Inflação oficial do país aumentou gradativamente entre 2018 e 2022. Famílias parecem ‘sentir’ mais porque relação entre salários e preços está mais apertada
A inflação no Brasil está em disparada. Em cinco anos, o IPCA saiu de 3,75% em 2018 para 11,30% nos últimos doze meses. Em 2021, a taxa era de 10,06%. Com essa inflação tão grande, o real perdeu 27,57% do seu valor e do seu poder de compra.
Essa queda no poder de compra é sentida todos os dias para os brasileiros, com produtos muito mais caros que em 2018. E a alta é sentida em todas as faixas de renda da sociedade.
Enquanto famílias mais pobres sentem mais diretamente nos preços dos alimentos e do gás de cozinha, onde em 11 capitais, os itens da cesta básica já custavam mais de 50% do salário mínimo, nas famílias de renda alta, sente-se mais no setor de transporte, com o aumento grande do valor dos combustíveis.
O economista Fabio Louzada, analista CNPI e CEO da escola Eu Me Banco, explica que o brasileiro parece “sentir mais” o peso da inflação porque vivemos “o pior cenário em termos de inflação versus reajuste de salários.”
“O brasileiro sente mais a inflação porque está nos produtos e serviços que a população mais consome no dia a dia: gasolina, gás de cozinha, alimentos, energia elétrica e aluguel. Complementando, vem o salário do consumidor que teve poucos reajustes nesse período, principalmente por conta da pandemia”, explica Louzada.
“Nos outros anos, por mais que a inflação subisse, os salários também subiam, então afetava um pouco menos o poder de compra.”
O aumento da inflação é um mix de fatores, sejam eles nacionais ou internacionais. “Quanto maior a instabilidade global, mais os investidores tiram dinheiro dos emergentes. A pandemia foi o principal fator nesse período, seguida da guerra na Ucrânia”, diz Louzada.
Crise hídrica e fenômenos climáticos em 2021, que alongaram períodos de secas e cheias, também afetaram a produção de alimentos e energia elétrica, diminuindo a oferta de produtos no mercado.
Além disso, o “aperto monetário” feito pelo Banco Central, com aumento da taxa de juros, não está sendo de fato efetivo para reduzir a inflação, avalia Patrícia Campos, supervisora da área de preços do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
“A política adotada é o aumento da taxa de juros, mas ela não trata a inflação na sua causa porque a economia brasileira está parada”, explica.
Famílias cortam gastos
Os juros altos também afetam o poder de compra do brasileiro, que conseguem consumir menos produtos, já que os empréstimos também ficam mais caros.
Sentindo o poder de compra diminuir, mais de 60% da população teve que cortar gastos nos últimos seis meses, segundo uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) no final de abril. E mais de 30% teve que fazer cortes “grandes ou muito grandes” nas despesas.