Estadão | Mensagens publicadas nesta sexta-feira, 14, em um grupo de WhatsApp de deputados federais do União Brasil revelaram o grau de desgaste na relação entre os parlamentares e a cúpula do partido. Em um dos posts, o presidente do União Brasil, Luciano Bivar (PE), aconselhou o deputado Danilo Forte (CE), a tirar o “pino” da granada e pôr o explosivo no próprio bolso, antes de detonar a legenda.
“Cara, estamos observando que vc está em processo de desembarque do Partido na janela partidária, te aconselho se esse for o intento com palavras bonitas repletas de veneno, que não tire o pino da granada e saia do Partido, sugiro que tire o pino e ponha no bolso e saia com ela”, escreveu Bivar no grupo. A troca de mensagens que escancarou a crise foi obtida pelo Estadão.
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Bivar e Forte bateram boca virtualmente depois que o deputado cearense publicou no grupo reportagens mostrando o agravamento da disputa no partido, formado a partir da fusão do DEM com o PSL, em 2021. A briga foi exposta com todas as letras após o pedido de desfiliação de seis deputados do Rio, incluindo a ministra do Turismo, Daniela Carneiro. Nos corredores do Congresso, a sigla já é chamada de “Desunião”.
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“Precisamos apreciar uma prestação de contas”, escreveu Forte ao comentar trecho de nota publicada na revista IstoÉ, insinuando desvio de recursos do Fundo Eleitoral pela direção do partido. A nota dizia que uma das armas a serem usadas pelos deputados insatisfeitos do Rio, na ação impetrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para pedir desfiliação por justa causa, era um escândalo envolvendo o vice-presidente do União Brasil, Antônio Rueda, em irregularidades com o Fundo Eleitoral. De acordo com o texto, a polêmica também atingiria o deputado estadual Márcio Canella, ex-aliado do prefeito de Belfort Roxo, Wagner Carneiro, o Waguinho, marido da ministra do Turismo.
“Danilo, o que vc repostou no grupo é muito grave contra o partido. Vc precisa ter muito cuidado para não reverbera (sic) notícias não comprovadas para não se tornar um fdp”, protestou Bivar. O presidente do União Brasil, que também é deputado, atribuiu a “onda de discenso” (sic) na imprensa a “no máximo meia dúzia de pessoas”.
Forte rebateu Bivar, sob o argumento de que onde há dinheiro público é preciso “transparência e fiscalização”. Em 2023, o União Brasil deve receber aproximadamente R$ 120 milhões do Fundo Partidário. Os recursos são provenientes do Orçamento da União, além de multas, penalidades a partidos e doações.
“Em se tratando de um partido político, a postura dos dirigentes se reflete em todos os militantes e principalmente nos candidatos que são votados. Ética e honradez são princípios inegáveis, estou a disposição do líder p auditar o q achares necessário. Obrigado p respeito”, insistiu Forte na mensagem de WhatsApp.
Novata na legenda, a deputada Silvye Alves (GO) tentou apartar a briga. “Meus amigos, tenhamos calma, reflexão!!!”, pediu ela. A convenção que renovará a cúpula nacional do União Brasil ocorrerá em maio de 2024. Até lá, ao que tudo indica, a briga vai continuar.
Guerra
Ao Estadão, Forte disse que nada disso ocorreria se a direção do partido tivesse “diálogo” com suas bases. “Eu nem servi o Exército. Nem sei como se puxa o pino de uma granada”, afirmou o deputado, que é secretário-geral do União Brasil no Ceará. “O meu debate é em torno de ideias. Se Bivar quiser debater ideias, estou aqui. Se quiser ir para a guerra, não conte comigo.”
Forte também negou que queira sair do União Brasil. “Longe disso. O que não podemos admitir é que o partido fuja do debate nem expulse seus militantes”, criticou. Bivar, por sua vez, afirmou que usou apenas uma imagem simbólica ao se referir à granada. “Se ele quer sair na janela partidária, que não toque fogo no partido e vá embora”, resumiu. Janela partidária é o período em que deputados podem mudar de legenda sem correr o risco de perder o mandato.
Como mostrou o Estadão, o União Brasil enfrenta disputas no Rio, em Pernambuco, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Amapá. Em São Paulo, o partido sofre um processo de desidratação após a derrota do PSDB na eleição para o Palácio dos Bandeirantes. No Mato Grosso do Sul, a senadora Soraya Thronicke, que foi candidata do União Brasil à Presidência, ameaça deixar o partido e já está conversando com outras siglas, como PSD e Podemos, como revelou a Coluna do Estadão.
Presidente do União Brasil no Mato Grosso do Sul, Soraya entrou em rota de colisão com o grupo de Bivar após tentar eleger um aliado para sua cadeira. A Executiva Nacional, no entanto, deu razão ao grupo de oposição, liderado pela ex-deputada Rose Modesto, do qual também faz parte o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, como revelou a Coluna do Estadão. A aliados, Soraya disse que não pode permanecer no partido se não for respeitada.