Delegado ouvido pela Comissão de Ética da Câmara afirma que o que vereador classifica como “experimento social” coloca pessoas em risco e é ilegal
O Globo – No dia em que o delegado Luis Maurício Armond, da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), e o policial militar Pablo Foligno prestaram depoimento na Comissão de Ética da Câmara Municipal do Rio, no processo contra Gabriel Monteiro, o vereador confirmou para os jornalistas que ofereceu dinheiro para que um morador em situação de rua praticasse um crime na Lapa. Gabriel Monteiro afirmou “Paguei sim”, mas disse que se tratava de um experimento social, uma campanha contra o feminicídio.
O delegado Luis Maurício Armond, convidado pela defesa do vereador, foi ouvido na tarde desta terça-feira pela Comissão que apura se Gabriel Monteiro cometeu ou não quebra de decoro parlamentar. Ao final do depoimento, o delegado falou com os jornalistas e explicou que um dos crimes pelo qual o vereador está sendo investigado é a exposição de pessoas em estado de vulnerabilidade. Segundo o Armond, do ponto de vista da lei, forjar um crime é ilegal, independente de se tratar ou não de um experimento.
— A simulação tudo bem, mas a exposição é real. Está se simulando uma situação mas nem todos os personagens, pelo que está sendo apurado, estariam cientes disso. Então não seria só uma encenação, teria a possibilidade de acontecimentos imprevisíveis. O risco é real — analisou Luis Maurício Armond, delegado de polícia.
No depoimento prestado para a Comissão de Ética, o delegado relatou que além do inquérito que apura o vídeo em que Gabriel Monteiro e sua equipe forjam um crime de furto, o vereador está sendo investigado também por peculato, coação de testemunhas, suborno e estupro. De acordo com o vereador Chico Alencar, relator do processo na Comissão, o delegado confirmou em depoimento que o inquérito que investiga os vídeos que mostram Gabriel tendo relações sexuais com uma adolescente menor de idade está em fase de conclusão e há a indicação de crime sexual, com base no Estatuto da Criança e do Adolescente.
O relator afirma que, segundo o delegado, apesar da vítima ter afirmado inicialmente que Gabriel Monteiro não teria ciência da idade dela, outros elementos identificados durante a investigação indicam o contrário.
— Ele disse que a filmagem do ato sexual e o armazenamento já configuram um delito. É um cenário bastante nebuloso, complicado e com alguns elementos probatórios substantivos, como mostrou o delegado — explicou o vereador Chico Alencar.
Pablo Foligno, policial militar que integra a equipe de segurança do vereador, também prestou depoimento à Comissão de Ética da Câmara, nesta terça. Segundo os vereadores que fazem parte do Conselho, Pablo confirmou que não há uma divisão clara entre as funções de assessores parlamentares e funcionários que trabalham para a página do Youtube de Gabriel Monteiro.
Além disso, Pablo, que aparece no vídeo coagindo e empurrando o morador em situação de rua na Lapa durante a simulação proposta pelo vereador, também afirmou que é oferecido dinheiro durante os “experimentos sociais”, sem que seja explicado para os envolvidos exatamente do que se trata. No caso da Lapa, Gabriel teria oferecido R$ 400 reais ao morador em situação de rua para que ele participasse da ação. Sobre o empurrão, o policial militar disse que agiu em legítima defesa e que o homem estava com uma pedra na mão com a intenção de atingir o vereador.
Os depoimentos de Pablo Foligno e do delegado Luís Maurício Armond foram os últimos solicitados pela defesa do vereador Gabriel Monteiro ouvidos pela Comissão de Ética da Câmara. Na próxima quinta-feira, será a vez do próprio Gabriel prestar depoimento. Os vereadores que integram o Conselho vêm sendo pressionados, principalmente pelos advogados e seguidores do youtuber, para que o depoimento dele fosse aberto ao público, mas isso não vai acontecer.
— Se o relatório, aprovado pelo Conselho, pedir a punição do vereador, seja suspensão ou cassação, a decisão vai para o plenário e aí sim, haverá o tal “julgamento público”, tão solicitado pelos apoiadores do Gabriel. A democracia é o regime da transparência e nela não pode haver qualquer segredo. Em um processo jurídico-político o direito ao sigilo é fundamental para não haver constrangimento de testemunhas — afirmou o relator, vereador Chico Alencar.