
Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). No levantamento anterior, referente ao trimestre encerrado em maio, a taxa de desemprego estava em 9,8%, atingindo 10,6 milhões de pessoas. Na mínima da série histórica, registrada em 2014, a taxa chegou a 6,5%.
“A retração da taxa de desocupação no segundo trimestre segue movimento já observado em outros anos. Em 2022, contudo, a queda mais acentuada dessa taxa foi provocada pelo avanço significativo da população ocupada em relação ao primeiro trimestre”, destacou, em nota, a coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy.
Principais destaques da pesquisa
- Desemprego caiu para 9,3%, menor patamar para um 2º trimestre desde 2015
- Número de desempregados recuou para 10,1 milhão de pessoas
- Contingente de pessoas ocupadas bateu recorde, em 98,3 milhões
- População subutilizada caiu para 24,7 milhões de pessoas
- Pessoas fora da força de trabalho caíram 1,1%, para 67,7 milhões de pessoas
- População desalentada (que desistiu de procurar trabalho) foi estimada em 4,3 milhões
- Taxa de informalidade foi de 40% da população ocupada
- Número de empregados sem carteira assinada no setor privado foi o maior da série (13 milhões)
- Trabalhadores por conta própria atingiram 25,7 milhões
- Número de trabalhadores domésticos subiu para 5,9 milhões de pessoas
- Empregadores ficaram estáveis em 4,2 milhões
- Rendimento real habitual caiu 5,1% no ano
Precariedade do mercado de trabalho
A população ocupada chegou a 98,3 milhões de pessoas, o maior nível da série histórica da pesquisa, em 2012. Os dados do IBGE, no entanto, mostram a fragilidade desse crescimento: o número de trabalhadores informais também foi o maior da série, estimado em 39,3 milhões, 1,1 milhão de pessoas a mais que no trimestre anterior – levando a taxa de informalidade a 40%.
Fazem parte dessa população os trabalhadores sem carteira assinada, empregadores e conta própria sem CNPJ, além de trabalhadores familiares auxiliares.
“Nesse segundo trimestre, houve a retomada do crescimento do número de trabalhadores por conta própria sem CNPJ, que havia caído no primeiro trimestre. Além disso, outras categorias principais da informalidade, que são os empregados sem carteira no setor privado e os trabalhadores domésticos sem carteira, continuaram aumentando”, Adriana Beringuy.
Também atingiram recorde da série:
- os empregados sem carteira assinada no setor privado (13 milhões de pessoas, alta de 6,8%)
- o número de trabalhadores por conta própria, somados formais e informais (25,7 milhões, alta de 1,7%
Já o número de trabalhadores domésticos sem carteira cresceu 4,3% no período, o equivalente a 180 mil pessoas. Com a alta, essa categoria passou a ser formada por 4,4 milhões de trabalhadores.
Na comparação com o 1º trimestre deste ano, destacou-se o crescimento do número de trabalhadores ocupados no setor público – 600 mil a mais. Questionada sobre esse aumento expressivo num contexto de ajuste fiscal, a coordenadora da pesquisa ponderou que é sazonal a expansão desse grupo no 2º trimestre de cada ano e que o contexto atual justifica que ela tenha sido maior este ano.
“Esse aumento da população ocupada no setor público foi puxado pelos segmentos de educação e saúde, que foram muito afetados nos dois últimos anos pela pandemia. Com a intensificação do retorno das atividades presenciais este ano, precisou-se reestruturar o quadro de pessoal, sobretudo nas instituições de ensino. É importante lembrar que a educação básica é majoritariamente pública no Brasil”, explicou Adriana.
Rendimento
O rendimento médio real habitual (rendimento médio recebido por cada trabalhador por todos os trabalhos) foi estimado em R$ 2.652, estável na comparação com o primeiro trimestre, mas uma queda de 5,1% em relação a igual trimestre do ano passado.
Já a massa de rendimento (total dos rendimentos pagos aos trabalhadores) chegou a R$ 255,7 bilhões, um aumento de 4,4% frente ao trimestre anterior e de 4,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
A pesquisadora do IBGE explica que os resultados refletem o aumento da ocupação no trimestre.
“Embora não haja aumento no rendimento médio dos trabalhadores, houve crescimento da massa de rendimento porque o número de pessoas trabalhando é bastante elevado”, ressaltou.
Pnad x Caged
Na quinta-feira, o Ministério do Trabalho informou que o país gerou 277,9 mil empregos com carteira assinada em junho – uma piora em relação a junho do ano passado, quando foram criados 317,8 mil empregos formais.
Os dados, no entanto, não são comparáveis com os números do desemprego divulgados nesta sexta pelo IBGE. Isso porque os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados consideram os trabalhadores com carteira assinada, isto é, não incluem os informais.
Os números do Caged são coletados das empresas e abarcam o setor privado com carteira assinada, enquanto que os dados da Pnad são obtidos por meio de pesquisa domiciliar e abrangem também o setor informal da economia.