Nos primeiros seis meses de 2022, foram registradas mais de 700 denúncias desses tipos em ouvidorias, o equivalente a quatro por dia
Metrópoles – Denúncias de assédio moral ou sexual recebidas por ouvidorias de órgãos do governo federal, como as reveladas pelo Metrópoles e que resultaram na demissão do agora ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, praticamente dobraram nos primeiros seis meses deste ano.
Entre 1º de janeiro e a última quarta-feira (29/6), foram registradas 704 denúncias desses tipos, segundo dados de painel da Controladoria-Geral da União (CGU) analisados pelo Metrópoles. Isso equivale a cerca de quatro queixas por dia.
Desse total, 545 tratam de assédio moral e 85 de assédio sexual.
A quantidade de casos em 2022 é 93% maior em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram computadas 364 denúncias.
Jamais houve tantas queixas como agora, segundo a série histórica da CGU, iniciada em 2015.
Somente no governo de Jair Bolsonaro (PL) – ou seja, desde 1º de janeiro de 2019 –, há registro, até agora, de 2,7 mil manifestações de assédio sexual ou moral. Dessas, 2,3 mil foram respondidas, 106 estão em tratamento e 250 restaram arquivadas.
Apenas duas foram encaminhadas para órgão externo, de acordo com o painel.
Nesse período, o Ministério da Economia lidera a lista de denúncias recebidas, com 260 manifestações.
Em seguida, aparecem no ranking a própria CGU (105), o Ministério da Educação (103), a Universidade Federal de Goiás (81), o Ministério da Justiça e Segurança Pública (65) e o Ministério da Saúde (62).
Assédio na Caixa
Desde o início da série histórica, não há registros, contudo, de denúncias de assédio moral e sexual no âmbito da Caixa Econômica Federal.
A CGU e o banco foram procurados para esclarecer essa suposta falta de dados, mas não se manifestaram até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto.
Pedro Guimarães foi exonerado do cargo de presidente da Caixa Econômica Federal na última quarta-feira (29/6), após ser denunciado por assédio sexual. O caso foi revelado com exclusividade pelo colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles.
Um grupo de funcionárias decidiu romper o silêncio e denunciar as situações pelas quais passaram. Todas elas trabalham ou atuaram em equipes que servem diretamente ao gabinete da presidência da Caixa.
As mulheres relatam toques íntimos não autorizados, abordagens inadequadas e convites heterodoxos, incompatíveis com o que deveria ser o normal na relação entre o presidente do maior banco público brasileiro e funcionárias sob seu comando.
A iniciativa dessas mulheres levou à abertura de uma investigação que está em andamento, sob sigilo, no MPF.